IV Domingo da Quaresma - de «São João Clímaco» (3° antes da Páscoa - Modo Pl. 4º)
(8º Domingo do Triódion* Quaresmal)
Comemoração dos Ss. Nicetas, o Confessor, abade do Mosteiro de Medicium († 824); José, o Hinógrafo de Siracusa († 880); Teodósia e Irene, Mártires.
(Liturgia de São Basílio, o Grande).
No Orthros (Matinas):
Evangelho (Eoth. 8)
Santo Evangelho segundo o Evangelista São LUCAS [24: 13-35].
aquele tempo, eis que dois deles viajavam nesse mesmo dia para um povoado chamado Emaús, a sessenta estádiosª de Jerusalém; e conversavam sobre todos esses acontecimentos. Ora, enquanto conversavam e discutiam entre si, o próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles; seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo. Ele lhes disse: «Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando?» E eles pararam, com o rosto sombrio. Um deles, chamado Cléofas, lhe perguntou: «Tu és o único forasteiro em Jerusalém que ignora os fatos que nela aconteceram nestes dias?» -«Quais?», disse-lhes ele. Responderam: «O que aconteceu a Jesus, o Nazareno que foi profeta poderoso em obras e em palavras, diante de Deus e diante de todo o povo: como nossos Sumos Sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que fosse ele quem redimiria Israel; mas, com tudo isso, faz três dias que todas essas coisas aconteceram! É verdade que algumas mulheres, que são dos nossos, nos assustaram. Tendo ido muito cedo ao túmulo e não tendo encontrado o corpo, voltaram dizendo que haviam tido uma visão de anjos a declararem que ele está vivo. Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas tais como as mulheres haviam dito; mas não o viram!» Ele, então, lhes disse: «Insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram! Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?» E, começando por Moisés e percorrendo todos os Profetas, interpretou lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito. Aproximando-se do povoado para onde iam, Jesus simulou que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram, dizendo: «Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina». Entrou então para ficar com eles. E, uma vez à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e deu-o a eles. Então seus olhos se abriram e o reconheceram; ele, porém, ficou invisível diante deles. E disseram um ao outro: «Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?» Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém. Acharam aí reunidos os Onze e seus companheiros, que disseram: «É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” E eles narraram os acontecimentos do caminho e como o haviam reconhecido na fração do pão!
Na Divina Liturgia:
Primeira Antífona (Modo 2º)
Vers. 1: Bendize, ó minha alma, ao Senhor e todo o meu ser bendiga o seu santo nome.!
Vers. 2: Bendize, ó minha alma, ao Senhor e não esqueças nenhum de seus benefícios!
Vers. 3: O Senhor firmou no céu o seu trono e sua realeza governa o universo.
Glória… Agora e sempre….
Στίχ. α´. Εὐλόγει ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον, καὶ πάντα τὰ ἐντός μου τὸ ὄνομα τὸ ἅγιον αὐτοῦ.
Στίχ. β’. Εὐλόγει, ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον, καὶ μὴ ἐπιλανθάνου πάσας τὰς ἀνταποδόσεις αὐτοῦ.
Στίχ. γ’. Κύριος ἐν τῷ οὐρανῷ ἡτοίμασε τὸν θρόνον αὐτοῦ, καὶ ἡ βασιλεία αὐτοῦ πάντων δεσπόζει.
Δόξα Πατρὶ… Καὶ νῦν…
Segunda Antífona
Vers. 1: Louva, ó minha alma, o Senhor! Louvarei o Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores a meu Deus enquanto eu existir.
Vers. 2: Bem-aventurado o que tem por protetor o Deus de Jacó, que põe sua esperança no Senhor, seu Deus.
Vers. 3: O Senhor reinará eternamente; ele é teu Deus, ó Sião, de geração em geração!
Glória… Agora e sempre…
Ó Filho Unigênito e Verbo de Deus…
Στίχ. α´. Αἴνει, ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον αἰνέσω Κύριον ἐν τῇ ζωῇ μου ψαλῶ τῷ Θεῷ μου ἕως ὑπάρχω.
Στίχ. β´. Μακάριος, οὗ ὁ Θεὸς Ἰακὼβ βοηθὸς αὐτοῦ, ἡ ἐλπὶς αὐτοῦ ἐπὶ Κύριον τὸν Θεὸν αὐτοῦ.
