A Festa da «Natividade da Theotokos» (Mãe de Deus)
Comemoração de São Sofrônio, bispo de Ibéria.
No Ofício de Vésperas:
Leituras bíblicas:
- Gn 28, 10-17 (1ª leitura)
- Ez 43, 27-44, 4 (2ª leitura)
- Pr 9, 1-11 (3ª leitura)
No Orthros (Matinas):
Evangelho
Santo Evangelho segundo o Evangelista São LUCAS [1: 39-49, 56].
aqueles dias, 39Maria pôs-se a caminho para a região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá. 40Entrou na casa de Zacarias e saudou Isabel. 41Ora, quando Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança lhe estremeceu no ventre e Isabel ficou repleta do Espírito Santo. 42Com um grande grito, exclamou: «Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre! 43Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite? 44Pois quando a tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria em meu ventre. 45Feliz aquela que creu, pois o que lhe foi dito da parte do Senhor será cumprido!» 46Maria, então, disse: «Minha alma engrandece o Senhor,47e meu espírito exulta em Deus em meu Salvador, 48porque olhou para a humilhação de sua serva. Sim! Doravante as gerações todas me chamarão de bem-aventurada, 49pois o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor. Seu nome é santo». 56Maria permaneceu com ela mais ou menos três meses e voltou para casa.
Na Divina Liturgia:
Primeira Antífona
Vers. 1: Senhor, lembra-te de Davi, de suas fadigas todas (Sl 132:1).
Vers. 2: Eis que ouvimos dela em Éfrata, nós a encontramos nos campos de Jaar (Sl 132:6).
Vers. 3: Coisas gloriosas são faladas de ti, ó cidade de Deus (Sl 87:3).
Vers. 4: Deus está em seu meio: ela é inabalável. Deus a socorre ao romper da manhã (Sl 46:5).
Glória… Agora e sempre….
Στίχ. α´. Μνήσθητι Κύριε τοῦ Δαυΐδ καὶ πάσης τῆς πρᾳότητος αὐτοῦ.
Στίχ. β’. Ἰδοὺ ἠκούσαμεν αὐτὴν ἐν Ἐφραθᾷ, εὕρομεν αὐτὴν ἐν τοῖς πεδίοις τοῦ δρυμοῦ.
Στίχ. γ’. Δεδοξασμένα ἐλαλήθη περὶ σοῦ ἡ πόλις τοῦ Θεοῦ.
Στίχ. δ’. Ὁ Θεὸς ἐν μέσῳ αὐτῆς καὶ οὐ σαλευθήσεται.
Δόξα Πατρὶ… Καὶ νῦν.
Segunda Antífona
Vers. 1: O Senhor jurou a Davi, uma verdade que jamais desmentirá (Sl 132:11a).
Vers. 2: “É um fruto do teu ventre que eu porei em teu trono” (Sl 132:11b).
Vers. 3: “Ali farei brotar uma linhagem a Davi, e prepararei uma lâmpada ao meu Messias” (Sl 132:17).
Vers. 4: Porque o Senhor escolheu Sião, desejou-a como residência própria (Sl 132:13)..
Glória… Agora e sempre…. Ó Filho Unigênito…
Στίχ. α´. Ὤμοσε Κύριος τῷ Δαυΐδ ἀλήθειαν καὶ οὐ μὴ ἀθετήσει αὐτήν.
Στίχ. β’. Ἐκ καρποῦ τῆς κοιλίας σου θήσομαι ἐπὶ τοῦ θρόνου σου.
Στίχ. γ’. Ἐκεῖ ἐξανατελῶ κέρας τῷ Δαυΐδ, ἡτοίμασα λύχνον τῷ Χριστῷ μου.
Στίχ. δ’. Ὅτι ἐξελέξατο Κύριος τὴν Σιών, ᾑρετίσατο αὐτὴν εἰς κατοικίαν ἑαυτῷ.
Δόξα Πατρὶ… Καὶ νῦν… Ὁ μονογενὴς…
Terceira Antífona
Vers. 1: Ela é meu repouso para sempre, aí habitarei, pois eu a desejei (Sl 132:14).
Στίχ. α´. Ὧδε κατοικήσω, ὅτι ᾑρετισάμην αὐτήν.
Apolitíkion da Festa (Modo 4º)
Tua natividade, ó Mãe de Deus, anunciou a alegria ao mundo inteiro. Pois de ti nasceu o sol da justiça, o Cristo nosso Deus, o qual, abolindo a maldição, nos deu a bênção, e destruindo a morte, deu-nos a vida eterna.
