«A DIVINA SABEDORIA»
Enquanto a visão cristã-ocidental pode ser expressa adequadamente através dos conceitos de ser, liberdade, graça ou salvação, a visão cristã oriental só pode ser expressa plenamente através do conceito de «sabedoria».
O conceito de Sofia tem atrás de si uma longa história na teologia e na Igreja do Oriente. Já ocupava o primeiro lugar nas especulações teológicas de Orígenes e de Clemente. Na liturgia, o culto da sabedoria de Deus remonta a tempos remotíssimos, especialmente em Constantinopla, onde lhe foi erigido o templo de «Haghia Sofia». Na Rússia, o culto da «Divina Sabedoria» sempre foi muito vivo. O argumento de ordem teorética mostra que o conceito de «Sofia» permite superar as duas falsas concepções de mundo mais difundidas hoje em dia: em primeiro lugar, o maniqueísmo, inimigo das criaturas; em segundo lugar, o secularismo, que separa o mundo profano das fontes vivas da vida espiritual e religiosa. Com efeito, a «Sofia» une o mundo material e o mundo espiritual, Deus e o homem, estando presente onde quer que seja, em Deus de modo infinito, no homem e nas outras criaturas de modo finito. Deus e mundo não estão separados por um abismo insuperável, porque o mistério da «Sabedoria» afeta todas as coisas. Tudo é «Sabedoria» (…)
Segundo Bulgakov, a natureza de Deus pode ser considerada de dois modos: como é em si mesma, ou seja, como vida da qual Deus vive; ou então enquanto comunicável e revelável. Quando considerada do segundo modo, temos «a sabedoria divina incriada», que é definida como «mente divina que se pensa a si mesma» (5) ou então como «organismo universal das idéias divinas» (6). Também pode ser descrita como ser que contém em si a plenitude das imagens divinas. Bulgakov chama-a além disso de «mundo divino», «protótipo da criação», «humanidade celeste» (7). Com essas expressões, ele quer dar a entender que a Σοφία não é uma simples ideia ou uma coleção de idéias, mas algo de vivo e real, ainda que não-hipostático.
Sofia é propriedade de todas as três pessoas divinas; porém, em sua hipóstase imediata, a Sofia se identifica com o Verbo; por isso, pode-se afirmar que a Σοφία é o Verbo de Deus e, vice-versa, que o Verbo de Deus é a Sofia.
Na Sofia eterna podem ser distinguidos dois aspectos: o da Revelação da plenitude do ser divino ou da universalidade das idéias divinas na unidade e o da revelação da bem-aventurança e da beleza de Deus. Considerada segundo este último aspecto, ela se chama «Glória de Deus». Esta – precisa o teólogo – não é a glória dada pelas criaturas a Deus, mas sim a glória e o gáudio que Deus tem em si mesmo.
A Sofia eterna pertence indistintamente a todas as três Pessoas divinas. Porém é revelação da Segunda ou da Terceira Pessoas, dependendo do aspecto sob o qual a consideramos. É revelação da Segunda Pessoa, ou seja, do Verbo, se a consideramos como universalidade das idéias divinas. É revelação da Terceira Pessoa, ou seja, do Espírito Santo, se a consideramos como Glória de Deus.
Na teologia cristã , «sabedoria» (Do hebraico : חכמה transliteração: CHOKMAH pronunciado: Khok-bucho, grego: Σοφία, Sophia; Latina: Sapientia) descreve um aspecto de Deus, ou o teológico conceito sobre a sabedoria de Deus.
Sofia, (grego Σοφία) é um conceito em teologia cristã. Na cristologia, Cristo, o Logos, como o Filho de Deus foi identificado com a Sabedoria Divina desde os primeiros tempos. Uma posição minoritária identificou a Divina Sabedoria com o Espírito Santo.
A identificação de Cristo com a Sabedoria de Deus é antiga, e foi explicitamente indicado pelos primeiros Padres da Igreja , incluindo o Mártir São Justino e Orígenes. A forma mais evidente da identificação da Sabedoria Divina com Cristo vem em 1 Coríntios 1: 17-2: 13.
