8° Domingo do Evangelho de Lucas (20º depois de Pentecostes - Modo 4º)
São Felipe, apóstolo (séc. I; São Gregório Palamás, arcebispo de Tessalônica; Santo e Grande Mártir Constantino de Hydra; Santos Justiniano, o Imperador, e sua esposa Teodora.
No Orthros (Matinas):
Evangelho:
Santo Evangelho segundo o Evangelista São MATEUS [28: 16-20].
aquele tempo, os onze discípulos caminharam para a Galileia, à montanha que Jesus lhes determinara. Ao vê-lo, prostraram-se diante dele. Alguns, porém, duvidaram. Jesus, aproximando-se deles, falou: «Todo poder foi me dado no céu e sobre a terra. Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tomem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!»
Na Divina Liturgia:
Primeira Antífona
Vers. 1: Bendize, ó minha alma, ao Senhor e todo o meu ser bendiga o seu santo nome.!
Vers. 2: Bendize, ó minha alma, ao Senhor e não esqueças nenhum de seus benefícios!
Vers. 3: O Senhor firmou no céu o seu trono e sua realeza governa o universo.
Glória… Agora e sempre….
Segunda Antífona
Vers. 1: Louva, ó minha alma, o Senhor! Louvarei o Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores a meu Deus enquanto eu existir.
Vers. 2: Bem-aventurado o que tem por protetor o Deus de Jacó, que põe sua esperança no Senhor, seu Deus.
Vers. 3: O Senhor reinará eternamente; ele é teu Deus, ó Sião, de geração em geração!
Glória… Agora e sempre…
Ó Filho Unigênito e Verbo de Deus…
Terceira Antífona
Vers. 1: Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo-nos n’Ele!
Apolitíkion da Ressurreição
Ouvindo do Anjo o alegre anúncio da ressurreição, que da antiga condenação nos libertou, as discípulas do Senhor disseram envaidecidas aos apóstolos: «A morte foi vencida, Cristo Deus ressuscitou, revelando ao mundo a grande misericórdia!»
Το φαιδρόν της αναστάσεως κήρυγμα, εκ του αγγέλου μαθούσαι αι του Κυρίου μαθήτριαι, και την προγονικήν απόφασιν απορρίψασαι, τοις αποστόλοις καυχώμεναι έλεγον, εσκύλευται ο θάνατος, ηγέρθη Χριστός ο Θεός, δωρούμενος τω κόσμω το μέγα έλεος.
Apolitíkion do Apóstolo São Felipe (Modo 3º)
Apóstolo Santo Felipe, intercede a Deus misericordioso, que conceda às nossas almas, a remissão de nossas transgressões.
Ἀπόστολε Ἅγιε Φίλιππε, πρέσβευε τῷ ἐλεήμονι Θεῷ, ἵνα πταισμάτων ἄφεσιν, παράσχῃ ταῖς ψυχαῖς ἡμῶν.
Kondákion (Modo 4º)
O templo puríssimo do Salvador, a Virgem | a preciosíssima câmara nupcial | o sagrado tesouro da glória de Deus | é apresentada hoje à Casa do Senhor | introduzindo com ela a graça do Espírito Divino | Os anjos de Deus a louvam clamando: | «Esta é o tabernáculo celeste!»
Κοντάκιον Ἦχος δ’
Ὁ ὑψωθεὶς ἐν τῷ Σταυρῷ
Ὁ καθαρώτατος ναὸς τοῦ Σωτῆρος, ἡ πολυτίμητος παστὰς καὶ Παρθένος, τὸ Ἱερὸν θησαύρισμα τῆς δόξης τοῦ Θεοῦ, σήμερον εἰσάγεται, ἐν τῷ οἴκῳ Κυρίου, τὴν χάριν συνεισάγουσα, τὴν ἐν Πνεύματι θείῳ, ἣν ἀνυμνοῦσιν Ἄγγελοι Θεοῦ΄ Αὕτη ὑπάρχει σκηνὴ ἐπουράνιος.
Prokímenon (Modo 4º Pl.)
Refrão: Por toda a terra ressoa a sua voz (Sl 19[18]:5).
Vers.: Os céus contam a glória de Deus (e o firmamento proclama a obra de suas mãos (Sl 19[18]:2).
