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Conhecimento de Deus

Extraído do livro The Mountain of Silence: A Search for Orthodox Spirituality
por Kyriacos C. Markides
Traduzido por Tony Pedroza
Texto publicado no Blog σκεμματα

Meu papel de motorista do Pe. Maximos me foi bastante proveitoso. Dirigindo pela ilha para suas várias tarefas, foi uma oportunidade única passar muitas horas sozinho com ele explorando vários aspectos da espiritualidade cristã. Dionysios, um jovem teólogo e novato, queixou-se brincando um pouco que passei mais tempo sozinho com o Pe. Maximos em alguns dias do que ele durante um ano inteiro. Estar sozinho com o Abade fora do contexto mais formal de aconselhamento espiritual e confissão era considerado um grande privilégio. Eu estava, portanto, totalmente preparado e energizado quando me perguntou se eu poderia levá-lo às quatro da manhã para Santa Anna, um mosteiro feminino. Levaria duas horas para chegar lá através das estradas da montanha e ele desejava começar seu trabalho com as irmãs o mais tardar seis horas da manhã.

Uma vez por semana, o Pe. Maximos fazia uma longa viagem a Santa Anna, passando o dia inteiro com as freiras que o escolheram como ancião. Durante este tempo, ele via cada uma delas individualmente, um processo que geralmente ia até o anoitecer.

Começamos a nossa jornada quando os Padres, como o Padre Maximos referia-se a seus monges, começaram a recitar os Seis Salmos (Salmos do Rei David) exatamente às quatro da manhã, como era costume. O ar estava fresco e as estrelas ainda brilhavam no céu escuro e claro acima. Fiquei de olho na estrada sinuosa da montanha quando o Pe. Maximos se sentou ao meu lado de maneira casual e despretensiosa como de costume. Ficaríamos juntos por duas horas sem distrações, exceto pela ocasional corrida de lebres na nossa frente, confusas e assustadas com as luzes do carro. Eu não perdi tempo em iniciar uma conversa sobre questões espirituais e apertei o botão no meu mini-gravador, que eu costumava manter no painel.

Eu comecei lembrando-o da conversa que ele tinha tido alguns dias antes com um grupo de peregrinos da Grécia, que eu achei bastante informativa. Porém, deixei para depois várias perguntas na minha mente e não tive oportunidade de perguntar durante aquele encontro. O Padre Maximos respondeu que seria um bom momento para perguntá-las. Ele me avisou, no entanto, que não tinha idéia do que ele tinha falado aos peregrinos. Em outra ocasião, ele me explicou que nunca se preparava para conversar. Ele entregava-se ao discernimento do Espírito Santo depois de orar para o evento particular.

— "Você mencionou em sua conversa que os cristãos estão equivocados em pensar que Cristo ensinou que devemos ser crentes que não se questionam; que era um erro acreditar que não devemos esforçar-nos na busca da evidência da realidade de Deus. O que você quis dizer exatamente? "

"Ah, sim, agora lembro. Isso seria grande mal entendido. Na verdade, Cristo nos pediu para investigar as escrituras, para investigar, isto é, Deus", o Pe. Maximos respondeu quando lembrou-se de pôr o cinto. "Deus ama, entenda, ser investigado por nós humanos".

— "Então," continuei mantendo meus olhos firmemente na estrada, "quando os cristãos recitam o Credo, isso não implica que devamos aceitar a existência de Deus cegamente sem testar se, de fato, Deus é uma realidade ou uma ilusão".

"Isso é absolutamente verdadeiro. Seria insensato fazer isso ".

— "Para um acadêmico como eu, suas palavras são muito reconfortantes. Mas a questão que imediatamente me vem à cabeça", continuei, "é que, se Deus realmente nos exorta a ser questionadores, como devemos realizar nossa pesquisa? Devemos recorrer à ciência, à filosofia ou à teologia como nosso ponto de partida?"

