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O Tipo Iconográfico do Pantocrátor

Introdução

tipo iconográfico de Cristo Pantocrator é um dos mais significativos da iconografia oriental, e também o mais difundido, a ponto de se tornar quase o único tipo de Cristo que se encontra não só nas cúpulas e nas absides das igrejas, mas também sobre selos, moedas, marfins, evangeliários e outros objetos litúrgicos; é encontrado nas cenas históricas que representam Cristo nos diversos momentos da sua vida de adulto, nos diversos milagres que constelam a sua missão na Palestina da época; é encontrado sobretudo em inúmeros ícones oferecidos à veneração dos fiéis nas iconostases das igrejas e nas casas particulares. Quer esteja presente em mosaico, em afresco ou em ícones grandes ou pequenos, o tipo transmite, ao menos do século VI em diante, a mesma e idêntica figura de Cristo, reconhecível mesmo quando faltam as inscrições que normalmente devem acompanhá-la; e isso até os nossos dias.

O Cristo representado em todos os ícones é o Cristo adulto, com trinta anos de idade mais ou menos. Distingue-se pela mesma estatura do corpo, os mesmos traços somáticos - em especial os do rosto -, as mesmas roupas: todos esses traços que convergem num retrato ressaltam a sua figura histórica real; outros traços, como os símbolos e as inscrições, têm valor de retrato espiritual que põem em destaque a sua realidade de pessoa atualmente viva, transfigurada, divina e salvífica.

O ícone transmite, assim, o dogma cristológico das duas naturezas humana e divina - unidas na única Pessoa do Verbo: Filho de Deus e Deus ele próprio, consubstancial ao Pai.

Significado do nome

A esse tipo de imagem de Cristo é dado o nome genérico de «Pantocrator» tão rico de significados. O termo grego, traduzido geralmente por «Onipotente», mas que é melhor traduzir pela expressão «Oniregente», ou «Aquele que tudo rege», é um termo que se encontra já na literatura pagã. É encontrado na versão grega dos Setenta que o retoma para traduzir a expressão «Sabaoth», conferindo-lhe o significado de Deus «Dominador de todas as potências terrestres e celestes».

«Cristo Pantocrátor
Mosaico Aghia Sophia - Constantinopla»

No Novo Testamento, o termo se encontra referido preponderantemente ao Pai, mas já no Apocalipse refere-se indiretamente também ao Verbo encarnado, Redentor e Juiz universal (cf. Ap 11, 17; 21, 22). Nas suas Cartas, os apóstolos Pedro e Paulo propõem o tema do domínio absoluto de Cristo sobre toda a criação. «Jesus Cristo» - escreve Pedro -, «tendo subido ao céu, está à direita de Deus, estando-lhe sujeitos os anjos, as Dominações e as Potestades» 1Pd 3, 22). São Paulo, por sua vez, fala da «submissão de todas as coisas» (1Cor 15, 28) ao Cristo ressuscitado, afirmando que «para isto Cristo morreu e reviveu: para ser o Senhor dos mortos e dos vivos» (Rm 14, 9).

Os Padres da Igreja, que retomam o termo no início do símbolo niceno-constantinopolitano, aprofundam seu significado e ao mesmo tempo justificam a sua atribuição ao Filho. Gregório de Nissa, por exemplo, assim explica a riqueza de conteúdos do termo:

«Quando ouvimos o termo 'Pantocrator', 'Aquele que tudo rege', compreendemos com a mente que Deus mantém no ser todas as coisas: tanto as de natureza inteligível como as de natureza material. Por isso ele contém o universo; por isso tem nas mãos os confins da terra; pelo mesmo motivo ele avalia os céus com o palmo (d, 1s 40,12); por isso ele mede o mar com a mão; e também por isso abrange em si toda criatura inteligível, a fim de que todas as coisas permaneçam no ser, contidas por meio do poder que tudo abraça...»