Epístola (Apóstolos)
Epístola do Apóstolo São Paulo aos CORÍNTIOS [4:9-16].
rmãos, julgo que Deus nos expôs, a nós, apóstolos, em último lugar, como condenados à morte: fomos dados em espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens. Somos loucos por causa de Cristo, vós, porém, sois prudentes em Cristo; somos fracos, vós, porém, sois fortes; vós sois bem considerados, nós, porém, somos desprezados. Até o momento presente ainda sofremos fome, sede e nudez; somos maltratados, não temos morada certa e fatigamo-nos trabalhando com as próprias mãos. Somos amaldiçoados, e bendizemos; somos perseguidos, e suportamos; somos caluniados, e consolamos. Até o presente somos considerados como o lixo do mundo, a escória do universo. Não vos escrevo tais coisas para vos envergonhar, mas para vos admoestar como a filhos bem-amados. Com efeito, ainda que tivésseis dez mil pedagogos em Cristo, não teríeis muitos pais, pois fui eu quem pelo Evangelho vos gerou em Cristo Jesus. Exorto-vos, portanto: sede meus imitadores.
Aleluia (Modo 4º)
Vers. 1: Cinge a tua espada com majestade e esplendor,
cavalga vitorioso pela causa da verdade e da justiça (Sl 45[44]:7).
Vers. 1: Amaste a justiça e detestaste a iniquidade,
por isso Deus te ungiu com o óleo da alegria (Sl 45[44]:8).
Evangelho
Santo Evangelho segundo o Evangelista São LUCAS [10: 25-37].
aquele tempo, [enquanto Jesus falava] eis que um legista se levantou e disse para experimentá-lo: «Mestre, que farei para herdar a vida eterna?» Ele disse: «Que está escrito na Lei? Como lês?» Ele, então, respondeu: «Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, com toda a tua força e de todo o teu entendimento; e a teu próximo como a ti mesmo». Jesus disse: «Respondeste corretamente; faze isso e viverás». Ele, porém, querendo se justificar, disse a Jesus: «E quem é meu próximo?» Jesus retomou: «Um homem descia de Jerusalém a Jericó, e caiu no meio de assaltantes que, após havê-lo despojado e espancado, foram-se, deixando-o semimorto. Casualmente, descia por esse caminho um sacerdote; viu-o e passou adiante. Igualmente um levita, atravessando esse lugar, viu-o e prosseguiu. Certo samaritano em viagem, porém, chegou junto dele, viu-o e moveu-se de compaixão. Aproximou-se, cuidou de suas chagas, derramando óleo e vinho, depois colocou-o em seu próprio animal, conduziu-o à hospedaria e dispensou-lhe cuidados. No dia seguinte, tirou dois denários e deu-os ao hospedeiro, dizendo: ‘Cuida dele, e o que gastares a mais, em meu regresso te pagarei’. Qua1 dos três, em tua opinião, foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes? » Ele respondeu: «Aquele que usou de misericórdia para com ele». Jesus então lhe disse: «Vai, e também tu, faze o mesmo».
Kinonikón
Louvai o Senhor nos céus | louvai-O nas alturas! Aleluia, aleluia, aleluia!
«O Bom Samaritano»
o Novo Testamento, samaritano é o nome dado aos habitantes do distrito de Samaria; mas o nome tem profundos matizes religiosos. Para os judeus, os Samaritanos eram um grupo herético e cismático e por isso, eram repudiados e odiados mais do que os pagãos. A origem do cisma entre judeus e samaritanos se aprofunda na primitiva história israelita. Os judeus que se estabeleceram em Jerusalém após o Edito de Ciro (538 a.C) não consideravam a comunidade que habitava no distrito de Samaria, e antigo centro de Israel, como verdadeiros israelitas. Eles eram descendentes de uma população mista de assírios e mesopotâmicos. Essas populações tinham introduzido na terra de Israel o culto a seus próprios deuses.
Essas crenças estrangeiras parecem que não sobreviveram, pois entre as inúmeras agressões por parte dos judeus aos samaritanos, não encontramos acusações que mostrem que os samaritanos adorassem deuses estrangeiros.
Quando a comunidade judaica iniciou a reconstrução do Templo em Jerusalém, os samaritanos quiseram se unir para tal tarefa, mas foram repelidos violentamente. Várias vezes, os samaritanos questionaram a forma que os judeus se utilizavam para reconstruir o Templo. A rixa entre os judeus e samaritanos não se limitava ao campo sócio-religioso, tinha raízes políticas, igualmente. As diferenças políticas, sociais e as disputas de poder minavam as relações de convívio. Como era impossível unir-se para a reconstrução do Templo, os samaritanos construíram para seu povo um novo templo na cidade de Garizim. A partir deste fato então, o cisma entre essas dois povos tornou-se aberto e definitivo, chegando a ponto de os samaritanos atacarem os peregrinos que por sua aldeia passavam a caminho do templo de Jerusalém ou quando de lá retornavam.