Στίχ. γ´. Βασιλεύσει Κύριος εἰς τὸν αἰῶνα, ὁ Θεός σου, Σιών, εἰς γενεὰν καὶ γενεάν.
Δόξα Πατρὶ… Καὶ νῦν…
Ὁ μονογενὴς Υἱὸς καὶ Λόγος τοῦ Θεοῦ…
Terceira Antífona
Vers. 1: Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo-nos n’Ele!
Στίχ. Αὕτη ἡ ἡμέρα Κυρίου, ἀγαλλιασώμεθα καὶ εὐφρανθῶμεν ἐν αὐτῇ.
Apolitíkion da Ressurreição (Modo Pl 4º)
Desceste das alturas, ó Misericordioso, e suportaste a sepultura por três dias, para nos libertar dos sofrimentos. Senhor, nossa vida e ressurreição, glória a Ti!
Εξ ύψους κατήλθες ο εύσπλαγχνος, ταφήν κατεδέξω τριήμερον, ίνα ημάς ελευθέρωσης των παθών. Η ζωή και η ανάστασις ημών, Κύριε δόξα σοι.
Apolitíkion Próprio (Modo Pl 4º)
Pela abundância de tuas lágrimas, o deserto estéril tornou-se fértil; e pela tua profunda compunção, tuas obras produziram o cêntuplo. tornaste-te assim, para o universo, um astro brilhante, pelos milagres, ó nosso justo pai João. Intercede, pois, ao Cristo Deus, pela salvação de nossas almas.
Ταῖς τῶν δακρύων σου ῥοαῖς, τῆς ἐρήμου τὸ ἄγονον ἐγεώργησας, καὶ τοῖς ἐκ βάθους στεναγμοῖς, εἰς ἑκατὸν τοὺς πόνους ἐκαρποφόρησας, καὶ γέγονας φωστὴρ τῇ οἰκουμένῃ, λάμπων τοῖς θαύμασιν· Ἰωάννη Πατὴρ ἡμῶν ὅσιε, πρέσβευε Χριστῷ τῷ Θεῷ, σωθῆναι τὰς ψυχὰς ἠμῶν.
Kondakion Próprio
Ofereceste-nos os teus ensinamentos como frutos sempre maduros que deleitam os corações dos que os ouvem com atenção, ó sábio e bem-aventurado! São eles, com efeito, uma escada que conduz para a celeste glória as almas dos que te honram com fé.
Kondakion (Modo Pl 4º)
A ti Maria, como ao general invencível, meus cantos de vitória. A ti, que me livraste de meus males, ofereço meus cantos de reconhecimento. Pois que tens uma força invencível, livra-me de toda espécie de perigos, a fim de que te aclame: Ave, Virgem e esposa!
Τῇ ὑπερμάχῳ στρατηγῷ τὰ νικητήρια, ὡς λυτρωθεῖσα τῶν δεινῶν, εὐχαριστήρια, ἀναγράφω σοι ἡ Πόλις σου, Θεοτόκε, ἀλλ’ ὡς ἔχουσα τὸ κράτος ἀπροσμάχητον, ἐκ παντοίων με κινδύνων ἐλευθέρωσον ἵνα κράζω σοι, Χαῖρε, Νύμφη ἀνύμφευτε.
Prokímenon (Modo Pl. 4º)
Refrão: Fazei votos ao Senhor nosso Deus e cumpri-os.
Vers.: Deus é conhecido na Judéia, grande é o seu nome em Israel.
Εὔξασθε καὶ ἀπόδοτε Κυρίῳ τῷ Θεῷ ἡμῶν.
Στίχ. Γνωστός ἐν τῇ Ἰουδαίᾳ ὁ Θεός, ἐν τῷ Ἰσραὴλ μέγα τὸ ὄνομα αὐτοῦ.