E acrescenta:

«Quem é aquele no qual todas as coisas foram criadas e no qual tudo permanece, em quem vivemos, nos movemos e somos? Quem possui em si mesmo tudo isto que é do Pai? Não sabemos ainda, por tudo que foi dito, que aquele que é Deus sobre todas as coisas, como diz são Paulo, é nosso Senhor Jesus Cristo? Ele tem nas mãos todas as coisas do Pai, como ele mesmo diz; ele abrange absolutamente tudo com o seu amplíssimo palmo; ele rege todas as coisas que abrange e ninguém as tira da mão daquele que tudo rege. Se, pois, ele possui tudo e rege o que possui, quem é ele senão o Pantocrator, aquele que tudo rege.» (1)

Padre Carmelo Capizzi, que escreveu a monografia mais completa sobre o Pantocrator, resume assim o pensamento dos Padres a respeito do termo (2):

«A Patrística, fundando-se sobre dados do Antigo e do Novo Testamento e utilizando algumas noções e expressões da filo helenística, determinou o conceito de Pantocrator, vendo nesse epíteto divino quatro elementos conceituais: a 'onidominação', a 'onicompreensão', a 'onicontinência', e a 'onipresença'. Deus, em outras palavras, é Pantocrator porque 'domina sobre toda a criação', 'conserva tudo no ser', 'abrangendo e contendo tudo em si' e, por conseguinte, 'penetrando e enchendo tudo de si', através da sua onipotência. Além disso, a Patrística tem o mérito de ter ampliado o sujeito de atribuição de Pantocrator, passando de Deus indistintamente e Deus Pai a uma atribuição consciente e justificada ao Filho como Logos somente, ao Filho como Logos encarnado e ao Espírito Santo. Essa extensão foi fundada na identidade de natureza das três Pessoas divinas, da qual se originava uma verdade que foi formulada incisivamente por Santo Atanásio: "O mesmo Pai pelo Verbo no Espírito tudo opera e concede» (3).

Tipologia geral do Pantocrator

Segundo os cânones pictóricos, o Pantocrator é representado quase sempre em busto, mas pode ser também em meio busto ou de corpo inteiro; neste último caso ele está, as mais das vezes, sentado no trono e rodeado, às vezes, pelas hierarquias celestes, que sublinham sua majestade divina. Caracteriza-se pela auréola crucífera; pela mão direita que abençoa «à maneira grega»; e pela esquerda que segura um livro aberto ou fechado, ou mesmo um rolo. Quando o livro está aberto, o versículo evangélico que nele aparece é, as mais das vezes: «Eu sou a luz do mundo». Mas podem também aparecer outros versículos previstos nos manuais de pintura e deixados à escolha do hagiógrafo ou do comitente, como vamos ver. Os traços somáticos que distinguem a imagem do Pantocrator são aqueles típicos que encontramos nas descrições literárias, embora com algumas variantes menores.

«Mandilion»

A estatura do corpo é a tradicional, já fixada no séc. VI, no tempo de Justiniano.

O rosto, para a tradição oriental, é o do Mandilion, considerado impresso pelo próprio Cristo na toalha enquanto ainda vivia. Os traços podem ser resumidos assim: rosto alongado, sobrancelhas arqueadas, olhos grandes e abertos voltados para o espectador, nariz longo e delicado, a barba bastante longa terminando em ponta arredondada, bigode caído, cabelos ondulados que formam como uma cúpula sobre o alto da cabeça e são depois recolhidos à altura das orelhas e descem sobre os ombros (essa cabeleira é chamada, segundo Capizzi, «tipo capacete») (4). No alto da fronte -larga e alta - destacam-se muitas vezes, da cabeleira, dois, três ou mais cachos, cuja presença, atestada só para a imagem de Cristo, tem sido diversamente interpretada. As roupas que cobrem o corpo de Cristo são constituídas de três peças, as mesmas usadas na Palestina no tempo de Cristo: a túnica vestida diretamente sobre o corpo, o manto, e as sandálias, presas ao tornozelo por tiras de couro.

A mão direita, que desponta sob o manto, geralmente está erguida fazendo o gesto de bênção «à maneira grega». A mão esquerda segura um rolo, mas com maior freqüência um livro: o dos Evangelhos que contêm a Palavra do Verbo. O livro pode estar fechado ou aberto. Neste último caso nele estão escritas citações escolhidas pelo iconógrafo ou pelo comitente.

O corpo de Cristo se destaca no fundo dourado, chamado na iconografia grega «céu», para indicar que a pessoa representada se encontra agora na glória do céu. A auréola, chamada «coroa» e também «glória», desenhada com traço fino sobre o mesmo fundo dourado, é sinal da santidade do personagem. Em todas as imagens de Cristo, na auréola estão desenhados três braços de uma cruz; esta, que se tornou comum no decurso do séc. VI desde o tempo de Justiniano, é uma clara alusão à dimensão salvífica da personagem representada.

