12º Domingo do Evangelho de Lucas: «Os Dez Leprosos» (30º depois de Pentecostes) Modo Pl 1º.
Veneração das Correntes do Apóstolo S. Pedro; memória dos Ss. Macários de Calógeras, hierodiácono; Sepeusipo e seus irmãos: Eleusipo e Meleusipo, e sua avó Leonila; Neon, Turbo, Junila, mártires, todos da Capadócia; Romilo o monge do Monte Athos; Nicolas, novo mártir de Mitilene.
No Orthros (Matinas):
Evangelho:
Santo Evangelho segundo o Evangelista São LUCAS [24: 13-35].
aquele tempo, eis que dois deles viajavam nesse mesmo dia para um povoado chamado Emaús, a sessenta estádiosª de Jerusalém; e conversavam sobre todos esses acontecimentos. Ora, enquanto conversavam e discutiam entre si, o próprio Jesus aproximou-se e pôs-se a caminhar com eles; seus olhos, porém, estavam impedidos de reconhecê-lo. Ele lhes disse: «Que palavras são essas que trocais enquanto ides caminhando?» E eles pararam, com o rosto sombrio. Um deles, chamado Cléofas, lhe perguntou: «Tu és o único forasteiro em Jerusalém que ignora os fatos que nela aconteceram nestes dias?» -«Quais?», disse-lhes ele. Responderam: «O que aconteceu a Jesus, o Nazareno que foi profeta poderoso em obras e em palavras, diante de Deus e diante de todo o povo: como nossos Sumos Sacerdotes e nossos chefes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. Nós esperávamos que fosse ele quem redimiria Israel; mas, com tudo isso, faz três dias que todas essas coisas aconteceram! É verdade que algumas mulheres, que são dos nossos, nos assustaram. Tendo ido muito cedo ao túmulo e não tendo encontrado o corpo, voltaram dizendo que haviam tido uma visão de anjos a declararem que ele está vivo. Alguns dos nossos foram ao túmulo e encontraram as coisas tais como as mulheres haviam dito; mas não o viram!» Ele, então, lhes disse: «Insensatos e lentos de coração para crer tudo o que os profetas anunciaram! Não era preciso que o Cristo sofresse tudo isso e entrasse em sua glória?» E, começando por Moisés e percorrendo todos os Profetas, interpretou lhes em todas as Escrituras o que a ele dizia respeito. Aproximando-se do povoado para onde iam, Jesus simulou que ia mais adiante. Eles, porém, insistiram, dizendo: «Permanece conosco, pois cai a tarde e o dia já declina». Entrou então para ficar com eles. E, uma vez à mesa com eles, tomou o pão, abençoou-o, depois partiu-o e deu-o a eles. Então seus olhos se abriram e o reconheceram; ele, porém, ficou invisível diante deles. E disseram um ao outro: «Não ardia o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho, quando nos explicava as Escrituras?» Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém. Acharam aí reunidos os Onze e seus companheiros, que disseram: «É verdade! O Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” E eles narraram os acontecimentos do caminho e como o haviam reconhecido na fração do pão!
Na Divina Liturgia:
Primeira Antífona (Modo 2º)
Vers. 1: Bendize, ó minha alma, ao Senhor e todo o meu ser bendiga o seu santo nome.!
Vers. 2: Bendize, ó minha alma, ao Senhor e não esqueças nenhum de seus benefícios!
Vers. 3: O Senhor firmou no céu o seu trono e sua realeza governa o universo.
Glória… Agora e sempre….
Στίχ. α´. Εὐλόγει ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον, καὶ πάντα τὰ ἐντός μου τὸ ὄνομα τὸ ἅγιον αὐτοῦ.
Στίχ. β’. Εὐλόγει, ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον, καὶ μὴ ἐπιλανθάνου πάσας τὰς ἀνταποδόσεις αὐτοῦ.
Στίχ. γ’. Κύριος ἐν τῷ οὐρανῷ ἡτοίμασε τὸν θρόνον αὐτοῦ, καὶ ἡ βασιλεία αὐτοῦ πάντων δεσπόζει.
Δόξα Πατρὶ… Καὶ νῦν…
Segunda Antífona
Vers. 1: Louva, ó minha alma, o Senhor! Louvarei o Senhor enquanto eu viver; cantarei louvores a meu Deus enquanto eu existir.
Vers. 2: Bem-aventurado o que tem por protetor o Deus de Jacó, que põe sua esperança no Senhor, seu Deus.