Epístola (Apóstolos)
Epístola do Apóstolo São Paulo aos HEBREUS [6: 13-20].
rmãos, com efeito, quando Deus fez a promessa a Abraão, não havendo um maior por quem jurasse, jurou por si mesmo, dizendo: Eu te cumularei de bênçãos e te multiplicarei grandemente. Abraão foi perseverante e viu a promessa realizar-se. Os homens juram por alguém mais importante, e para impedir qualquer contestação recorrem à garantia do juramento. Por isso, Deus mostrou com insistência aos herdeiros da promessa o caráter irrevogável da sua decisão, e interveio com juramento, a fim de que por dois atos irrevogáveis, nos quais não pode haver mentira por parte de Deus, nos comuniquem encorajamento seguro, a nós que tudo deixamos para conseguir a esperança proposta. A esperança, com efeito, é para nós qual âncora da alma segura e firme, penetrando para além do véu, onde Jesus entrou por nós, como precursor, feito Sumo Sacerdote para o éon, segundo a ordem de Melquisedec.
Aleluia (Modo 3º - Salmo 30)
Vers. 1: Vinde, regozijemo-nos no Senhor, cantemos as glórias de Deus, nosso Salvador!
Vers. 2: Apresentamo-nos diante dele com louvor, e celebremo-lo com salmos!
Στίχ. αʹ. Ἐπὶ σοί, Κύριε, ἤλπισα, μὴ καταισχυνθείην εἰς τὸν αἰῶνα· ἐν τῇ δικαιοσύνῃ σου ῥῦσαί με καὶ ἐξελοῦ με.
Στίχ. βʹ. Γενοῦ μοι εἰς Θεὸν ὑπερασπιστὴν καὶ εἰς οἶκον καταφυγῆς τοῦ σῶσαί με.
Evangelho
Santo Evangelho segundo o Evangelista São MARCOS [9: 17-31].
aquele tempo, alguém da multidão respondeu: «Mestre, eu te trouxe meu filho que tem um espírito mudo. Quando ele o toma, atira-o pelo chão. E ele espuma, range os dentes e fica rígido. Pedi aos teus discípulos que o expulsassem, mas não conseguiram». Ele , porém, respondeu: «Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei? Trazei-o a mim». Levaram-no até ele. O espírito, vendo a Jesus imediatamente agitou com violência o menino que, caindo por terra, rolava espumando. Jesus perguntou ao pai: «Há quanto tempo lhe sucede isto?». «Desde pequenino», respondeu; «e muitas vezes o atira ao fogo ou na água para fazê-lo morrer. Mas, se tu podes, ajuda-nos, tem compaixão de nós». Então Jesus lhe disse: «Se tu podes! … Tudo é possível àquele que crê!» Imediatamente, o pai do menino gritou: «Eu creio! Ajuda a minha incredulidade!». Vendo Jesus que a multidão afluía, conjurou severamente o espírito impuro, dizendo-lhe: «Espírito mudo e surdo, eu te ordeno: deixa-o e nunca mais entre nele!» E, gritando e agitando-o violentamente, saiu. E o menino ficou como se estivesse morto, de modo que muitos diziam que ele morrerá. Jesus, porém, tomando-o pela mão ergueu-o, e ele se levantou. Ao entrar em casa, perguntaram-lhe seus discípulos, a sós: «Por que não pudemos expulsá-lo?» Ele respondeu: «Essa espécie não pode sair a não ser com oração». Tendo partido dali, caminhava através da Galileia, mas não queria que ninguém soubesse, pois ensinava aos seus discípulos e dizia-lhes: «O Filho do Homem será entregue às mãos dos homens e eles o matarão e, morto, depois de três dias ele ressuscitará».
Hirmós
Em vez de «Verdadeiramente é digno e justo…» canta-se:
Ó cheia de graça, em ti rejubila-se toda a Criação. A assembléia dos anjos e o gênero humano te glorificam, ó templo santificado, paraíso espiritual e glória das virgens, na qual Deus se encarnou e da qual tornou-se Filho Aquele que é nosso Deus antes dos séculos.
Porque fez de teu seio um trono e as tuas entranhas, mais vastas do que os céus. Ó cheia de graça, em ti rejubila-se toda a Criação e te glorifica!
Ἐπὶ σοὶ χαίρει, Κεχαριτωμένη, πᾶσα ἡ κτίσις, Ἀγγέλων τὸ σύστημα, καὶ ἀνθρώπων τὸ γένος· ἡγιασμένε ναέ, καὶ Παράδεισε λογικέ, παρθενικὸν καύχημα, ἐξ ἧς Θεός ἐσαρκώθη, καὶ παιδίον γέγονεν, ὁ πρὸ αἰώνων ὑπάρχων Θεὸς ἡμῶν.