Sobre o ícone estão presentes inscrições, cuja finalidade é chamar a atenção para a identidade divina e ao mesmo tempo humana da personagem representada. Algumas inscrições, obrigatórias, são constituídas dos dois digramas do nome de Cristo IC XC, para Jesus Cristo, e do sagrado trigrama do nome de Deus revelado a Moisés no Sinai: Ο ΩΝ («Eu sou o Existente», Ex 3, 14), e inserido nos três braços visíveis da cruz introduzida na auréola. Essas inscrições são sempre em grego. As outras inscrições, facultativas, são: o nome acrescentado e as frases no livro quando este está aberto.

O lugar da representação

O Pantocrator, assim descrito, encontra-se nas mais variadas representações, mas antes de tudo no lugar de culto: a igreja. É encontrado em três pontos bem distintos: em mosaico (ou afresco), no nártex à frente da igreja; na calota da cúpula central (ou no côncavo da abside, quando falta a cúpula); em ícones portáteis, em diversas partes da iconostase. Em cada uma dessas colocações, a representação toma um sentido bem determinado pela teologia, que subentende o significado do lugar do culto como nos foi transmitida pelos grandes Padres da Igreja e por autores mais recentes, codificados, depois, nos manuais de pintura.

O Pantocrator no nártex das igrejas

As primeiras imagens de Cristo acolhem o fiel já no nártex, que precede a igreja propriamente dita. Nessa parte do templo, o ícone do Cristo Pantocrator está presente em pelo menos dois modos: nas representações, chamadas dedicatórias, e sobre a Porta, chamada Porta Régia, que introduz na nave principal do templo.

O Cristo das imagens dedicatórias está presente, as mais das vezes, na «Deésis»: o Cristo ladeado pela Theotokos e por João Batista, com gestos de súplica a ele dirigidos, apresenta-se como Juiz escatológico; as três figuras, chamadas Trimorfon, são às vezes acompanhadas da figura do fundador da igreja ou então do oferente.

Por sua vez, o Cristo representado na luneta que encima a Porta Régia se apresenta como Porta que introduz na Igreja, considerada como o redil espiritual. Cristo olha para baixo, os olhos ao mesmo tempo severos e cheios de bondade, abençoando com a mão direita e segurando o livro com a mão esquerda. O manual de pintura propõe sobre o livro aberto a seguinte inscrição: «Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, será salvo» (Jo 10, 9). É por essa porta que é introduzido o neófito que se prepara para receber o batismo.

O Pantocrator na cúpula (ou no côncavo da abside)

O Pantokrator" - mosaico na Basílica do Santo Sepulcro em Jerusalém.
«Por isso, também Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome; Para que ao nome de Jesus se dobre todo o joelho dos que estäo nos céus, e na terra, e debaixo da terra, E toda a língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai.

Entrando no templo, elevando os olhos para o alto, o Pantocrator acolhe o fiel do alto da cúpula e, às vezes, quando não há cúpula, do côncavo da abside.

A cúpula, considerada pelos orientais símbolo do céu, dá à imensa figura do Pantocrator o sentido de Pai e de Filho ao mesmo tempo, expressão da doutrina da sua consubstancialidade. Esta é assim expressa por santo Atanásio:

«O Filho está no Pai, dado que todo o ser do Filho é o que é próprio da substância do Pai, como o reflexo que vem da luz e o rio da fonte. Quem, pois, vê o Filho vê o que é próprio do Pai e compreende que o próprio ser do Filho está também no Pai como Ele próprio vem do Pai. Por outro lado, o Pai também está no Filho, já que o Filho é o que vem do Pai e que lhe é próprio, como o sol está no seu reflexo, o espírito na palavra e a fonte no rio. Portanto, aquele que vê o Filho vê o que é próprio da substância do Pai e compreende que o Pai está no Filho. Com efeito, sendo a forma e a divindade do Pai o ser mesmo do Filho, segue-se que o Filho está no Pai e o Pai no Filho.» (5).