Vers. 3: O Senhor reinará eternamente; ele é teu Deus, ó Sião, de geração em geração!
Glória… Agora e sempre…
Ó Filho Unigênito e Verbo de Deus…
Στίχ. α´. Αἴνει, ἡ ψυχή μου, τὸν Κύριον αἰνέσω Κύριον ἐν τῇ ζωῇ μου ψαλῶ τῷ Θεῷ μου ἕως ὑπάρχω.
Στίχ. β´. Μακάριος, οὗ ὁ Θεὸς Ἰακὼβ βοηθὸς αὐτοῦ, ἡ ἐλπὶς αὐτοῦ ἐπὶ Κύριον τὸν Θεὸν αὐτοῦ.
Στίχ. γ´. Βασιλεύσει Κύριος εἰς τὸν αἰῶνα, ὁ Θεός σου, Σιών, εἰς γενεὰν καὶ γενεάν.
Δόξα Πατρὶ… Καὶ νῦν…
Ὁ μονογενὴς Υἱὸς καὶ Λόγος τοῦ Θεοῦ…
Terceira Antífona
Vers. 1: Este é o dia que o Senhor fez, exultemos e alegremo-nos n’Ele!
Στίχ. Αὕτη ἡ ἡμέρα Κυρίου, ἀγαλλιασώμεθα καὶ εὐφρανθῶμεν ἐν αὐτῇ.
Apolitíkion da Ressurreição (Modo Pl. 1º)
Glorifiquemos, fiéis, e adoremos o Verbo divino, eterno com o Pai e o Espírito Santo, nascido da Virgem para a nossa salvação; pois, em sua carne, deixou-se suspender na cruz, padecer a morte e ressuscitar dos mor-tos, pela sua gloriosa ressurreição.
Τον συνάναρχον Λόγον Πατρί και Πνεύματι, τον εκ παρθένου τεχθέντα εις σωτηρίαν ημών, ανυμνήσωμεν πιστοί και προσκυνήσωμεν ότι ηυδόκησε σαρκί, ανελθείν εν τω Σταυρώ, και θάνατον υπομείναι, και εγείραι τους τεθνεώτας, εν τη ενδόξω αναστάσει αυτού.
Kondákion da Festa (Modo 1º)
Tu, que santificaste, pelo teu nascimento, o seio virginal e abençoaste, como era necessário, as mãos de Simeão, salvaste-nos agora ao preceder-nos, ó Cristo nosso Deus. Guarda, pois, em paz teu povo durante as guerras e fortalece a tua Igreja, ó único Filantropo!
Ὁ μήτραν παρθενικὴν ἁγιάσας τῷ τόκῳ σου, καὶ χεῖρας τοῦ Συμεὼν εὐλογήσας ὡς ἔπρεπε, προφθάσας καὶ νῦν ἔσωσας ἡμᾶς Χριστὲ ὁ Θεός. Ἀλλ’ εἰρήνευσον ἐν πολέμοις τὸ πολίτευμα, καὶ κραταίωσον Βασιλεῖς οὓς ἠγάπησας, ὁ μόνος φιλάνθρωπος.
Prokímenon (Modo Pl. 1º)
Refrão: Tu, Senhor, nos guardarás e nos preservarás.
Vers.: Salva-me, Senhor, porque o justo desapareceu.
Σὺ Κύριε, φυλάξαις ἡμᾶς καὶ διατηρήσαις ἡμᾶς
Στίχ. Σῶσόν με, Κύριε, ὅτι ἐκλέλοιπεν ὅσιος.
Epístola (Apóstolos)
Epístola do Apóstolo São Paulo aos COLOSSENSES [3: 4-11].
rmãos, Quando cristo, que é a vossa vida, se manifestar, então vós também com ele sereis manifestados em glória. Mortificai, pois, vossos membros terrenos: fornicação, impureza, paixão, desejos maus, e a cupidez, que é idolatria. Essas coisas provocam a ira de Deus sobre os desobedientes. Assim também andastes vós quando vivíeis entre eles. Mas agora, abandonai tudo isto: ira, exaltação, maldade, blasfêmia, conversa indecente. Não mintais uns aos outros. Vós vos desvestistes do homem velho com as suas práticas e vos revestistes do novo, que se renova para o conhecimento segunda a imagem do seu Criador. Aí não há mais grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro, cita, escravo, livre mas Cristo é tudo em todos.
