12º Domingo do Evangelho de São Mateus (12º depois de Pentecostes - Modo 3°)
Comemoração dos Ss. Bábilas, o novo mártir, bispo de Antioquia († 250; Moisés, o Profeta (séc. XVI a.C.) e Godseer; Anthimos de Corucle em Cefalenia; Hermione, o Mártir, irmã (filha) de Filipe, o Diácono; Anthimos, o novo asceta.
No Orthros (Matinas):
Evangelho (Eoth. 1)
Santo Evangelho segundo o Evangelista São MATEUS [28: 16-20].
aquele tempo, 16os onze discípulos caminharam para a Galileia, à montanha que Jesus lhes determinara. 17Ao vê-lo, prostraram-se diante dele. Alguns, porém, duvidaram. 18Jesus, aproximando-se deles, falou: «Toda a autoridade sobre o céu e sobre a terra me foi entregue. 19Ide, portanto, e fazei que toda as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo 20e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!»
Na Divina Liturgia:
Primeira Antífona (Modo 2º)
Vers. 1: Bendize, ó minha alma, ao Senhor e todo o meu ser bendiga o seu santo nome.!
Vers. 2: Bendize, ó minha alma, ao Senhor e não esqueças nenhum de seus benefícios!
Vers. 3: O Senhor firmou no céu o seu trono e sua realeza governa o universo.
Glória… Agora e sempre….
Στίχ. α´. Εὐλόγει ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον, καὶ πάντα τὰ ἐντός μου τὸ ὄνομα τὸ ἅγιον αὐτοῦ.
Στίχ. β’. Εὐλόγει, ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον, καὶ μὴ ἐπιλανθάνου πάσας τὰς ἀνταποδόσεις αὐτοῦ.
Στίχ. γ’. Κύριος ἐν τῷ οὐρανῷ ἡτοίμασε τὸν θρόνον αὐτοῦ, καὶ ἡ βασιλεία αὐτοῦ πάντων δεσπόζει.
Δόξα Πατρὶ… Καὶ νῦν…
Segunda Antífona (mesmo modo)
Vers. 1: Louva, ó minha alma, o Senhor! Louvarei o Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores a meu Deus enquanto eu existir.
Vers. 2: Bem-aventurado o que tem por protetor o Deus de Jacó, que põe sua esperança no Senhor, seu Deus.
Vers. 3: O Senhor reinará eternamente; ele é teu Deus, ó Sião, de geração em geração!
Glória… Agora e sempre…
Ó Filho Unigênito e Verbo de Deus…
Στίχ. α´. Αἴνει, ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον αἰνέσω Κύριον ἐν τῇ ζωῇ μου ψαλῶ τῷ Θεῷ μου ἕως ὑπάρχω.
Στίχ. β´. Μακάριος, οὗ ὁ Θεὸς Ἰακὼβ βοηθὸς αὐτοῦ, ἡ ἐλπὶς αὐτοῦ ἐπὶ Κύριον τὸν Θεὸν αὐτοῦ.
Στίχ. γ´. Βασιλεύσει Κύριος εἰς τὸν αἰῶνα, ὁ Θεός σου, Σιών, εἰς γενεὰν καὶ γενεάν.
Δόξα Πατρὶ… Καὶ νῦν…
Ὁ μονογενὴς Υἱὸς καὶ Λόγος τοῦ Θεοῦ…
Terceira Antífona
Vers. 1: Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo-nos n’Ele!
Στίχ. Αὕτη ἡ ἡμέρα Κυρίου, ἀγαλλιασώμεθα καὶ εὐφρανθῶμεν ἐν αὐτῇ.
Apolitíkion da Ressurreição (Modo 3º)
Rejubilem-se os céus e alegre-se a terra, pois o Senhor manifestou a força de seu braço; com sua morte venceu a morte, e tornou-se o primogênito dos mortos; libertou-nos das entranhas dos infernos, revelando ao mundo a grande misericórdia!