Ἡ γέννησίς σου Θεοτόκε, χαρὰν ἐμήνυσε πάσῃ τῇ οἰκουμένῃ΄ ἐκ σοῦ γὰρ ἀνέτειλεν ὁ Ἣλιος τῆς δικαιοσύνης, Χριστὸς ὁ Θεὸς ἡμῶν΄ καὶ λύσας τὴν κατάραν, ἔδωκε τὴν εὐλογίαν΄ καὶ καταργήσας τὸν θάνατον, ἐδωρήσατο ἡμῖν ζωὴν τὴν αἰώνιον.
E, os versículos seguintes são alternados com o Apolitíkion da festa.
Vers. 2: O Altíssimo santificou a sua Morada.
Vers. 3: Santo é teu Templo! Com prodígios de justiça nos respondes (Sl 65:6).
Στίχ. β’ . Ἡγίασε τὸ σκήνωμα αὐτοῦ ὁ Ὕψιστος.
Στίχ. γ’. Ἅγιος ὁ ναός σου, θαυμαστὸς ἐν δικαιοσύνῃ.
Kondákion (Modo 4º)
Pela tua santa natividade, ó Pura, Joaquim e Ana foram libertos do opróbrio da esterilidade, e Adão e Eva da corrupção da morte. Teu povo, salvo da escravidão do pecado te festeja, exclamando: «A estéril dá à luz a Mãe de Deus que alimenta nossa vida»!
Ἰωακεὶμ καὶ Ἄννα ὀνειδισμοῦ ἀτεκνίας, καὶ Ἀδὰμ καὶ Εὔα, ἐκ τῆς φθορᾶς τοῦ θανάτου, ἠλευθερώθησαν Ἄχραντε, ἐν τῇ ἁγίᾳ γεννήσει σου΄ αὐτὴν ἑορτάζει καὶ ὁ λαός σου, ἐνοχῆς τῶν πταισμάτων, λυτρωθεὶς ἐν τῷ κράζειν σοι΄ Ἡ στεῖρα τίκτει τὴν Θεοτόκον, καὶ τροφὸν τῆς ζωῆς ἡμῶν.
Prokímenon (Modo 3º)
Refrão: Minha alma glorifica o Senhor e meu Espírito exulta de alegria em Deus meu Salvador.
Vers.: Porque voltou os olhos para a humildade de sua serva.
Μεγαλύνει ἡ ψυχή μου τὸν Κύριον, καὶ ἠγαλλίασε τὸ πνεῦμά μου ἐπὶ τῷ Θεῷ τῷ Σωτῆρί μου.
Στίχ. Ὅτι ἐπέβλεψεν ἐπὶ τὴν ταπείνωσιν τῆς δούλης αὐτοῦ·
Epístola (Apóstolo)
Epístola do Apóstolo São Paulo aos FILIPENSES (2:5-11)
rmãos, 5tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: 6Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. 7Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana. E, achado em figura de homem, 8humilhou-se e foi obediente até a morte, e morte de cruz! 9Por isso Deus o sobre-exaltou grandemente e o agraciou com o Nome que é sobre todo o nome, 10para que, ao nome de Jesus, se dobre todo joelho dos seres celestes, dos terrestres e dos que vivem sob a terra, 11e, para glória de Deus, o Pai, toda língua confesse: Jesus é o Senhor.
Aleluia (Modo Pl. 2º, Sl. 44)
Vers. 1: Ouve, ó filha, vê e inclina o teu ouvido | pois o Rei se encantou por tua beleza (45,10).
Vers. 2: Prostra-te a sua frente, pois Ele é o teu Senhor!
Στίχ. αʹ. Ἄκουσον, θύγατερ, καὶ ἴδε καὶ κλῖνον τὸ οὖς σου καὶ ἐπιλάθου τοῦ λαοῦ σου καὶ τοῦ οἴκου τοῦ πατρός σου·
Στίχ. βʹ. Τὸ πρόσωπόν σου λιτανεύσουσιν οἱ πλούσιοι τοῦ λαοῦ.
Evangelho
Santo Evangelho segundo o Evangelista São LUCAS [10:38-42, 11:27-28].
aquele tempo, 38Estando em viagem, entrou num povoado, e certa mulher, chamada Marta, recebeu-o em sua casa. 39Sua irmã, chamada Maria, ficou sentada aos pés do Senhor, escutando-lhe a palavra. 40Marta estava ocupada pelo muito serviço. Parando, por fim, disse: «Senhor, a ti não importa que minha irmã me deixe assim sozinha a fazer o serviço? Dize-lhe, pois, que me ajude». 41O Senhor, porém, respondeu: «Marta, Marta, tu te inquietas e te agitas por muitas coisas; 42no entanto, pouca coisa é necessária, até mesmo uma só. Maria, com efeito, escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada». 27Enquanto ele assim falava, certa mulher levantou a voz do meio da multidão e disse-lhe: «Felizes as entranhas que te trouxeram e os seios que te amamentaram!» 28Ele, porém, respondeu: «Felizes, antes, os que ouvem a palavra de Deus e a observam».