Aleluia ( Do Salmo 88 - Modo Pl. 1º)
Vers. 1: Eu cantarei eternamente as tuas misericórdias, Senhor e anunciarei a tua verdade de geração em geração.
Vers. 2: Pois disseste: o amor está edificado para sempre, firmaste a tua verdade no céu.
Στίχ. Αʹ. Τὰ ἐλέη σου, Κύριε, εἰς τὸν αἰῶνα ᾄσομαι, εἰς γενεὰν καὶ γενεὰν ἀπαγγελῶ τὴν ἀλήθειάν σου ἐν τῷ στόματί μου.
Στίχ. βʹ. Ὅτι εἶπας· Εἰς τὸν αἰῶνα ἔλεος οἰκοδομηθήσεται· ἐν τοῖς οὐρανοῖς ἑτοιμασθήσεται ἡ ἀλήθειά σου.
Evangelho
Santo Evangelho segundo o Evangelista São LUCAS [17: 12-19].
aquele tempo, ao entrar num povoado, dez leprosos vieram ao encontro de Jesus. Pararam a distância e clamaram: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!» Vendo-os, ele lhes disse: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». E aconteceu que, enquanto iam, ficaram purificados. Um dentre eles, vendo-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e lançou-se aos pés de Jesus com o rosto por terra, agradecendo-lhe. Pois bem, era samaritano. Tomando a palavra, Jesus lhe disse: «Os dez não ficaram purificados? Onde estão os outros nove? Não houve, acaso, quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?» Em seguida, disse-lhe: «Levanta-te e vai; a tua fé te salvou».
Kinonikón
Louvai o Senhor nos céus, louvai-O nas alturas! Aleluia!
Αἰνεῖτε τὸν Κύριον ἐκ τῶν οὐρανῶν. Ἀλληλούϊα.
«Os Dez Leprozos»
«O homem atingido pela lepra andará com as vestes rasgadas, os cabelos em desordem e a barba coberta, gritando: ‘Impuro! Impuro!’ Durante todo o tempo em que estiver leproso será impuro; e, sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento» […] (Lev 13, 45-46)
sta era a situação a que os enfermos de lepra deveriam se submeter, segundo os códigos religiosos do Templo. Os doentes não tinham outra identidade além da lepra; a doença vergonhosa que os cobria desestruturava-os socialmente, fazendo com que fossem marginalizados. Estavam condenados a viver à distância, fora dos povoados, em bairros afastados do resto da população, não podendo manter contato com ela, nem assistir às cerimônias religiosas.
Além desta doença terrível, os samaritanos traziam o jugo do desprezo pelo simples fato de povoarem a região da Samaria, região central da Palestina. Entre samaritanos e judeus, existia uma forte rivalidade que remontava ao ano 721 a. C. Neste ano, o imperador Sargão II tomou militarmente a cidade da Samaria e deportou para a Assíria a mão-de-obra qualificada, povoando a região conquistada com colonos assírios, como conta o segundo livro dos Reis (cap. 17). Com o decorrer do tempo, estes colonos se misturaram com a população da Samaria, dando origem a uma raça mista que, naturalmente, mesclou também as crenças.
Por esta razão a Samaria era considerada pelos judeus como uma região diferente, com uma população de sangue misturado (por isso impuro) e sincréticos. Chamar um judeu de «samaritano» era um grave insulto.
Nada, no entanto, incomodava mais ao povo judeu do que a relação de Jesus com os samaritanos. Esse era um povo odiado pelos judeus. Suas relações eram tão hostis que o evangelista São João, o Teólogo, se vê obrigado a explicar: «…os judeus não se davam com os samaritanos» (Jo 4.9). Esta hostilidade não se enraizava nas diferenças sociais como acontecia nas suas relações com o povo romano. Não eram diferenças morais como no caso dos publicanos e prostitutas, nem tampouco diferenças geográficas, como as que nutriam em relação ao resto do mundo (os gentios). O que tornava essa relação tão amarga eram suas diferenças religiosas. Parece que nada divide tanto as pessoas quanto suas convicções religiosas.
Este é o panorama encontrado por Jesus, ao passar pela Samaria e Galiléia. Quando estava para entrar num povoado, dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam à distância, e gritaram: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós!» E, ao vê-los, Jesus disse: «Ide apresentar-vos aos sacerdotes’. Enquanto caminhavam, aconteceu que ficaram curados».