Ἦχος α’ ἐκ τοῦ Κε (μέλος ἀρχαῖον)
Τὴν γὰρ σὴν μήτραν, θρόνον ἐποίησε, καὶ τὴν σὴν γαστέρα, πλατυτέραν οὐρανῶν ἀπειργάσατο. Ἐπὶ σοὶ χαίρει Κεχαριτωμένη, πᾶσα ἡ κτίσις, δόξα σοι.
Kinonikón (Modo 2º)
Louvai o Senhor nos céus, louvai-O nas alturas! Aleluia!
Αἰνεῖτε τὸν Κύριον ἐκ τῶν οὐρανῶν. Ἀλληλούϊα.
«São João Clímaco»
ão João Clímaco nasceu por volta de 579 e morreu no Egito, no ano 649. Aos 60 anos foi eleito abade do Mosteiro do Sinai. Seu nome “Clímaco” é um codinome derivado da obra escrita em grego, intitulada “Klimax tou Paradeisou”. Sua obra ficou tão afamada que rapidamente o autor era referido como “João da Escada” ou, “João Clímaco”.
Escreveu esta obra quando ainda era abade. Em 30 capítulos ou 30 degraus, como preferia chamar, explicava quais os vícios perigosos para os monges e quais as grandes virtudes que os distinguiam. O próprio João Clímaco comparava sua obra à escada de Jacó ou também aos 30 anos da vida de Jesus.
A obra encontrou aceitação e rápida divulgação: atesta-se a existência de 33 manuscritos gregos, muitas traduções latinas, siríacas, armênias, eslavas e árabes. Junto à obra, como apêndice, está um importante documento que orienta os abades a exercer santamente sua autoridade dentro do monastério.
Para São João Clímaco, o ideal monástico é uma vida hesycasta onde trava-se uma guerra invisível e constante contra os maus pensamentos para que eles não atrapalhem a vida de oração do monge. Ele era um bom conhecedor dos Antigos Padres – dos solitários do deserto egípcio aos Padres da Palestina. Considerava a vida monástica como necessária para a vida da Igreja, não só como um apostolado, mas como exemplo de vida a ser seguida.
Para João Clímaco, os monges devem influenciar a Igreja por viverem uma vida angelical, embora ainda possuíssem um corpo material e corruptível. Dizia que o chamado à vida monástica é para poucos e não para todos.
Após termos vivido as riquezas da celebração do “Domingo da Venerável e Vivificante Cruz”, o domingo posterior nos convida a descobrir os valores da oração, do sacrifício e dos jejuns, tendo como exemplo São João Clímaco. Não é difícil encontrarmos cristãos que pensem que a prática da oração constante e do jejum seja um dever exclusivamente daqueles que abraçaram a vida religiosa.
Parece que num mundo tão materializado, a prática da oração e do jejum são relegados ao esquecimento. A Igreja enfatiza que tais práticas são extensivas a todos os cristãos, pois através delas encontraremos caminhos que nos levam à santidade. Embora a vida monástica não seja para todos, como dizia São João Clímaco, alguns exemplos porém, devem ser seguidos . Entre eles estão a oração e o jejum. Assim dizia a respeito:
«A Oração é o jejum da mente, pois quando rezamos afastamos dela pensamentos mundanos para nos elevar até Deus. O Jejum e a abstinência de certos alimentos é a oração do corpo, pois educamos nossa vontade corporal para se chegar à perfeição espiritual. O jejum refreia a tagarelice. Ele nos fará misericordiosos e dispostos a obedecer; destrói os pensamentos maus e elimina a insensibilidade do coração. O jejum é uma maneira de exprimir o amor e a generosidade; através dele, sacrificam-se os prazeres da terra, para obter as alegrias do céu».
No jejum, o homem fundamenta sua vida em Deus e não em si mesmo. Através de um corpo educado pela vontade, buscamos a Deus Uno e Trino, verdadeiro alimento e verdadeira água viva.
São João Clímaco definia a oração como uma profunda amizade com Deus. O amigo sente necessidade de estar com o seu amigo. Desta forma a saudade de se estar com Deus é amenizada pela oração. A oração é o oxigênio da alma. É o hálito do Espírito Santo que perpassa todo o interior da pessoa.
