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São Simeão, o Estilita

Por: Mor Shemun Destune

Simão o Estilita era um asceta siríaco que se notabilizou por passar 37 anos numa pequena plataforma sobre um pilar. Como santo apesar de ser cultuado em todas as Igrejas Basilares, ou seja, Antioquia, Alexandria, Roma e Constantinopla, era o que podemos chamar de autêntico santo da nossa Igreja Sirian ou Siríaca Ortodoxa de Antioquia.

Nascido em 390 AD (Anno Domini ou ano do Senhor) faleceu em 2 de setembro de 459, filho de João e Marta. Sua autenticidade como santo da nossa Igreja é comprovada por sua defesa da tese miafisista através de suas cartas hoje em poder do Museu Britânico onde condena o resultado do Concílio de Calcedônia (451 AD).

Gravura do sexto século onde aparece São Simão o Estilita sobre a coluna e um ornato sobre sua cabeça, uma concha simbolizando a presença espiritual abençoando-o, a serpente representa as tentações demoníacas. (Museu do Louvre)

É bom lembrar que as autenticas Igrejas de Antioquia e Alexandria são chamadas de pré-caledonianas justamente por não aceitar o Concílio de Calcedônia.

A palavra “estuno” em aramaico quer dizer “coluna” ou “suporte”, o mesmo valendo para a palavra “estilita” em grego é “pilar”, portanto, Mor Shemun Destune é São Simão da Coluna ou Pilar.

Também é preciso lembrar que São Simão o Estilita foi chamado de São Simão o Estilita Ancião, pois, depois dele surgiram outros estilitas como Simão o Estilita Jovem, Simão o Estilita III e Simão o Estilita de Lesbos.

Simão o Estilita Ancião era filho de pastores e nasceu em Sisan ou Sis atualmente corresponde à cidade turca de Kozan na província de Adana. Sis ao seu tempo era a província romana de Cilicia e na divisão do império romano em 395 AD se tornou parte do império romano de Oriente.

Naquela região o cristianismo propagou e fortaleceu-se rapidamente.

Façamos aqui um parêntese voltando-nos para os nossos dias, já que falamos de Adana, onde depois do Genocídio de 1915 conhecido como SAYFO, a nossa comunidade Sirian Ortodoxa de Nova Jersey nos EUA, fundara a Assyrian National Federation (Tau, Mim, Semcad) reuniu fundos para subsidiar os trabalhos de amparo aos órfãos e crianças da nossa comunidade, criando o Orfanato-escola em Adana e depois transferida para Beirute no Líbano onde funciona até os nossos dias.

Fato digno de nota, por ser a comunidade de Nova Jersey nova e não dispondo de recursos, cada membro da comunidade jejuava por um dia na semana e o valor equivalente era arrecadado para manter o Orfanato-escola.

Meu pai, o Malfono Ibrahim Gabriel Sowmy assim como seu irmão o Monge Fetros Sowmy fizera parte do grupo de órfãos do Genocídio. Outras crianças à época que podemos citar ter frequentado a escola e depois vieram ao Brasil são os irmãos Yacoub e Faride Abdala e o Malfono Denho (Ghattas) Makdasi Elias que aparecem na foto, mas que não consigo ora distinguir.

Voltando ao nosso São Simão o Estilita, nossa Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia, cita como sua verdadeira data de nascimento em 392 AD e conta que sua mãe antes de o conceber viu em sonho São João Batista anunciando-lhe sua concepção e no que se tornaria seu filho.

Ainda segundo a “História dos Mártires, Santos e Pais da Igreja”, São Simão ainda muito jovem enquanto pastoreava suas ovelhas teve uma visão onde um anjo o convocou, e, então, aos 16 anos dispôs de todas as propriedades e pertences que sua tia lhe confiara, distribuindo o fruto entre os pobres e necessitados, e, o que sobrou dos seus pertences doou ao Mosteiro de Eubona em Tal’ Ada localizado entre Antioquia e Alepo; em seguida ele e seu irmão entraram para o mosteiro.

Segundo Teodoreto, bispo de Cyrhus, Simão cresceu no zelo pelo cristianismo desde os 13 anos de idade quando lia sobre as Beatitudes. Entrou juntamente com seu irmão para o mosteiro aos 16 anos e era tão dedicado à fé que entregou seu corpo totalmente a Deus. Desde o princípio dedicou-se à prática da austeridade extrema que aos olhos dos outros era visto como extravagancia e seus irmãos monges julgavam-no inadequado a qualquer tipo de convívio comunitária.

Segundo a tradição da Igreja depois de certo tempo no mosteiro, cavou um buraco no jardim de mais ou menos 150 centímetros de profundidade e lá ficava depois das orações da meia noite. Para ficar em vigília permanente e adoração contínua, pendurava uma pedra no pescoço e tentava se equilibrar sobre um cilindro, tudo isso para não dormir.

Seus colegas eremitas, enciumados da sua dedicação e persistência, lançaram boatos a seu respeito e então ele decidiu sair do mosteiro.

Segundo a história, saindo do mosteiro ficou recluso num casebre próximo do mosteiro lá permanecendo por um ano e meio; quando da Quaresma não ingeria nenhum alimento ou bebida e quando saiu do casebre seu aparecimento foi considerado um milagre.