Uma das funções do sacerdote do Templo era diagnosticar certas enfermidades que, por serem contagiosas, exigiam que o enfermo se retirasse por um tempo da vida pública para não contagiar outros com sua infecção. Uma vez curado, este devia apresentar-se ao sacerdote para que lhe desse uma espécie de certificado de cura que lhe permitisse a reintegração na sociedade, através de um ritual que exigia o sacrifício de um animal.
Mas o relato do Evangelho não termina com a cura. «Um deles, ao perceber que estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; atirou-se aos pés de Jesus, com o rosto por terra, e Lhe agradeceu. E este era um samaritano. Então Jesus lhe perguntou: ‘Não foram dez os curados? E os outros nove, onde estão? Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, a não ser este estrangeiro?’ E disse-lhe: ‘Levanta-te e vai! Tua fé te salvou!’» (Lc 17, 11-17).
A consciência de ter sido curado fez do samaritano um homem agradecido. Enquanto os outros nove foram cumprir o preceito religioso de mostrar ao sacerdote sua cura, o samaritano privilegiou a ação de graças e o louvor. Coube a ele o reconhecimento mais perfeito, pois, liberto de sua enfermidade, estava livre para manifestar sentimentos de adoração agradecida, ajoelhando-se diante de Jesus para glorificar a Deus (vv.15-16).
Quando o samaritano não mais viu suas feridas em seu corpo, seu olhar fixou naquele que o curou . O agradecimento ou ação de graças brotou, então, de um coração também curado, um coração novo, liberto das feridas e das chagas, capaz de reconhecer o agir divino e de atitudes concretas de agradecimento.
Um coração contrito e humilde é o que quer o Senhor nosso Deus e não sacrifícios e holocaustos. O agradecimento brota do coração do homem simples, humilde e contrito, ciente dos limites que lhe são próprios. Por isso, nelas Deus se faz morada. O orgulhoso não tem tempo para agradecer, preferindo mostrar aos outros sua cura externa, ocultando o verdadeiro autor deste prodígio. Para este será sim necessário oferecer sacrifícios em holocausto, pois não se encontra liberto da velha lei que oprime. Sua cura exterior se realizou, mas o coração que carrega o orgulho e a vaidade, continua doente, não se abriu à graça da cura. Para o samaritano, sua contrição e humildade substituíram qualquer outro sacrifício.
Em sua Homilia no Dia Mundial dos Leprosos, (29/01/78), Paulo VI, Papa de Roma, assinala que
(…) o gesto afetuoso de Jesus, que Se aproxima dos leprosos para os reconfortar e curar, tem a sua expressão plena e misteriosa na sua Paixão. Torturado e desfigurado pelo suor de sangue, pela flagelação, pela coroação de espinhos, pela crucifixão, abandonado por aqueles que esqueceram o bem que Ele lhes tinha feito, na sua Paixão, Jesus identifica-Se com os leprosos, tornando-se sua imagem e símbolo, como o profeta Isaías intuíra ao contemplar o mistério do Servo do Senhor: «Vimo-lo sem beleza nem formosura, desprezado e evitado pelos homens, como homem […] diante de qual se tapa o rosto. […] Nós o reputávamos como um leproso, ferido por Deus e humilhado» (Is 53,2-4). Mas é precisamente das feridas do corpo torturado de Jesus e do poder da sua ressurreição que brotam a vida e a esperança para todos os homens, atingidos pelo mal e pela enfermidade. A Igreja sempre foi fiel à sua missão de anunciar a palavra de Cristo, unida a gestos concretos de misericórdia solidária para com os mais humildes, para com os últimos. Ao longo dos séculos, tem havido um crescendo de dedicação impressionante e extraordinária às pessoas afetadas pelas doenças humanamente mais repugnantes. A história põe claramente em evidência que os cristãos foram os primeiros a preocupar-se com o problema dos leprosos. O exemplo de Cristo fez escola, e deu muitos frutos em atos de solidariedade, de dedicação, de generosidade e de caridade desinteressada.
Referências Bibliográficas:
- BÍBLIA – Bíblia de Jerusalém (Nona Edição Revista e Ampliada). São Paulo: Paulus, 2013.
- WACH, Joaquim. Sociologia da Religião. São Paulo: Ed. Paulinas, 1990.
- GUTIERREZ, Gustavo. O Deus da Vida. São Paulo: Ed Loyola, 1990.