Ele é o Altíssimo no sentido literal e também simbólico da palavra. É aquele que desce do céu, do seio da Trindade, para salvar a sua criatura e, ao mesmo tempo, aquele que, realizada a obra salvífica, torna a subir com a humanidade redimida para glorificá-la e fazê-la sentar-se à direita do Pai. É aquele que desce para o Juízo escatológico e aquele que sobe depois do Juízo, para o gozo eterno. A arte criou, aqui, uma obra de grande pujança que exprime toda a teologia cristã sobre o Cristo, Verbo eterno, Criador e, também, Salvador escatológico.

Os mais antigos exemplos de Pantocrator na cúpula

Mosaico de Cristo Pantokrátor na cúpula de Hagia Sophia - Constantinopla

Os mais antigos exemplos de Pantocrator na cúpula remontam ao século VI: trata-se de Santa de Constantinopla, da igreja dos Santos Apóstolos - também de Constantinopla -, e talvez da igreja de Santa de Odessa. Todas as três representações infelizmente desapareceram, mas delas possuímos descrições contemporâneas ou posteriores que nos permitem medir sua importância.

A representação se multiplica a partir do século IX quando, terminada a luta iconoclasta, generalizou-se na arquitetura a adoção quase exclusiva da igreja de planta central e cúpula. O século XI deixou-nos o severo Pantocrator da cúpula de Dafnes, de 1100 aproximadamente. O século XII transmitiu-nos os exemplares mais numerosos e mais perfeitos, a ponto de merecer o nome de «século do Pantocrator». Entre estes, recordemos: o Pantocrator de mosaico do côncavo absidal da Catedral de Cefalu (1130), o da cúpula da Capela Palatina de Palermo (1140), o da bacia absidal de Monreale, do final do séc. XII (cf. figura 11), etc.

Numerosas representações foram realizadas depois e se acham dispersas em algumas igrejas supérstites de Constantinopla e em todos os Países de tradição bizantina - em primeiro lugar no monte Athos -, e em não poucos países do Ocidente - sobretudo a Itália.

Significado do Pantocrator segundo L. Bouyer

Louis Bouyer, conhecido teólogo oratoriano francês, na sua pequena obra-prima intitulada Verdade dos Ícones, dá do Pantocrator a seguinte descrição:

«Infelizmente, alguns ocidentais chegaram, a propósito dessa prodigiosa figura, não só ao cúmulo da incompreensão, mas ao supremo grau da ignorância. Essas representações de Cristo, que se prolongam até o conhecido ícone, venerado pelos russos, do 'Salvador dos olhos de chama', não representam de modo algum um Juiz irado, nem feroz, mas antes, como diz o título que sempre se lhes dá: 'O Salvador'. Evidentemente, este Salvador, como também a salvação que ele traz, nada tem a ver com a fátua benignidade que um Ocidente (e também, aliás, um Oriente!) decadente devia mais tarde colocar sob esse título. A gravidade do mal, do pecado - satânico como também humano -, que ele teve de vencer, se reflete e se supera na sua majestade. Mas essa majestade não é mais aquela de um soberano terreno, exaltado até o ápice do seu vigor físico e do seu esplendor material: é a de Deus mesmo que se revela, numa humanidade totalmente espiritualizada, como o "Totalmente outro" e também o 'summum fascinans'. Numa palavra, é o triunfo da visão monástica... Para quem sabe ver, na figura sublime entre todas, a de Cefalu, como na da Nea Moni, manifesta-se que este Salvador não abateu os poderes da iniqüidade, senão para melhor atrair-nos à sua santidade, a qual faz um todo com o ágape - o amor divino. E, evidentemente, esse 'amor' nada tem a ver com um sentimentalismo fácil! Ademais, esse Pantocrator reflete indiscutivelmente o evangelho da reconciliação: a sua mão direita erguida, para abençoar e não para condenar, longe de rejeitar o homem, convida-o a elevar-se até ele.» (6).

As inscrições em torno do Pantocrator

Outro modo de entender o sentido teológico do Pantocrator que reina na cúpula é constituído das inscrições que o acompanham. Estas são constituídas dos habituais digramas IC XC, do sagrado trigrama Ο ΩΝ, do nome acrescentado O ΠANTOKPATOP, e sobretudo das longas inscrições desenhadas em grandes caracteres sobre frisos que circundam a parte inferior da cúpula.