Ευφραινέσθω τα ουράνια, αγαλλιάσθω τα επίγεια, ότι εποίησε κράτος, εν βραχίονι αυτού, ο Κύριος, επάτησε τω θανάτω τον θάνατον πρωτότοκος των νεκρών εγένετο, εκ κοιλίας άδου ερρύσατο ημάς, και παρέσχε τω κόσμω το μέγα έλεος.
Kondákion (Modo 4º)
Pela tua santa natividade, ó Pura, Joaquim e Ana foram libertos do opróbrio da esterilidade, e Adão e Eva da corrupção da morte. Teu povo, salvo da escravidão do pecado te festeja, exclamando: «A estéril dá à luz a Mãe de Deus que alimenta nossa vida»!
Ἰωακεὶμ καὶ Ἄννα ὀνειδισμοῦ ἀτεκνίας, καὶ Ἀδὰμ καὶ Εὔα, ἐκ τῆς φθορᾶς τοῦ θανάτου, ἠλευθερώθησαν Ἄχραντε, ἐν τῇ ἁγίᾳ γεννήσει σου΄ αὐτὴν ἑορτάζει καὶ ὁ λαός σου, ἐνοχῆς τῶν πταισμάτων, λυτρωθεὶς ἐν τῷ κράζειν σοι΄ Ἡ στεῖρα τίκτει τὴν Θεοτόκον, καὶ τροφὸν τῆς ζωῆς ἡμῶν.
Prokímenon (Modo 3º)
Refrão: Cantai salmos ao nosso Deus, cantai!
Vers.: Povos todos batei palmas! Aclamai a Deus com vozes alegres.
Ψάλατε τῷ Θεῷ ἡμῶν, ψάλατε.
Στίχ. Πάντα τὰ ἔθνη κροτήσατε χεῖρας. ἀλαλάξατε τῷ Θεῷ ἐν φωνῇ ἀγαλλιάσεως.
Epístola (Apóstolo)
Primeira Epístola do Apóstolo São Paulo aos CORÍNTIOS [15: 1-11]
rmãos, 1lembro-vos o evangelho que vos anunciei, que recebestes, no qual permaneceis firmes, 2e pelo qual sois salvos, se o guardais como vo-lo anunciei; doutro modo, teríeis acreditado em vão. 3Transmiti-vos, em primeiro lugar, aquilo que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. 4Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras . 5Apareceu a Cefas, e depois aos Doze. 6Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, a maioria dos quais ainda vive, enquanto alguns já adormeceram. 7Posteriormente, apareceu a Tiago, e, depois, a todos os apóstolos. 8Em último lugar, apareceu também a mim como a um abortivo. 9Pois sou o menor dos apóstolos, nem sou digno de ser chamado apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. 10Mas pela graça de Deus sou o que sou: e sua graça a mim dispensada não foi estéril. Ao contrário, trabalhei mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo. 11Por conseguinte, tanto eu como eles, eis o que pregamos. Eis também o que acreditastes.
Aleluia (Modo 3º)
Vers. 1: Junto de Ti, Senhor, me refugiei; não seja eu confundido para sempre, por tua justiça, livra-me!
Vers. 2: Sê para mim um Deus protetor e uma casa de refúgio que me abrigue.
Στίχ. αʹ.Ἐπὶ σοί, Κύριε, ἤλπισα, μὴ καταισχυνθείην εἰς τὸν αἰῶνα· ἐν τῇ δικαιοσύνῃ σου ῥῦσαί με καὶ ἐξελοῦ με.
Στίχ. βʹ. Γενοῦ μοι εἰς Θεὸν ὑπερασπιστὴν καὶ εἰς οἶκον καταφυγῆς τοῦ σῶσαί με.
