Skip to content
Há 20 anos, conectando o Brasil com o Mundo Ortodoxo
facebook
twitter
youtube
pinterest
ECCLESIA Brasil
Telefone +55 48 98 4567 000
E-mail [email protected]
Localização Florianópolis, SC (Brasil)
  • BYBLOS
    • SINAXE
    • Catequese
    • Diálogo Ecumênico
    • Documentos da Igreja
      • Creta 2016
    • Doutrina Social da Igreja
    • Espiritualidade
    • Estudos Bíblicos
    • Filosofia
    • História da Igreja
    • Iconografia
    • Igreja Ortodoxa
    • Patriarcado Ecumênico
    • Liturgia
    • Miscellaneous
    • Nossa Fé Ortodoxa
    • Pais da Igreja
    • Sacramentos
    • Temas Pastorais
    • Teologia

27 de novembro: 13° Domingo do Evangelho de Lucas

Home > Byblos > 27 de novembro: 13° Domingo do Evangelho de Lucas

27 de novembro: 13° Domingo do Evangelho de Lucas

27 de novembro de 2022 | By ecclesia
0

13° Domingo do Evangelho de Lucas (24º depois de Pentecostes - Modo Grave)

Ss. Tiago, o Grande Mártir da Persa († 764); Natanael de Nítria; Pinofrios, o Milagroso do Egito; Tiago, o Milagroso, bispo de Rostov; esl.: Ícone da «Mãe de Deus do Sinal»; Gregório de Sinai e seu discípulo Gerasimos; Arsenios de Rhaxos.

No Orthros (Matinas):

Evangelho:

Santo Evangelho segundo o Evangelista São MARCOS [16: 1-8].

aquele tempo, 1passado o sábado, Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e Salomé compraram aromas para ir ungí-lO. 2De madrugada, no primeiro da semana, elas foram ao túmulo ao nascer do sol. 3E diziam entre si: «Quem rolará a pedra da entrada do túmulo para nós?» 4E erguendo os olhos, viram que a pedra já fora removida. Ora, a pedra era muito grande. 5Tendo entrado no túmulo, elas viram um jovem sentado à direita vestido com uma túnica branca, e ficaram cheias de espanto. 6Ele, porém, lhes disse: «Não vos espanteis! Estais procurando Jesus de Nazaré, o Crucificado. Ressuscitou, não está aqui. Vede o lugar onde o puseram. 7Mas ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que Ele vos precede na Galileia. Lá o vereis, como vos tinha dito.» 8Elas saíram e fugiram do túmulo, pois um tremor e um estupor se apossaram delas. E nada contaram a ninguém, pois tinham medo.

Na Divina Liturgia:

Primeira Antífona (Modo 2º)

Vers. 1: Bendize, ó minha alma, ao Senhor e todo o meu ser bendiga o seu santo nome.!
Vers. 2: Bendize, ó minha alma, ao Senhor e não esqueças nenhum de seus benefícios!
Vers. 3: O Senhor firmou no céu o seu trono e sua realeza governa o universo.
Glória… Agora e sempre….

Στίχ. α´. Εὐλόγει ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον, καὶ πάντα τὰ ἐντός μου τὸ ὄνομα τὸ ἅγιον αὐτοῦ.
Στίχ. β’. Εὐλόγει, ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον, καὶ μὴ ἐπιλανθάνου πάσας τὰς ἀνταποδόσεις αὐτοῦ.
Στίχ. γ’. Κύριος ἐν τῷ οὐρανῷ ἡτοίμασε τὸν θρόνον αὐτοῦ, καὶ ἡ βασιλεία αὐτοῦ πάντων δεσπόζει.
Δόξα Πατρὶ… Καὶ νῦν…

Segunda Antífona (mesmo modo)

Vers. 1: Louva, ó minha alma, o Senhor! Louvarei o Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores a meu Deus enquanto eu existir.
Vers. 2: Bem-aventurado o que tem por protetor o Deus de Jacó, que põe sua esperança no Senhor, seu Deus.
Vers. 3: O Senhor reinará eternamente; ele é teu Deus, ó Sião, de geração em geração!
Glória… Agora e sempre…
Ó Filho Unigênito e Verbo de Deus…