A hostilidade entre os judeus e samaritanos emerge diversas vezes na Bíblia. O Eclesiástico (50, 25-26) refere-se a eles como sendo ‘o povo louco’ que vivem em Siquém de “não-nação”. Alguns afirmam que a Jesus, certa vez, foi proferido um grave insulto quando o chamaram de ‘samaritano’ (Jo 8,48).
Lucas, no capítulo nove, narra que uma aldeia samaritana recusou hospitalidade a Jesus e a seus discípulos durante uma viagem da Judéia para Jerusalém. Também os discípulos de Jesus, ficaram escandalizados quando viram seu Mestre conversando com uma mulher samaritana e, mais ainda, quando pediu-lhe água para saciar sua sede (Jo 4).
Jesus, por sua vez, quis quebrar esta barreira que separava os filhos de Deus. Na cura dos dez leprosos elogiou a atitude de um samaritano que retornou do Templo para agradecer-lhe o milagre (Lc 17).
Este é o panorama sócio-religioso, o pano de fundo político sobre o qual o Evangelho deste domingo é construído. Diagnosticamos assim o grau de exigência do amor que Jesus veio revelar. É o amor não puramente humano; é o amor divino, capaz de quebrar preconceitos históricos; o amor que lança seus ramos para além daquilo que imaginamos ser os nossos limites. Para ilustrar esta exigência e grandeza, Jesus responde a pergunta que um conhecedor da Lei o fez: “o que devo fazer para herdar vida eterna ?” Jesus lhe cita os mandamentos do amor a Deus (Dt 6,5) e do amor ao próximo (Lv 19,18), coisas que o perito deveria saber! Tentando justificar sua pergunta, ele explica a Jesus que fez tal questionamento, não por desconhecer os mandamentos, mas porque existem dúvidas sobre quem é o “próximo”. O Evangelista São Lucas situa esta narrativa em uma viagem que Jesus fez através da Samaria, e põe em relevo a problemática sócio cultural que ali se passava: a questão dos samaritanos.
Então Jesus conta uma história. Alguém desce a serra de Jerusalém em direção a Jericó, pela estrada que sai do Templo e atravessa as escarpas inóspitas do deserto de Judá. É assaltado, e os ladrões o deixam semimorto na beira da estrada. Passa um sacerdote de Jerusalém: desvia-se. Passa um levita do Templo: desvia-se. E passa um samaritano. Este se aproxima, cuida das feridas e leva o homem à hospedaria, dando ao dono uma provisão para que dele cuide nos próximos dias. E Jesus pergunta, mineiramente: “Quem é o próximo do homem que caiu nas mãos dos ladrões?” A resposta se impõe: “Aquele que usou de misericórdia para com o coitado”. O senhor doutor poderia ter dito diretamente: o samaritano, mas tal palavra era difícil demais para sair de sua boca… De qualquer modo, teve de admitir, ainda que em termos indiretos, que o próximo era um samaritano.
O “próximo” não depende de origem, raça, instrução ou qualquer outro de nossos critérios de discriminação. Há quem seria “próximo” por natureza, como o sacerdote e o levita, mas não se comportam assim. Há quem é “inimigo” por natureza, como o samaritano, mas se torna próximo do judeu assaltado.
Assim como não existia ruptura mais profunda que a entre os judeus e samaritanos, sendo dissolvida pelo amor, da mesma forma, devemos nos deixar mover pelo amor para romper tudo o que nos possa separar. A amplitude e a profundidade da doutrina do amor de Jesus não podia exigir ato maior de um judeu: aceitar um samaritano como irmão. Sua doutrina continua a mesma, não se modificou em nada. Mesmo assim há, em tempos atuais, quem queira separações, divisões, rompimentos, distância entre os ‘perfeitos’ e os pecadores, entre os ‘santos’ e os miseráveis entre os ‘puros’ e os maculados.
Não basta que conheçamos o que Deus quer de nós, é preciso concretizar; é preciso agir; é preciso viver.
«Filhinhos, nisto sabemos se conhecemos a Deus, se guardamos seus mandamentos. Aquele que guarda os mandamentos de Deus, nele o amor é verdadeiro e perfeito. Quem ama seu irmão permanece na luz. Não amemos com palavras nem com a língua, mas com obras e em verdade» (I Jo). «Quem ama a Deus, não pode deixar de amar cada homem como a si próprio independente da situação, condição e exigência».
São Máximo o Confessor (+680)
Referências Bibliográficas:
- BÍBLIA – Bíblia de Jerusalém (Nona Edição Revista e Ampliada). São Paulo: Paulus, 2013.
- KONINGS, Johan. Descobrir a Bíblia a partir da Liturgia. São Paulo: Ed. Loyola. 1997.
- MACKENZE, John Dicionário Bíblico. São Paulo: Ed Paulinas, 1983.