Evangelho
Santo Evangelho segundo o Evangelista São MATEUS [9: 16-26].
aquele tempo, 16alguém se aproximou dele (de Jesus) e disse: «Mestre, que farei de bom para ter a vida eterna?» 17Respondeu: «Por que me perguntas sobre o que é bom? O Bom é um só. Mas se queres entrar para a Vida, guarda os mandamentos». 18Ele perguntou-lhe: «Quais?» Jesus respondeu: «Estes: Não matarás, não adulterarás, não roubarás, não levantarás falso testemunho; 19honra pai e mãe, e amarás o teu próximo como a ti mesmo”. 20Disse-lhe então o moço: «Tudo isso tenho guardado. Que me falta ainda?» 21Jesus lhe respondeu: «Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue- me». 22O moço, ouvindo essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de muitos bens. 23Então Jesus disse aos seus discípulos: «Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no Reino dos Céus. 24E vos digo ainda: é mais fácil um camelo entrar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus».
Kinonikón
Louvai o Senhor nos céus, louvai-O nas alturas! Aleluia!
Αἰνεῖτε τὸν Κύριον ἐκ τῶν οὐρανῶν. Ἀλληλούϊα.
«Sobre a Salvação dos Ricos»
Homilia de São Clemente de Alexandria
irige-se-se ao Senhor e Mestre uma pergunta que a ninguém mais conviria senão a ele. Pergunta-se à Vida acerca da vida, ao Salvador sobre a salvação, ao Mestre sobre a síntese de seus ensinamentos, à Verdade sobre a verdade, à Imortalidade sobre a imortalidade, à Palavra sobre a palavra do Pai, ao Perfeito sobre o perfeito descanso, ao Incorrupto sobre a verdadeira incorrupção. Formula-se ao Senhor uma pergunta sobre aquilo mesmo pelo que ele descera ao mundo, e que constituía o objeto de seu ensino: a vida eterna. Ora, como Deus, ele sabia o que ia ser perguntado e qual a resposta que ele próprio, ao interrogar por sua vez, haveria de receber. Quem, mais do que ele, era profeta dos profetas e senhor de todo espírito profético? Quando o chamam bom, faz desta palavra a ocasião para começar o ensinamento, levando o discípulo ao Deus bom, primeiro e único dispensador da vida eterna, da vida que o Filho comunica, recebida do Pai.
Assim, o maior dentre os ensinamentos sobre a vida eterna deve ser imediatamente impresso na alma, a saber: o reconhecimento do Deus eterno, a compreensão de que Deus é o primeiro, o supremo, o único, o bom. O princípio inabalável e fundamental para a vida, é a ciência de Deus, do Deus eterno que nos doa o eterno, do Ser do qual tudo recebe o ser e a permanência no ser. A ignorância de Deus é a morte. O conhecimento de Deus, o relacionamento com ele, seu amor: eis a única coisa que é vida.
A primeira recomendação que Jesus faz a quem busca a verdadeira vida é a de conhecer àquele que ninguém conhece, exceto o Filho e exceto quem recebe a revelação do Filho. (Mt 11, 17) Trata-se, portanto, de conhecer a grandeza do Salvador e a nova graça, a qual sendo dada pelo Filho, supera a dada pelo servo, conforme diz o Apóstolo: “a lei nos foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade por obra de Jesus Cristo”. (Jo 1, 17) Realmente, se a lei de Moisés fosse capaz de proporcionar a vida, teria sido inútil a descida do Salvador, sua paixão por nossa causa, seu itinerário percorrido do nascimento ao fim. E inútil teria sido que o jovem rico, após ter observado desde cedo todos os mandamentos, se viesse a prostrar ante outra instância para solicitar o prêmio da vida imortal.
Ele não só cumprira a Lei, mas a cumprira desde a infância… Que há de especial se a velhice não se entrega ao pecado? O lutador admirável é o que, desde o verão da existência, se mostra amadurecido como se já vivesse precocemente a idade provecta. Contudo, por grande que fosse tal lutador, estaria bem consciente de que, se quanto à justiça nada lhe faltava, quanto à vida tudo lhe faltava. E então pede-a ao único capaz de concedê-la. Quanto à Lei, estava seguro desde muito tempo; ei-lo, porém súplice ante o Filho de Deus. De uma fé passa a outra. Como alguém que não se sente seguro na barca da Lei, como o viajante que navega, ele busca o Salvador.