Στίχ. α´. Αἴνει, ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον αἰνέσω Κύριον ἐν τῇ ζωῇ μου ψαλῶ τῷ Θεῷ μου ἕως ὑπάρχω.
Σῷσον ἡμᾶς Υἱὲ Θεοῦ, ὁ ἐν Ἁγίοις θαυμαστός, ψάλλοντάς σοι. Ἀλληλούϊα.
Στίχ. β´. Μακάριος, οὗ ὁ Θεὸς Ἰακὼβ βοηθὸς αὐτοῦ, ἡ ἐλπὶς αὐτοῦ ἐπὶ Κύριον τὸν Θεὸν αὐτοῦ.
Στίχ. γ´. Βασιλεύσει Κύριος εἰς τὸν αἰῶνα, ὁ Θεός σου, Σιών, εἰς γενεὰν καὶ γενεάν.
Δόξα Πατρὶ… Καὶ νῦν…
Ὁ μονογενὴς Υἱὸς καὶ Λόγος τοῦ Θεοῦ…

Terceira Antífona

Vers. 1: Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo-nos n’Ele!

Στίχ. Αὕτη ἡ ἡμέρα Κυρίου, ἀγαλλιασώμεθα καὶ εὐφρανθῶμεν ἐν αὐτῇ.

Apolitíkion da Ressurreição (Modo Grave)

Pela tua cruz, destruíste a morte, abriste as portas do paraíso ao ladrão, converteste em alegria o pranto das Miróforas, e lhes disseste que aos apóstolos anunciassem, que ressuscitaste dos mortos, ó Cristo Deus, revelando ao mundo a grande misericórdia.

Κατέλυσας τω Σταυρώ σου τον θάνατον ηνέωξας τω ληστή τον παράδεισον, των μυροφόρων τον θρήνον μετέβαλες, και τοις σοις αποστόλοις κηρύττειν επέταξας, ότι ανέστης Χριστέ ο Θεός, παρέχων τω κόσμω το μέγα έλεος.

Apolitíkion do Apóstolo Santo André (Modo 4º)

Ó glorioso santo André, primeiro chamado dentre os apóstolos: como irmão de Pedro, o Corifeu, implora ao Senhor a paz ao mundo, e às nossas almas, a grande misericórdia!

Ὡς τῶν Ἀποστόλων Πρωτόκλητος, | καὶ τοῦ Κορυφαίου αὐτάδελφος, | τὸν Δεσπότην τῶν ὅλων Ἀνδρέα ἱκέτευε, | εἰρήνην τὴ οἰκουμένη δωρήσασθαι, | καὶ ταὶς ψυχαὶς ἡμῶν τὸ μέγα ἔλεος. 

Kondakion (Modo 4º)

Ó Senhor, tua Mártir recebeu dignamente de ti a coroa da incorrupção, que disputou por nosso Deus imortal.  Com teu poder derrotou os tiranos, e os demônios impotentes precipitavam-se à sua palavra. Ó Cristo Deus, por seus fervorosos apelos, salva nossas almas.

Ὁ Μάρτυς σου, Κύριε, ἐν τῇ ἀθλήσει αὐτοῦ, τὸ στέφος ἐκομίσατο τῆς ἀφθαρσίας, ἐκ σοῦ τοῦ Θεοῦ ἡμῶν· ἔχων γὰρ τὴν ἰσχύν σου, τοὺς τυράννους καθεῖλεν, ἔθραυσε καὶ δαιμόνων, τὰ ἀνίσχυρα θράση. Αὐτοῦ ταῖς ἱκεσίαις, Χριστὲ ὁ Θεός, σῶσον τὰς ψυχὰς ἡμῶν.

Kondakion (Modo 3º)

Hoje a Virgem dá à luz o Eterno, e a terra é uma gruta ao Inacessível. Os anjos e os pastores louvam-nO, e os magos, guiados pela estrela, avançam. Tu nasceste para nós, ó Menino, Deus antes de todo tempo.

Ἡ Παρθένος σήμερον, τὸν ὑπερούσιον τίκτει, καὶ ἡ γῆ τὸ Σπήλαιον, τῷ ἀπροσίτῳ προσάγει. Ἄγγελοι μετὰ Ποιμένων δοξολογοῦσι. Μάγοι δὲ μετὰ ἀστέρος ὁδοιποροῦσι. Δι᾿ ἡμᾶς γὰρ ἐγεννήθη, Παιδίον νέον, ὁ πρὸ αἰώνων Θεός.