«Orai sem cessar», dizia São Paulo. Este conselho paulino não pode ser entendido como o afastamento completo de nossas responsabilidades nem como escusa no cumprimento de nossos compromissos. Devemos rezar em nossos momentos de trabalho. Fazer do nosso trabalho um ato de louvor ao Criador é um ideal.
Grandes monges de longa experiência de vida em oração, nos dão algumas orientações para que possamos chegar ao amadurecimento espiritual. Para iniciarmos uma vida de oração são necessários alguns cuidados: devemos esforçar para evitar tudo o que agita o nosso coração, tudo que é causa de falta de atenção, de super excitação, tudo o que desperta as paixões ou nos torna ansiosos. Na medida do possível, devemos nos libertar do barulho, da agitação e da inquietação. Basta termos certeza que a graça de Deus nos é suficiente e a Ele nos entregar.
Não menos importante é nos libertar das inquietações internas: nossa alma deve estar apaziguada, tranquila e serena. Não podemos nos apresentar diante de Deus para rezar possuindo sentimentos de rancor, ódio, frieza no coração.
São João Clímaco também nos orienta que para se viver uma vida de oração verdadeira é preciso antes sermos obedientes à voz de nossa alma. Devemos obedecer à voz de nossa alma quando nosso corpo exige que se satisfaça suas vontades. A obediência é um instrumento indispensável, na luta contra a própria vontade.
«Ela é a condenação à morte dos membros do nosso corpo, em benefício da vida do espírito. Ela é ainda a sepultura da vontade própria, e a ressurreição da humildade»
(Escada, Degrau 3:3).
Por mais que façamos jejuns e ofereçamos nossa oração a Deus, é necessário termos consciência de que Deus não precisa do nosso jejum, nem tem necessidade da nossa oração. Ele é perfeito, nada lhe falta, e não pode precisar de coisa alguma que nós, suas criaturas, possamos lhe oferecer. Nada temos para lhe dar; mas, diz São João Crisóstomo, «Ele aceita que lhe apresentemos as nossas ofertas, para nossa própria santificação».
A maior oferenda que podemos apresentar ao Senhor, somos nós mesmos; e, só o poderemos fazer, entregando-lhe nossa vontade. Aprendemos isso pela obediência; e aprendemos a obedecer pela prática. Estar ciente destas verdades e ainda assim sermos pessoas de oração e de jejuns significa que o orgulho e a vaidade foram dominados.
A oração é uma das asas que nos erguem para o céu; a outra é a fé. Com uma asa só, não se pode voar: a fé sem a oração é tão vã quanto a oração sem a fé. Mas, se nossa fé for frágil demais, é bom clamarmos: “Senhor, dai-nos a fé!” . Sem a oração, não esperemos encontrar o que tanto procuramos: Deus. A vida de oração é exercitada pela prática constante. Podemos iniciar a passos lentos mas profundos. Cada passo um após o outro deverá ser sinal de progresso na vida espiritual. O tempo é o que menos conta, a qualidade de nossa oração é que faz a diferença.
Quando oramos, nosso “eu” deve calar-se. Segundo São Basílio, nossa oração deve conter quatro elementos: adoração, ação de graças, confissão dos pecados e pedido de salvação. Tanto a oração e o jejum nos auxiliam para a nossa salvação e santificação. A Igreja nos convida a prosseguir nesta caminhada de riquezas que nos fazem sentir encorajados a prosseguir rumo à perfeição. Que Deus nos ilumine e nos dirija nestes santos propósitos.
Referências Bibliográficas:
- BÍBLIA – Bíblia de Jerusalém (Nona Edição Revista e Ampliada). São Paulo: Paulus, 2013
- DE FIORES, Stefano. Dicionário de Espiritualidade, São Paulo: Ed. Paulinas, 1989.
- BERARDINO, Ângelo. Dicionário Patrístico e de Antiguidades Cristãs. Petrópolis: Ed. Vozes, 2002.
* Triódion é o tempo que abrange as 10 semanas de preparação para a Páscoa: três semanas antes da Quaresma e sete semanas de Quaresma. Esse tempo começa no Domingo do Publicano e do Fariseu e termina na tarde do Grande e Santo Sábado.