Jesus não o repreende, por não ter de fato cumprido toda a Lei, antes o ama e felicita por seguir fielmente a instrução recebida. Entretanto, no que concerne a vida eterna, declara-o imperfeito, por não ter realizado o que a perfeição requer. Operário da Lei, sem dúvida, mas ainda deficiente quanto à vida eterna. Ninguém contesta que a Lei era boa, pois “o mandamento é santo”(Rm 7, 12), no sentido de uma função de pedagogia e de instrução prévia (Gl 3, 24), a caminhar para a culminância da lei de Jesus e para a graça. Mas a plenitude da Lei é Cristo, que justifica todo o que crê. E Jesus, não sendo escravo, não faz escravos mas filhos, irmãos, co-herdeiros seus, todos os que cumprem a vontade de seu Pai.
“Se queres ser perfeito” (Mt 19, 21): logo, ainda não o era, pois o perfeito não se aperfeiçoa. E disse divinamente “se queres”, indicando a faculdade de livre arbítrio daquele com quem falava. Ao homem, enquanto livre, cabia a escolha; a Deus cabe dar, como Senhor e Juiz que é. Ele dá aos que querem, se esforçam e pedem, a fim de que sua salvação brote deles mesmos. Deus não força a ninguém, a violência lhe é inimiga. Ele atende aos que buscam, dá aos que pedem, abre aos que batem à porta (Mt 7, 7).
Assim, se queres, se realmente, sem te enganares a ti mesmo, queres obter o que te falta, “uma coisa te falta”, a única coisa que permanece, aquilo que é bom e está acima da Lei, o próprio dos que vivem.
Infelizmente o jovem que desde a infância observava a Lei, e tão alto proclama sua observância, não foi capaz de comprar a Única coisa própria do Salvador, para assim chegar à desejada vida eterna. E retirou-se triste, pesaroso pelo mandamento daquela vida que viera suplicar.
Ora, que o moveu à fuga e o fez deixar o Mestre, deixar a súplica, a esperança e os esforços já iniciados? A palavra “vende tudo o que tens!” E que quer dizer ela? Não o que levianamente pensam alguns. O Senhor não nos manda lançarmos fora os bens e nos afastarmos de toda riqueza. O que ele deseja é desterrarmos da alma os vãos juízos sobre as riquezas, a cobiça desenfreada, a avareza, as solicitudes, os espinhos do século, que sufocam a semente da verdadeira vida.
Não é grande façanha, digna de emulação, carecer dos bens mas não ter a tendência para a vida eterna. Se o caso fosse este, os que nada possuem, os destituídos de todo auxílio, que diariamente passam mendigando pelos caminhos, sem conhecimento de Deus e de sua justiça, seriam, pelo simples fato da extrema indigência, os mais felizes e amados por Deus, os únicos que alcançariam a vida eterna. Aliás, nem é novidade o renunciar às riquezas em prol dos necessitados e pobres, pois também isto foi feito por muitos antes da vinda do Salvador: por uns, com o fim de se dedicarem às letras e por amor da sabedoria morta; por outros, com o fim de obtenção da fama e da vã glória: Anaxágoras, Demócrito, Crates…
Portanto, que diz o Senhor como coisa nova, própria de Deus, como única coisa que vivifica e difere do que não salvou antes os homens? Que nos indica e ensina o novo homem, o Filho de Deus? Não nos manda o que simplesmente dá na vista e outros já fizeram, mas algo maior, mais divino e mais perfeito, aí significado, a saber: desnudarmos a alma das paixões, arrancarmos e projetarmos longe o que é alheio ao espírito. Eis o ensinamento próprio do crente, eis a doutrina digna do Salvador! Assim, os que antes do Senhor depreciaram os bens exteriores, sem dúvida abandonaram e perderam suas riquezas, mas as paixões de suas almas, penso eu que ainda as aumentaram. Porque, imaginando terem feito algo de sobre-humano, vieram a cair na soberba, na petulância, na vã glória e no menosprezo dos demais.