Hirmós (Modo Pl. 4º)
A virgindade é estranha às mães; assim como dar à luz para as virgens; mas em ti, ó Theotokos, a disposição de ambos os estados foi realizada. Portanto, nós, com as as nações da Terra, incessantemente te bendizemos.
Ἀλλότριον τῶν μητέρων ἡ παρθενία, καὶ ξένον ταῖς παρθένοις ἡ παιδοποιΐα΄ ἐπὶ σοὶ Θεοτόκε ἀμφότερα ᾠκονομήθη. Διὸ σε πᾶσαι αἱ φυλαὶ τῆς γῆς, ἀπαύστως μακαρίζομεν.
Kinonikón
Erguerei o cálice da salvação invocando o nome do Senhor (Sl 116:13). Aleluia!
Ποτήριον σωτηρίου λήψομαι, καὶ τὸ ὄνομα Κυρίου ἐπικαλέσομαι. Ἀλληλούϊα.
A Natividade da Theotokos
festividade do nascimento da Mãe de Deus tem provavelmente sua origem em Jerusalém, em meados do século V. Porque foi em Jerusalém que se manteve viva a tradição que a Virgem teria nascido junto à Porta da Piscina Probática.
Fazendo uso desta referência, encontramos citações de São João Damasceno em sua Homilia sobre a Natividade de Maria: “Hoje é o começo da salvação do mundo, porque na Santa Probática foi-nos gerada a Mãe de Deus através de quem o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo, nos foi gerado.” [1]
Considerado o nascimento de Maria como o início histórico da obra da Redenção, o Calendário Litúrgico Bizantino abre suas portas festejando o nascimento da Virgem: “A celebração de hoje é para nós o começo de todas as festas”. [2]
Maria é apresentada pela Liturgia como a “Virgem bela e Gloriosa” que Deus amou com predileção deste a sua eternidade desde toda a Criação como sua obra-prima, enriquecida das graças mais sublimes e elevada à excelsa dignidade de Mãe de Deus e de Bem-aventurada Virgem. [3]
Segundo o espírito da Igreja, devemos celebrar a Festa da Natividade com santa Alegria, porque o nascimento de Maria é a aurora de nossa salvação. Com o seu nascimento é anunciado ao mundo a boa nova: a mãe do Salvador já está entre nós.
«Alegrem-se, portanto, os Patriarcas do Antigo Testamento que, em Maria, reconheceram a figura da Mãe do Messias. Eles e os justos da Antiga Lei aguardavam a séculos, serem admitidos na glória celeste pela aplicação na fé dos méritos de Cristo, o bendito fruto da Virgem Maria . Alegrem-se todos os homens porque o nascimento da Virgem veio anunciar-lhes a aurora do grande dia da libertação pela qual aspiram todos os povos. Alegrem-se todos os anjos porque neste dia foi-lhes dada pela primeira vez a ocasião de reverenciar a sua futura Rainha.» [4]
Visivelmente, nenhum acontecimento extraordinário acompanhou o nascimento de Maria e os Evangelhos nada dizem sobre sua natividade. Nenhum relato de profecia, nem aparições de anjos, nem sinais extraordinários são narrados pelos Evangelistas.
Só no Céu houve Festa, pois o Filho de Deus vê sua Mãe nascer.
Na vida da Virgem Maria a ordinariedade dos fatos sempre lhe acompanhou. Aquela que vivia o seu cotidiano de maneira despercebida aos olhos dos homens dá à Luz o Salvador. A humildade também lhe era característica pois ela sendo Rainha apresentou-se sempre como serva obediente.
Tem-se poucos registros históricos da cidade onde nascera Maria , mas por ser conhecida como “A Virgem de Nazaré”, intui-se que foi lá que Joaquim e Ana (avós de Jesus) receberam de Deus a pequena Maria.
O mundo continuou seu curso dando importância a outros acontecimentos que depois seriam completamente esquecidos. Para Deus a grandeza dos fatos não está na proporção dos aplausos que o mundo lhe oferece, mas na serenidade de sua aceitação cumprindo a sua vontade.
Com freqüência as coisas importantes para Deus passam despercebidas aos olhos dos homens.