Prokímenon (Modo 2º Pl.)

Refrão: O Senhor dará fortaleza ao seu povo.
Vers.: Tributai ao Senhor, ó filos de Deus!

Κύριος ἰσχὺν τῷ λαῷ αὐτοῦ δώσει.
Στίχ.  Ἐνέγκατε τῷ Κυρίῳ υἱοὶ Θεοῦ, ἐνέγκατε τῷ Κυρίῳ δόξαν καὶ τιμὴν.

Epístola (Apóstolos)

Epístola do Apóstolo São Paulo aos EFÉSIOS [2:14-22].

rmãos, 14Cristo é a nossa paz: de ambos os povos fez um só, tendo derrubado o muro de separação e suprimido em sua carne a inimizade, 15a fim de criar em si mesmo um só Homem Novo, estabelecendo a paz, 16e de reconciliar a ambos com Deus em um só Corpo, por meio da cruz, na qual ele matou a inimizade. 17Assim, ele veio e anunciou paz a vós que estáveis longe e paz aos que estavam perto, 18pois, por meio dele, nós, judeus e gentios, num só Espírito, temos acesso junto ao Pai. 19Portanto, já não sois estrangeiros e adventícios, mas concidadãos dos santos e membros da família de Deus. 20Estais edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, do qual é Cristo Jesus a pedra angular. 21Nele bem articulado, todo o edifício se ergue em santuário sagrado, no Senhor, 22e vós, também, nele sois co-edificados para serdes uma habitação de Deus, no Espírito.

Aleluia (Modo Grave)

Vers. 1: É bom exaltar o Senhor, e cantar louvores ao teu nome, ó Altíssimo (Sl 92, 1).
Vers. 2: Proclamar pela manhã o teu amor, e a tua fidelidade pela noite (Sl 91, 2).

Στίχ. αʹ. Ἀγαθὸν τὸ ἐξομολογεῖσθαι τῷ Κυρίῳ, καὶ ψάλλειν τῷ ὀνόματί σου, Ὕψιστε.
Στίχ. β’. Τοῦ ἀναγγέλλειν τῷ πρωῒ τὸ ἔλεός σου, καὶ τὴν ἀλήθειάν σου κατὰ νύκτα.

Evangelho

Santo Evangelho segundo o Evangelista São LUCAS [18: 18-27].

aquele tempo, 18certo homem de posição lhe perguntou: «Bom Mestre, que devo fazer para herdar a vida eterna?» 19Jesus respondeu: «Por que me chamas bom? Ninguém é bom, senão só Deus! 20Conheces os mandamentos: Não cometas adultério, não mates, não roubes, não levantes falso testemunho; honra teu pai e tua mãe». 21Ele disse: «Tudo isso tenho guardado desde a minha juventude».22Ouvindo, Jesus disse-lhe: «Uma coisa ainda te falta. Vende tudo o que tens, distribui aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois vem e segue-me». 23Ele, porém, ouvindo isso, ficou cheio de tristeza, pois era muito rico. 24Vendo-o assim, Jesus disse: «Como é difícil aos que têm riquezas entrar no Reino de Deus! 25Com efeito, é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!» 26Os ouvintes disseram: «Mas então, quem poderá salvar-se?» 27Jesus respondeu: «As coisas impossíveis aos homens são possíveis a Deus».

Kinonikón

Louvai o Senhor nos céus | louvai-O nas alturas! Aleluia!

Αἰνεῖτε τὸν Κύριον ἐκ τῶν οὐρανῶν. Ἀλληλούϊα.

SUBSÍDIOS HOMILÉTICOS

Pe. Pavlos, Hieromonge

«SOBRE A SALVAÇÃO DOS RICOS»