Essas inscrições são muito diversas, tiradas dos livros do Antigo e do Novo Testamento. Os Manuais de pintura recolheram as principais. Foti Kontoglou, na sua Ekphrasis, propõe a seguinte lista:

Em torno do Pantocrator escreve sobre um friso as palavras seguintes:

  1. «Do céu o Senhor contemplou, viu os filhos dos homens. Do lugar de sua morada ele observa os habitantes todos da terra: ele forma o coração de cada um e discerne todos os seus atos' (Sl 33, 13-15).

Podes também escrever outras palavras proféticas, como as seguintes:

  1. «Do céu, Deus se inclina sobre os filhos de Adão, para ver se há um sensato, alguém que busque a Deus» (Sl 53, 3).
  2. «Para sempre seja bendito o seu Nome, e desde antes do nascer do sol o seu Nome permanece» (Sl 72,19).
  3. «Deus seja glorificado na assembléia dos Santos, é grande e terrível entre todos os que os rodeiam» (Sl 89, 8).
  4. «Antes de mim nenhum Deus foi formado e depois de mim não haverá nenhum. Eu sou Deus e fora de mim não há nenhum Salvado» (Is 43,10-11).
  5. «Fui eu que fiz a terra e criei o homem sobre ela; foram as minhas mãos que estenderam os céus, eu é que dou ordens a todos os astros» (Is 45,12).
  6. «O céu é o meu trono, e a terra o escabelo dos meus pés. Que casa me poderíeis construir, que lugar, para o meu repouso?» (Is 66, 1).
  7. «Do levantar ao pôr-do-sol, meu Nome é glorificado entre as nações, e em todo lugar é oferecido incenso ao meu Nome» (Ml 1, 11).

A lista se encerra com esta anotação: Às vezes, no lugar desse friso com a inscrição, O ΠANTOKPATOP é circundado de um colorido arco-íris, segundo a descrição profética.

O Pantocrator sobre a iconostase

Sobre a iconostase o ícone de Cristo Pantocrator, em busto ou de corpo inteiro, ocupa um lugar de primeira ordem em ao menos duas representações: à direita da Porta Real na fileira chamada local em contato direto com os fiéis que ocupam a igreja, e na fileira chamada da Deésis.

O Pantocrator à direita (de quem olha) da Porta Real, tem uma função especificamente litúrgica e eucarística. Diante dela o sacerdote recita as preces das Horas do Ofício, e ela o introduz no santuário antes de celebrar a Divina Liturgia; diante dela a comunhão ao corpo e ao sangue de Cristo é distribuída aos fiéis; também a bênção final do sacerdote, que imita o gesto de Cristo, é concedida aos fiéis em nome do próprio Cristo.

O Pantocrator da fileira superior, chamada fileira da Deésis é rodeado de pelo menos duas figuras: à sua direita pela Theotokos, à sua esquerda por João Batista, para ele voltados em forma de súplica (é este o sentido da palavra deésis). Muitas vezes são acrescentadas outras personagens como apóstolos, anjos e santos; o conjunto forma uma Deésis ampliada na qual a figura central de Cristo tem o aspecto do Juiz. Nas iconostases russas, as figuras estão em pé, e o Cristo toma a forma do Cristo na glória: o mesmo que - rodeado das potestades celestes deve vir no final dos tempos para julgar os vivos e os mortos .

As inscrições e os nomes acrescentados

O ícone do Pantocrator da Porta Real é as mais das vezes enriquecido de duas inscrições diversas: a do nome acrescentado e a do livro aberto. Os nomes acrescentados são de grande riqueza. Os manuais de pintura indicam os seguintes, acrescentados ao nome de Cristo IC XC:

O Pantocrator (Aquele que tudo rege), O Eleimon (o Misericordioso), O Zoodotes (o Vivificante, ou o que dá vida), O Fotodotes (o iluminador, ou o que dá luz), O Sotir tou kosmou (o Salvador do mundo), O Philanthropos (o Amigo dos homens), E Chora ton zonton (a Terra dos viventes), O Emmanouil (o Emanuel), O Megalis Boulis Aggelos (o Anjo, ou Mensageiro, do Grande Conselho), O Dikaios Krites (o justo Juiz), O Megas Archiereus (o Sumo Sacerdote), O Basileus ton basileuonton (o Rei dos reinantes), O Psychosostes (o Salvador das almas) (8).