Quando resolveu distanciar-se do mosteiro, o abade quis lhe dar quatro moedas de ouro, mas, o santo recusou dizendo: “suas orações guardem o meu caminho” e seguiu para Telanissa, atualmente Tal Ada na Síria, sentou debaixo duma árvore e orou: “Deus, meu Senhor, por tua vontade proteja-me de todas as adversidades, ajuda e guia-me para alcançar a abobada celestial. ”

A partir daí passou a permanecer em pé continuamente enquanto seus membros o suportassem.

Simão na verdade buscava isolar-se da sociedade, mas por mais que persistisse sua fama extrapolava a região escolhida, buscou então isolar-se sobre um pilar no topo do qual havia uma pequena plataforma, conta a tradição que seu primeiro pilar tinha mais ou menos um metro e meio de altura e o último chegaria a um pouco mais de dois metros. As plataformas de ambos teriam algo como um metro quadrado e acredita-se que o imperador mandara construir um muro duplo para protegê-lo do assédio dos fiéis e um balaústre para protege-lo das intempéries climáticas.

Quando os monges do deserto, mais velhos souberam da sua atitude resolveram convoca-lo pensando que se ele não descesse do pilar era por arrogância, mas se viesse até eles, seria por humildade. Simão atendeu ao chamado dos monges e eles reconheceram sua humildade e sabedoria.

Alguns registros da Igreja falam que Simão suportou o calor de mais de trinta verões e invernos em diferentes posturas de oração e adoração. Às vezes orava perfilado com os braços em forma de cruz e a outra mais citada era a prática de ajoelhar-se até a cabeça tocar o chão, um fiel visitante desistiu de contar as genuflexões quando chegou a doze mil e quarenta e quatro vezes. Esquelético e talvez com úlceras pelo corpo podem ter acelerado sua morte.

Paciente ao extremo, recebia visitas ilustres assim como de fiéis que buscavam conselho, benção e cura. Toda tarde atendia do alto da sua coluna todos os que o procuravam. Sua pregação contínua, plena de bom senso e sem fanatismo cativou muitos dignitários da Igreja e atraiu a atenção de imperadores.

O imperador Teodósio II e sua esposa Aelia Eudóxia respeitavam o santo e ouviam seus conselhos. O imperador Leo I considerou muito seus conselhos quando da abertura do Concílio de Calcedônia, mas depois, o Santo condenou o parecer final deste Concílio.

Por praticamente 40 anos orou sobre o pilar construído no topo de uma montanha dizendo: “Senhor, meu Deus, não permita que mãos humanas sejam necessárias para me ajudar, não permita que eu desça deste pilar para ver os homens na terra. Ajuda-me a encerrar minha vida sobre este pilar do qual subirei para a tua graça, por tua vontade, acompanha a alma deste teu servo deste lugar”.

O demônio enciumado dos bons atos do santo provocou-o com tentações e Simão acabou desenvolvendo úlceras pelo corpo causando-lhe nove meses de contínuo sofrimento.

O imperador Teodósio queria notícias diárias do santo e mandou três bispos para demove-lo da sua persistência em ficar no topo da coluna. O santo orou a Cristo para supri-lo de água e uma fonte jorrou do pé da coluna. Os fiéis alimentavam-no com pão e leite diariamente.

São Simão o estilita pregou para muitos, ensinou e trouxe muitos para o Caminho da Verdade, escreveu cartas e instruções a bispos, igrejas e fiéis.

O patriarca Domininos (441 – 448) de Antioquia visitou o monge asceta e celebrou a Divina Liturgia sobre o pilar. Numa das vezes que Simão adoeceu, Teodósio enviou três bispos para rogar ao santo descer do pilar e receber atendimento médico, mas, Simão preferiu confiar sua cura às mãos de Deus e acabou se recuperando.

O muro construído em volta do pilar era para evitar o assédio de romeiros que perturbavam sua concentração durante as orações, assim os visitantes só poderiam vê-lo ou pedir-lhe algo no período reservado a esta atividade. Até sua mãe não podia trespassar o muro, e ele disse-lhe: ”se formos dignos, nos veremos na vida do porvir. “ Ela acatou seu pedido, abraçou também a vida monástica de silêncio e oração, quando faleceu, Simão pediu para vê-la e despediu-se dela respeitosamente.

No dia 2 de setembro de 459 um discípulo do santo encontrou-o com o corpo reclinado em aração já morto. O patriarca Martyrios de Antioquia celebrou seu funeral diante de grande multidão e enterrou-o próximo do pilar.

Logo surgiu uma discussão sobre quem deveria guardar as relíquias do santo, Antioquia ou Constantinopla, definiu-se por Antioquia como destino das relíquias para proteger a cidade sem muros.

Em volta da Coluna de Simão foram construídas quatro basílicas que representavam os quatro pontos cardeais – Norte, Sul, Leste, Oeste. As basílicas foram construídas a partir de um pátio octogonal e no seu centro é que ficou a coluna. Esta edificação hoje em ruínas fica a trinta quilômetros de Alepo e era considerado Patrimônio da Humanidade.

Ruinas das basílicas edificadas em torno do pilar de São Simão, hoje conhecidas como Qalat Siman (em árabe)

Mesmo não buscando glória e reconhecimento terreno, a fama de São Simão o Estilita alcançou nossos dias atravessando dois milênios.

O capitão e os marujos de Moby Dick de Herman Melville e um personagem que vive sobre um pilar na estória de Mark Twain – Um ianque na corte do rei Artur – são inspirados na figura do Estilita.

Ruínas da coluna de Simeão
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