Homilia de São Clemente de Alexandria

ormula-se ao Senhor e Mestre uma pergunta que a ninguém mais conviria senão a ele. Pergunta-se à Vida acerca da vida, ao Salvador sobre a salvação, ao Mestre sobre a síntese de seus ensinamentos, à Verdade sobre a verdade, à Imortalidade sobre a imortalidade, à Palavra sobre a palavra do Pai, ao Perfeito sobre o perfeito descanso, ao Incorrupto sobre a verdadeira incorrupção. Formula-se ao Senhor uma pergunta sobre aquilo mesmo pelo que ele descera ao mundo, e que constituía o objeto de seu ensino: a vida eterna. Ora, como Deus, ele sabia o que ia ser perguntado e qual a resposta que ele próprio, ao interrogar por sua vez, haveria de receber. Quem, mais do que ele, era profeta dos profetas e senhor de todo espírito profético? Quando o chamam bom, faz desta palavra a ocasião para começar o ensinamento, levando o discípulo ao Deus bom, primeiro e único dispensador da vida eterna, da vida que o Filho comunica, recebida do Pai. Assim, o maior dentre os ensinamentos sobre a vida eterna deve ser imediatamente impresso na alma, a saber: o reconhecimento do Deus eterno, a compreensão de que Deus é o primeiro, o supremo, o único, o bom. O princípio inabalável e fundamental para a vida, é a ciência de Deus, do Deus eterno que nos doa o eterno, do Ser do qual tudo recebe o ser e a permanência no ser. A ignorância de Deus é a morte. O conhecimento de Deus, o relacionamento com ele, seu amor: eis a única coisa que é vida. A primeira recomendação que Jesus faz a quem busca a verdadeira vida é a de conhecer àquele que ninguém conhece, exceto o Filho e exceto quem recebe a revelação do Filho. (Mt 11, 17) Trata-se, portanto, de conhecer a grandeza do Salvador e a nova graça, a qual sendo dada pelo Filho, supera a dada pelo servo, conforme diz o Apóstolo: “a lei nos foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade por obra de Jesus Cristo”. (Jo 1, 17) Realmente, se a lei de Moisés fosse capaz de proporcionar a vida, teria sido inútil a descida do Salvador, sua paixão por nossa causa, seu itinerário percorrido do nascimento ao fim. E inútil teria sido que o jovem rico, após ter observado desde cedo todos os mandamentos, se viesse a prostrar ante outra instância para solicitar o prêmio da vida imortal. Ele não só cumprira a Lei, mas a cumprira desde a infância… Que há de especial se a velhice não se entrega ao pecado? O lutador admirável é o que, desde o verão da existência, se mostra amadurecido como se já vivesse precocemente a idade provecta. Contudo, por grande que fosse tal lutador, estaria bem consciente de que, se quanto à justiça nada lhe faltava, quanto à vida tudo lhe faltava. E então pede-a ao único capaz de concedê-la. Quanto à Lei, estava seguro desde muito tempo; ei-lo, porém súplice ante o Filho de Deus. De uma fé passa a outra. Como alguém que não se sente seguro na barca da Lei, como o viajante que navega, ele busca o Salvador. Jesus não o repreende, por não ter de fato cumprido toda a Lei, antes o ama e felicita por seguir fielmente a instrução recebida. Entretanto, no que concerne a vida eterna, declara-o imperfeito, por não ter realizado o que a perfeição requer. Operário da Lei, sem dúvida, mas ainda deficiente quanto à vida eterna. Ninguém contesta que a Lei era boa, pois “o mandamento é santo” (Rm 7, 12), no sentido de uma função de pedagogia e de instrução prévia (Gl 3, 24), a caminhar para a culminância da lei de Jesus e para a graça. Mas a plenitude da Lei é Cristo, que justifica tudo o que crê. E Jesus, não sendo escravo, não faz escravos mas filhos, irmãos, co-herdeiros seus, todos os que cumprem a vontade de seu Pai. “Se queres ser perfeito” (Mt 19, 21): logo, ainda não o era, pois o perfeito não se aperfeiçoa. E disse divinamente “se queres”, indicando a faculdade de livre arbítrio daquele com quem falava. Ao homem, enquanto livre, cabia a escolha; a Deus cabe dar, como Senhor e Juiz que é. Ele dá aos que querem, se esforçam e pedem, a fim de que sua salvação brote deles mesmos. Deus não força a ninguém, a violência lhe é inimiga. Ele atende aos que buscam, dá aos que pedem, abre aos que batem à porta (Mt 7, 7). Assim, se queres, se realmente, sem te enganares a ti mesmo, queres obter o que te falta, “uma coisa te falta”, a única coisa que permanece, aquilo que é bom e está acima da Lei, o próprio dos que vivem. Infelizmente o jovem que desde a infância observava a Lei, e tão alto proclama sua observância, não foi capaz de comprar a Única coisa própria do Salvador, para assim chegar à desejada vida eterna. E retirou-se triste, pesaroso pelo mandamento daquela vida que viera suplicar. Ora, que o moveu à fuga e o fez deixar o Mestre, deixar a súplica, a esperança e os esforços já iniciados? A palavra “vende tudo o que tens!” E que quer dizer ela? Não o que levianamente pensam alguns. O Senhor não nos manda lançarmos fora os bens e nos afastarmos de toda riqueza. O que