Note-se que esses nomes são apenas indicativos e não esgotam a riqueza dos nomes presentes nos inúmeros ícones que chegaram até nós. Entre os outros nomes, que são as mais das vezes nomes dados a igrejas e mosteiros - alguns dos quais tiveram uma grande celebridade -, citemos ainda os seguintes:

  • Luz do mundo;
  • Sabedoria de Deus;
  • Antigo de dias;
  • Cordeiro de Deus;
  • Panteropto (Onividente);
  • Videira, Benfeitor;
  • Antifonitis (Fiador);
  • Yperagathos (Sumamente Bom) etc.

O livro segurado na mão esquerda

O livro que Cristo traz na mão é o dos Evangelhos; ele tem um grande apelo litúrgico. Este mesmo livro, com efeito, é o único objeto admitido sobre o altar, para afirmar a presença do mesmo Cristo no seu Verbo ou Palavra. Na Liturgia eucarística, esse livro é levado fechado em procissão, para significar a primeira manifestação silenciosa de Cristo sobre a terra; a seguir, no decurso da Divina Liturgia é aberto [a] leitura do trecho diário [..]

A leitura do Evangelho, durante a Divina Liturgia, é acompanhada de orações e ritos mais ou menos solenes em todas as Igrejas. A Igreja bizantina faz preceder a leitura da grande incensação do altar, da iconostase e de toda a comunidade eclesial presente no templo. Enquanto o diácono procede a esta incensação, o sacerdote reza a seguinte oração que exprime bem os sentimentos que devem acompanhar a leitura e os frutos que dela se esperam.

A oração é endereçada a Cristo, desta forma:

«Ó Senhor, amigo dos homens, faze resplandecer nos nossos corações a pura luz do teu divino conhecimento, e abre os olhos da nossa mente à compreensão dos teus ensinamentos evangélicos. Infunde em nós o temor dos teus santos mandamentos, a fim de que, desprezando os desejos carnais, levemos uma vida espiritual, meditando e fazendo tudo que é de teu agrado.»

E se conclui com a seguinte doxologia trinitária, muito freqüente na Liturgia bizantina:

«Porque tu és a luz de nossas almas e de nossos corpos, ó Cristo Deus, e nós rendemos glória a ti juntamente com o leu eterno Pai e o teu Espírito Santíssimo, bom e vivificante; agora e sempre e nos séculos dos séculos. Amém» (9).

As inscrições no livro aberto

As inscrições no livro aberto são diversas, escolhidas pelo iconógrafo, ou pelo oferente, ou por ambos. Essas inscrições, tiradas dos Evangelhos, contribuem para ilustrar o nome acrescentado e para especificar o sentido da representação quando falta o nome acrescentado. As inscrições são inúmeras. Os manuais de pintura propõem apenas algumas, como estas presentes no do monge de Athos Dionísio de Fumá:

  • Para o Pantocrator: «Eu sou a luz do mundo, quem me segue não anda nas trevas, mas terá a luz da vida» (Jo 8, 12).
  • Para o Salvador do mundo: «Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração e encontrareis repouso para as vossas almas» (Mt 11, 29).
  • Para o Doador de vida (Zoodotes): «Eu sou o Pão vivo, que desceu do céu: se alguém comer deste pão, viverá» (Jo 6, 51).
  • Para o Mensageiro do Grande Decreto: «Saí de Deus e dele venho; não venho por mim mesmo, mas foi ele que me enviou» (Jo 8,42).
  • Para o Emanuel: «O Espírito do Senhor está sobre mim, por isso me ungiu: mandou-me levar a boa nova aos pobres» (Lc 4, 18).
  • Quando o representas como Sacerdote: «Eu sou o bom Pastor: o bom Pastor dá a vida pelas suas ovelhas» (Jo 10, 11).
  • Quando o representas na Assembléia dos Incorpóreos: «Eu via Satanás cair do céu como um relâmpago» (Lc 10, 18).
  • Quando o representas entre os Profetas: «Quem recebe um profeta em meu nome...» (Mt 10, 41)
  • Quando o representas entre os Apóstolos: «Eis que vos dou o poder de pisar serpentes» (Lc 10, 19).
  • Quando o representas entre os Bispos: «Vós sais a luz do mundo; não pode uma cidade...» (Mt 5, 14).
  • Quando o representas entre os Mártires: «Todo aquele que se declarar por mim diante dos homens, também eu me declararei...» (Mt 10, 32).
  • Quando o representas entre os Santos: «"Vinde a mim vós todos que estais cansados sob o peso dos vossos fardos e eu vos darei descanso» (Mt 11, 28).
  • Quando o representas entre os Pobres: «Curai os enfermos, purificai os leprosos» (Mt 10,8).
  • Quando o representas sobre uma Porta: «Eu sou a porta: se alguém entrar por mim, será salvo» (Jo 10, 9).
  • Quando o representas num cemitério: «Quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá» (Jo 11, 25).
  • Quando o representas como sumo Pontífice: «Senhor, Senhor, olha do céu e vê, visita esta vinha; protege o que a tua direita plantou» (Sl 80, 15-16). (10)