Pois não foi para batizar que Cristo me enviou, mas para anunciar o Evangelho, sem recorrer à sabedoria e linguagem, a fim de que não se torne inútil a cruz de Cristo. Com efeito, a linguagem da cruz é loucura para aqueles que se perdem, mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus. Pois está escrito: «Destruirei a sabedoria dos sábios e rejeitarei a inteligência dos inteligentes.» Onde está o sábio? Onde está o homem culto? Onde está o argumentador deste século? Deus não tornou louca a sabedoria; deste século? Com efeito, visto que o mundo por meio da sabedoria não reconheceu a Deus na sabedoria de Deus, aprouve a Deus pela loucura da pregação salvar aqueles que creem. Os judeus pedem sinais, e os gregos andam em busca de sabedoria; nós, porém, anunciamos Cristo crucificado, que para os judeus, é escândalo, para os gentios é loucura, mas para aqueles que são chamados, tanto judeus como gregos, é Cristo, poder de Deus e sabedoria de Deus. Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens, e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens. Vede, pois, quem sois, irmãos, vós que recebestes o chamado de Deus; não há entre vós muitos sábios segundo a carne, nem muitos poderosos, nem muitos de família prestigiosa. Mas o que é loucura no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraqueza no mundo, Deus o escolheu para confundir o que é forte; e, o que no mundo é vil e desprezado, o que não é, Deus escolheu para reduzir a nada o que é, a fim de que nenhuma criatura possa vangloriar-se diante de Deus. Ora, é por ele que vós sois em Cristo Jesus, que se tornou para nós sabedoria proveniente de Deus, justiça, santificação e redenção, a fim de que, como diz a Escritura, «aquele que se gloria, glorie-se no Senhor». Eu mesmo, quando fui ter convosco, irmãos, não me apresentei com o prestígio da palavra ou da sabedoria para vos anunciar o mistério de Deus! Pois não quis saber outra coisa entre vós a não ser Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. Estive entre vós cheio de fraqueza, receio e tremor; minha palavra e minha pregação nada tinham da persuasiva linguagem da sabedoria, mas eram uma demonstração de Espírito e poder, a fim de que a vossa fé não se baseie na sabedoria dos homens, mas no poder de Deus. No entanto, é realmente de sabedoria que falamos entre os perfeitos, sabedoria que não é deste mundo nem dos príncipes deste mundo, votados à destruição. Ensinamos a sabedoria de Deus, misteriosa e oculta, que Deus, antes dos séculos, de antemão destinou para a nossa glória. Nenhum dos príncipes deste mundo a conheceu, pois, se a tivessem conhecido, não teriam crucificado o Senhor da Glória. Mas, como está escrito, «o que os olhos não viram, os ouvidos não ouviram e o coração do homem não percebeu, tudo o que Deus preparou para os que o amam. A nós, porém, Deus o revelou pelo Espírito. Pois o Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as profundidades de Deus. Quem, pois, dentre os homens conhece o que é do homem, senão o espírito do homem que nele está? Da mesma forma, o que está em Deus, ninguém o conhece senão o Espírito que vem de Deus, a fim de que conheçamos os dons da graça de Deus. Desses dons não falamos segundo a linguagem ensinada pela sabedoria humana, mas segundo aquela que o Espírito ensina, exprimindo realidades espirituais em termos espirituais.
Há uma posição menor entre os Padres da Igreja que sustentava que a Sabedoria identifica-se, não a Cristo, mas ao Espírito Santo. Esta foi avançado por Teófilo de Antioquia (d. 180) e por Irineu de Lyon (d. 202/3). A linguagem lírica sobre a sabedoria de ser, o sopro do poder divino, refletindo Glória Divina, espelhando luz, e sendo uma imagem de Deus, parece ser ecoado por 1 Coríntios 1: 17-18, 24-5 (versos que a sabedoria divina associado com energia), por Hebreus 1: 3 («ele é o resplendor da glória de Deus»), João 1: 9 («a verdadeira luz que dá luz a todos») e Colossenses 1:15 («a imagem do Deus invisível»). O Novo Testamento se aplica a Cristo a linguagem sobre o significado cósmico de sabedoria como agente de Deus na criação do mundo: «todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez» (João 1: 3 ; veja Col 1: 16 Hb 1: 2). Além disso, Paulo transforma a noção de inacessibilidade da Sabedoria Divina no contexto da crucificação (1 Cor. 1: 17-2: 13). «A sabedoria de Deus» (1 Cor. 1:21) não é apenas «segredo e oculto» (1 Cor. 2: 7), mas também, definido pela cruz e sua proclamação, loucura francamente para o sábio deste mundo ( 1 Cor. 1: 18-25; ver também Mateus 11: 25-7 ). Através de suas parábolas e outras formas, Cristo ensina a sabedoria (Mt 25: 1-12 Lucas 16: 1-18 , cf. também Mt 11: 25-30 ). Ele é «maior do que Salomão» ( Mt 00:42 ).
Na teologia da Igreja Ortodoxa Oriental, a Santa Sabedoria é entendida como o Logos Divino que se tornou encarnado como Jesus Cristo; esta crença sendo, por vezes, também expressa em alguns ícones ortodoxos orientais. Na Divina Liturgia da Igreja Ortodoxa, a exclamação sabedoria! Sophia! é proclamada pelo diácono ou sacerdote em certos momentos, especialmente antes da leitura das Escrituras, para chamar a atenção da congregação para ensino sagrado.
Existem inúmeras igrejas dedicadas a Santa Sabedoria em todo o mundo Ortodoxo Oriental. Seu arquétipo é a principal Basílica de Constantinopla (hoje museu), construída no século VI, em Inglês conhecido simplesmente como a Hagia Sophia. O edifício existente de Hagia Sophia data do século VI. Não está inteiramente claro quando a primeira igreja no local havia sido dedicada a Hagia Sophia. A primeira igreja no local, consagrada em 360 (durante o reinado de Constâncio II), era simplesmente conhecido como o Μεγάλη Ἐκκλησία (Megale Ekklesia, «Grande Igreja», ou, em Latim «Magna Ecclesia») Uma tradição que atribui a igreja a Constantino, o grande não são anteriores ao século VII.
A dedicação da Basílica de Santa Sofia de Constantinopla, sob Justino II, serviu como um modelo para a dedicação de outras igrejas bizantinas, bem como igrejas medievais na Itália antes do Grande Cisma.
Os gregos antigos consideravam a sabedoria uma importante virtude, personificada como as deusas Metis e Athena. Os antigos romanos também tinham em grande apreço a virtude da sabedoria. Ela foi personificada em Minerva ou Pallas. Tmbém representa o conhecimento hábil e as virtudes, especialmente a castidade. Seu símbolo era a coruja que ainda é uma representação popular da sabedoria, porque pode ver na escuridão. Dela foi dito que nasceu da testa de Júpiter.
Ref. Bibliográfica:
BULGAKOV, Serguei (1871-1944), em MONDIN Battista, “Introdução à história da teologia ortodoxa”, Capítulo 10 da Obra «Os Grandes Teólogos do Século Vinte», Vol. 2. Os Teólogos protestantes e ortodoxos