ele deseja é desterrarmos da alma os vãos juízos sobre as riquezas, a cobiça desenfreada, a avareza, as solicitudes, os espinhos do século, que sufocam a semente da verdadeira vida. Não é grande façanha, digna de emulação, carecer dos bens mas não ter a tendência para a vida eterna. Se o caso fosse este, os que nada possuem, os destituídos de todo auxílio, que diariamente passam mendigando pelos caminhos, sem conhecimento de Deus e de sua justiça, seriam, pelo simples fato da extrema indigência, os mais felizes e amados por Deus, os únicos que alcançariam a vida eterna. Aliás, nem é novidade o renunciar às riquezas em prol dos necessitados e pobres, pois também isto foi feito por muitos antes da vinda do Salvador: por uns, com o fim de se dedicarem às letras e por amor da sabedoria morta; por outros, com o fim de obtenção da fama e da vã glória: Anaxágoras, Demócrito, Crates… Portanto, que diz o Senhor como coisa nova, própria de Deus, como única coisa que vivifica e difere do que não salvou antes os homens? Que nos indica e ensina o novo homem, o Filho de Deus? Não nos manda o que simplesmente dá na vista e outros já fizeram, mas algo maior, mais divino e mais perfeito, aí significado, a saber: desnudarmos a alma das paixões, arrancarmos e projetarmos longe o que é alheio ao espírito. Eis o ensinamento próprio do crente, eis a doutrina digna do Salvador! Assim, os que antes do Senhor depreciaram os bens exteriores, sem dúvida abandonaram e perderam suas riquezas, mas as paixões de suas almas, penso eu que ainda as aumentaram. Porque, imaginando terem feito algo de sobre-humano, vieram a cair na soberba, na petulância, na vanglória e no menosprezo aos demais. Como então haveria o Salvador de recomendar aos que irão viver para sempre algo nocivo à vida, que ele santamente promete? Pode acontecer que alguém, embora renunciando ao peso dos bens e riquezas, mantenha o desejo de tudo isso na alma. Desprendeu-se dos bens, mas ao sentir falta deles e ao desejá-los de novo, está duplamente atormentado: por tê-los deixado e por desejá-los. Porque na verdade é impossível carecer do necessário e não estar preocupado para obtê-lo; mas com isto o espírito se desvia das coisas mais importantes. Quão mais proveitoso é o contrário! Possuir, de um lado, o suficiente, não ter que se angustiar para procurá-lo, e de outro lado poder ajudar aos que precisam. Se ninguém tivesse nada, como haveria comunhão de bens entre os homens? Não é claro que essa doutrina do abandono de tudo iria contrariar outros ensinamentos do Senhor? “Fazei amigos com as riquezas da iniqüidade, a fim de que, quando precisardes, vos recebam nos eternos tabernáculos”. (Lc, 16, 9) ”Tende tesouros nos céus, onde as traças e a ferrugem não os consomem nem os ladrões podem roubar” (Mt 6, 19). Como dar de comer ao que tem fome, de beber ao que tem sede, vestir o nu, acolher o desamparado coisas todas que devem ser feitas sob a ameaça do fogo eterno e das trevas exteriores – se não se tem com que fazê-lo? Ademais, o próprio Senhor, hospedando-se na casa de Zaqueu e Mateus, que eram ricos e publicanos, não lhes ordena desfazerem-se das riquezas, mas – impondo um justo juízo e rechaçando a injustiça – termina por dizer: “hoje veio a salvação a esta casa, porque também este homem é filho de Abraão”. (Lc 19, 9) Elogiava assim o uso das riquezas, enquanto mandava que servissem à comunicação – a dar de beber ao que tem sede, de comer ao faminto, à acolhida do peregrino, à vestição do nu. Se não é possível obviar a tais necessidades sem haveres, e se o Senhor ordena o despojamento dos haveres, está então mandando que se dê e não se dê, se dê de comer e não se dê de comer etc., o que seria absurdo pensar. Portanto, não há que abandonar os bens capazes de ser úteis a nosso próximo. Aliás, as posses se chamam “bens” porque com elas se pode fazer o bem, e foram previstas por Deus em função da utilidade dos homens. São coisas que aí estão, destinadas, como matéria ou instrumento, ao bom uso nas mãos de quem sabe o que é um instrumento. Se se usa o instrumento com arte, ele vale; do contrário, não presta, embora sem culpa disto. Instrumento assim é a riqueza. Se usada corretamente, presta serviço à justiça. Se usada incorretamente, serve à injustiça. Por natureza está destinada a servir, não a mandar. Não há que acusá-la do que não lhe cabe, isto é, do não ser nem boa nem má. A riqueza não tem culpa. Toda a responsabilidade cabe ao que pode usá-la bem ou mal, conforme a escolha que estabelece, isto é, segundo a mente e o juízo do homem, ser livre e capaz de manejar por próprio arbítrio o que recebe em mãos. O que importa destruir não são as riquezas, mas as paixões da alma que impedem o bom uso das mesmas. Tornado bom e nobre, o homem pode empregá-las bem e generosamente. Assim, a renúncia a tudo que possuímos, a venda de todas as posses, há de ser isto entendido no sentido das paixões da alma.