Cresceu como todas as jovens, mas se distinguia por ser toda de Deus, guardando tudo em seu coração”. [5] A sua vida ,tão cheia de normalidade, ensina-nos a agir em tudo com olhos postos em Deus numa perpétua oferenda ao Senhor.
Maria é a aurora que preconiza a vinda Sol, o Sol da justiça que traz à luz aqueles que estão nas trevas do pecado.
Notas:
[1] São João Damasceno, Homilia sobre a Natividade de Maria, 6 PG 96;
[2] Andréas de Creta, Homilia Mariana. V. Fazzo p.43
[3] Patriarca Fócio, Homilia sobre a Natividade,PG 43
[4] Lehmann, P. JB. Na luz Perpétua, 1959 p.268
[5] Lc 2,51
Leituras complementares
«O nascimento da nova Eva»
Alegra-te, Adão, nosso pai, e sobretudo tu, Eva, nossa mãe. Fostes ao mesmo tempo os nossos pais e os nossos assassinos; vós que nos destinastes à morte ainda antes de nos terdes dado à luz, consolai-vos agora. Uma das vossas filhas – e que filha! – vos consolará… Vem então, Eva, corre para junto de Maria. Que a mãe recorra à sua filha; a filha responderá pela mãe e apagará a sua falta… Porque a raça humana será agora elevada por uma mulher.
Que dizia Adão outrora? “A mulher que me deste ofereceu-me o fruto da árvore e eu comi.” (Gn 3,12) Eram palavras más, que agravavam a sua falta em vez de a apagarem. Mas a divina Sabedoria triunfou sobre tanta malícia; aquela ocasião de perdoar que Deus tinha tentado em vão fazer nascer, ao interrogar Adão, eis que agora a encontra no tesouro da sua inesgotável bondade. A primeira mulher é substituída por outra, uma mulher sábia no lugar da insensata, uma mulher humilde tanto quanto a outra era orgulhosa.
Em vez do fruto da árvore da morte, ela apresenta aos homens o pão da vida; substitui aquele alimento amargo e envenenado pela doçura dum alimento eterno. Muda então, Adão, a tua acusação injusta em expressão de agradecimento e diz: “Senhor, a mulher que tu me deste apresentou-me o fruto da árvore da vida. Comi dele e o seu sabor foi para mim mais delicioso do que o mel (Sl 18,11), porque por este fruto me devolveste a vida.” Eis porque é que o anjo foi enviado a uma virgem. Ó Virgem admirável, digna de todas as honras! Ó mulher que temos de venerar infinitamente entre todas as mulheres, tu reparas a falta dos nossos primeiros pais, tu dás vida a toda a sua descendência.
São Bernardo (1091-1153),
«Louvores da Virgem Maria» – homilia 2.
«Uma mãe digna daquele que a criou»
Vinde, todas as nações; vinde, homens de todas as raças, de todas as línguas, de todas as idades, de todas as dignidades. Com alegria, festejemos a natividade da alegria do mundo inteiro! Se até os pagãos honram o aniversário do seu rei […], que não deveríamos nós fazer para honrar o da Mãe de Deus, por quem toda a humanidade foi transformada, por quem a dor de Eva, nossa primeira mãe, foi transformada em alegria! Com efeito, Eva ouviu a sentença de Deus: «Darás à luz na dor» (Gn 3,16); e Maria: «Alegra-te, ó cheia de graça […], o Senhor está contigo» (Lc 1,28). […]
Que toda a criação esteja em festa e cante o santo parto de uma santa mulher, pois ela trouxe ao mundo um tesouro indestrutível. […] Por ela, o Verbo criador de Deus uniu-Se a toda a criação, e nós festejamos o fim da esterilidade humana, o fim da enfermidade que nos impedia de possuir o bem. […] A natureza deu lugar à graça. […] Como a Virgem Mãe de Deus devia nascer de Ana, a estéril, a natureza permaneceu sem fruto até que a graça deu à luz o seu fruto. Tinha de ser aquela que ia dar à luz «o Primogénito de todas as criaturas», no qual «tudo subsiste» (Col 1,15.17), a abrir o seio de sua mãe.
Joaquim e Ana, casal bem-aventurado! Toda a criação está em dívida para convosco; por vós, ela ofereceu ao Criador o melhor dos seus dons: uma Mãe digna de veneração, a única Mãe digna daquele que a criou.
São João Damasceno (c. 675-749),
Homilia sobre a Natividade da Virgem Maria
Textos bíblicos:
- BÍBLIA – Bíblia de Jerusalém (Nona Edição Revista e Ampliada). São Paulo: Paulus, 2013.