Como então haveria o Salvador de recomendar aos que irão viver para sempre algo nocivo à vida, que ele santamente promete? Pode acontecer que alguém, embora renunciando ao peso dos bens e riquezas, mantenha o desejo de tudo isso na alma. Desprendeu-se dos bens, mas ao sentir falta deles e ao desejá-los de novo, está duplamente atormentado: por tê-los deixado e por desejá-los. Porque na verdade é impossível carecer do necessário e não estar preocupado para obtê-lo; mas com isto o espírito se desvia das coisas mais importantes.
Quão mais proveitoso é o contrário! Possuir, de um lado, o suficiente, não ter que se angustiar para procurá-lo, e de outro lado poder ajudar aos que precisam. Se ninguém tivesse nada, como haveria comunhão de bens entre os homens? Não é claro que essa doutrina do abandono de tudo iria contrariar outros ensinamentos do Senhor? “Fazei amigos com as riquezas da iniqüidade, a fim de que, quando precisardes, vos recebam nos eternos tabernáculos”. (Lc, 16, 9) ” Tende tesouros nos céus, onde as traças e a ferrugem não os consomem nem os ladrões podem roubar”. (Mt 6, 19) Como dar de comer ao que tem fome, de beber ao que tem sede, vestir o nu, acolher o desamparado coisas todas que devem ser feitas sob a ameaça do fogo eterno e das trevas exteriores – se não se tem com que fazê-lo?
Ademais, o próprio Senhor, hospedando-se na casa de Zaqueu e Mateus, que eram ricos e publicanos, não lhes ordena desfazerem-se das riquezas, mas – impondo um justo juízo e rechaçando a injustiça – termina por dizer: “hoje veio a salvação a esta casa, porque também este homem é filho de Abraão”. (Lc 19, 9) Elogiava assim o uso das riquezas, enquanto mandava que servissem à comunicação – a dar de beber ao que tem sede, de comer ao faminto, à acolhida do peregrino, à vestição do nu. Se não é possível obviar a tais necessidades sem haveres, e se o Senhor ordena o despojamento dos haveres, está então mandando que se dê e não se dê, se dê de comer e não se dê de comer, etc., o que seria absurdo pensar.
Portanto, não há que abandonar os bens capazes de ser úteis a nosso próximo. Aliás, as posses se chamam “bens” porque com elas se pode fazer o bem, e foram previstas por Deus em função da utilidade dos homens. São coisas que aí estão, destinadas, como matéria ou instrumento, ao bom uso nas mãos de quem sabe o que é um instrumento. Se se usa o instrumento com arte, ele vale; do contrário, não presta, embora sem culpa disto.
Instrumento assim é a riqueza. Se usada corretamente, presta serviço à justiça. Se usada incorretamente, serve à injustiça. Por natureza está destinada a servir, não a mandar. Não há que acusá-la do que não lhe cabe, isto é, do não ser nem boa nem má. A riqueza não tem culpa. Toda a responsabilidade cabe ao que pode usá-la bem ou mal, conforme a escolha que estabelece, isto é, segundo a mente e o juízo do homem, ser livre e capaz de manejar por próprio arbítrio o que recebe em mãos. O que importa destruir não são as riquezas, mas as paixões da alma que impedem o bom uso das mesmas. Tornado bom e nobre, o homem pode empregá-las bem e generosamente. Assim, a renúncia a tudo que possuímos, a venda de todas as posses, há de ser isto entendido no sentido das paixões da alma.
Referências Bibliográficas:
- BÍBLIA – Bíblia de Jerusalém (Nona Edição Revista e Ampliada). São Paulo: Paulus, 2013.