A mão que abençoa

 

Na Igreja Oriental, sobretudo na bizantina, a bênção (em grego ('euloghia') é reservada ao bispo ou ao sacerdote que a pronuncia para abençoar uma ou mais pessoas, ou um objeto, fazendo um sinal da cruz e pronunciando ao mesmo tempo uma breve fórmula de bênção. A fórmula de bênção mais simples reza assim: «Bendito o nosso Deus, em todo tempo, agora e sempre, e nos séculos dos séculos. Amém.»

Uma das mais solenes é a que o sacerdote dá no fim da liturgia eucarística: «A bênção e a misericórdia do Senhor desçam sobre vós com a sua graça e a sua benignidade em todo tempo, agora e sempre, e nos séculos dos séculos. Amém.»

Como se vê por esta e por outras fórmulas semelhantes, a fórmula não é indicativa: ou seja, o sacerdote não dá a bênção em nome próprio, mas transmite a bênção dada pelo próprio Cristo. Isto fica evidente no ícone de Cristo com a mão direita que abençoa.

A bênção é chamada «à maneira grega», na qual os dedos aparecem em posições bem precisas com significado simbólico, sobre o qual se detêm os manuais de pintura. O de Dionísio de Furná assim descreve a posição dos dedos da mão direita que abençoa e o sentido simbólico:

«Quando fazes uma mão que abençoa, não unas os três dedos juntos, mas une o polegar com o anular apenas; o dedo chamado indicador e o médio formam o nome IC: com efeito, o indicador forma o I; o dedo médio curvado forma o C; o polegar e o anular que se unem obliquamente e o mínimo que está ao lado, formam o nome XC; de fato a obliqüidade do mínimo, estando ao lado do anular, forma a letra X; o mesmo mínimo, que tem forma curva, indica justamente por isso o C; por meio dos dedos, portanto, se forma o nome XC e por esse motivo, pela divina providência do Criador de todas as coisas, os dedos da mão humana foram modelados assim e não foram demais ou de menos, mas em quantidade suficiente para formar este nome.»

O clero bizantino abençoa ainda segundo o modo acima descrito.


Notas:

(1) Gregório de Nissa, Contra Eucomio, PG 45, 524D-525A.

(2) C. Capizzi, Pantocrator, Saggio di letterario-iconografica, "Orientalia Christiana Analecta", n.170, Roma, 1964, p.81.

(3) Santo Atanásio, Epist. III ad Serapionem. PG 26, 633B.

(4) C. Capizzi, op.cit., p.208.

(5) Santo Atanásio, Oratio III, cit., 3.

(6) L. Bouyer, La vérité des icônes. La Tradition iconographique chrétienne et sa signification, Paris 1990, p. 30.

(7) F. Kontoglou, Ekphasis tes orthodoxou eikonographias, vol I pp.102-103.

(8) Ib pp.404-405.

(9) Texto grego e trad. it. in La Divina Liturgia dell Padre nostro Giovanni Cristomo, Roma, 1967 pp. 66-69.

(10) Dionísio de Furná, Ermeneutica della pittura, cit., pp 307-309.

(11) Ib., pp.305-30.

Fonte:

GHARIB, Georges. Os Ícones de Cristo: História e Culto; trad. José Raimundo Vidigal. São Paulo: Paulus, 1997 pp. 91-102.

 

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