«Ao ouvir estas palavras, retirou-se pesaroso»

São Basílio, o Grande (c. 330-379), Homilia 7, sobre a riqueza; PG 31, 278 (a partir da trad. coll. Icthus, t. 6, p. 82 rev.).

O caso do jovem rico e dos seus semelhantes faz-me pensar no de um viajante que, pretendendo visitar uma cidade, chega junto das muralhas, encontra aí uma estalagem, hospeda-se nela e, desencorajado pelos últimos passos que ainda lhe falta dar, perde o benefício das fadigas da sua viagem e acaba por não ir visitar as belezas da cidade. Assim são estes que cumprem os mandamentos mas se revoltam com a ideia de perderem os seus bens. Conheço muitos que jejuam, rezam, fazem penitência e praticam todo o tipo de obras de caridade, mas não dão uma esmola aos pobres. De que lhes servem as outras virtudes?

Eles não entrarão no Reino dos Céus porque «é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus». São palavras claras e o seu Autor não mente, mas raros são aqueles que se deixam tocar por elas. «Como viveremos quando estivermos despojados de tudo?» exclamam. «Que existência levaremos quando tudo for vendido e já não tivermos propriedades?» Não me perguntem qual é o desígnio profundo que está subjacente aos mandamentos de Deus. Aquele que estabeleceu as nossas leis conhece igualmente a arte de conciliar o impossível com a lei.

«Não acumuleis tesouros na terra, acumulai tesouros no céu»

Santo Ambrósio (c. 340-397) | Nabaot, o pobre, 58

Tu és guardião dos teus bens, e não proprietário, tu que escondes o teu ouro na terra (Mt 25,25); e tornas-te servo deles, e não senhor. Cristo disse: «Onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração»; ora, o teu coração está no ouro que enterraste. Vende o ouro e compra a salvação; vende o que é da terra e adquire o Reino de Deus; vende o campo e recupera a vida eterna.

Dizendo isto digo a verdade, porque me apoio na palavra daquele que é a Verdade: «Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no céu» (Mt 19,21). Não te entristeças ao ouvir estas palavras, com medo que te seja dito o mesmo que ao jovem rico: «Dificilmente entrará um rico no reino dos céus» (v. 23). Mais ainda, quando lês esta frase, considera que a morte pode arrancar-te esses bens, que a violência de alguém mais forte que tu tos pode tirar. E, no fim de contas, terias preferido bens menores em lugar de grandes riquezas, e trocos em vez de tesouros de graça. Pela sua própria natureza, esses bens são perecíveis e não permanecem para sempre.

Referências Bibliográficas:

  • BÍBLIA – Bíblia de Jerusalém (Nona Edição Revista e Ampliada). São Paulo: Paulus, 2013.

© 2003-2023 - ECCLESIA (Brasil). Todos os direitos reservados.