Observei um sorriso no rosto do padre Maximos. Evitando uma resposta direta, ele procedeu em vez disso fazendo mais perguntas. "Vamos tornar as coisas simples. Vamos supor que desejamos investigar um fenômeno natural. Como você sabe muito bem, para fazer isso precisamos empregar os métodos científicos apropriados. Se quisermos, por exemplo, estudar as galáxias, precisamos de poderosos telescópios e outros instrumentos. Se quisermos examinar a saúde física de nossos corações, precisamos de um estetoscópio. Tudo deve ser explorado através de um método apropriado para o assunto sob investigação. Se, portanto, desejamos explorar e conhecer Deus, seria um erro grosseiro fazê-lo através de nossos sentidos ou com telescópios, buscando-o no espaço exterior. Isso seria totalmente ingênuo, você não acha?"

— "Sim, se você coloca dessa forma," respondi. "Podemos então concluir que, para os seres humanos modernos e racionais, a filosofia metafísica como a de Platão e Aristóteles ou a teologia racional é o método apropriado?"

Ao fazer a questão, pensei que saberia qual seria a resposta do Pe. Maximos.

"Seria igualmente tolo e ingênuo buscar Deus com nossa lógica e intelecto. Mas nós conversamos sobre isso anteriormente, não?"

Assenti com a cabeça enquanto o padre Maximos continuava. "Considere axiomático que Deus não pode ser investigado através dessas abordagens".

— "Então, a metafísica platônica e aristotélica não é o caminho para conhecer Deus".

“Mas é claro que não. Essa é a mensagem que nos foi dada por todos os anciãos e santos ao longo da história. Lógica e razão não podem investigar e conhecer o que está além da lógica e da razão. Você entende isso, não?"

— "Sim. Isso é o que os místicos falaram diversas vezes. Que não é possível falar sobre Deus e que Ele deve ser experimentado. Mas o que isso significa? Isso significa que Deus não pode ser estudado?"

"Não. Nós podemos e devemos estudar Deus, e podemos alcançá-Lo e conhecê-Lo ".

— "Mas como?" Insisti.

O padre Maximos fez uma pausa por alguns segundos. "O próprio Cristo nos revelou o método. Ele nos disse que não só somos capazes de explorar Deus, mas também podemos viver com Ele, nos tornar um com Ele. E o órgão pelo qual podemos alcançar isso não é nem nossos sentidos nem nossa lógica, mas nossos corações".

O padre Maximos me lembrou enquanto eu atentamente olhava a estrada estreita que de acordo com a tradição dos santos anciãos, o fundamento existencial de uma pessoa é o coração. Além de ser o órgão físico indispensável que mantém o corpo vivo, afirmou, o coração também é o centro de nossos poderes psiconoéticos, o centro do nosso ser, de nossa personalidade. É, portanto, através do coração que Deus se revela à humanidade. Isto é o que os santos anciãos ensinaram ao longo dos tempos, que Deus fala aos seres humanos somente através do coração, o órgão óptico através do qual se pode experimentar a visão de Deus. Portanto, aqueles que desejam ver Deus não podem fazê-lo por outros meios, como por exemplo, lendo Platão e Aristóteles ou através da ciência. Mesmo sendo boa filosofia, não é o caminho para Deus. É somente a limpeza e a pureza do coração que podem levar à contemplação e visão de Deus. Este é o significado, argumentou o padre Maximos, da bem-aventurança de Cristo: "Bem aventurados os puros de coração porque eles verão a Deus."

"Você entende o que isso significa? Aqueles que desejam investigar se Deus existe devem empregar a metodologia apropriada que não é senão a purificação do coração das paixões e impurezas egoístas. Se as pessoas conseguem purificar seus corações e ainda não conseguem ver Deus, então é justificável que eles concluam que, de fato, Deus é uma mentira, que Ele não existe, que Ele é apenas uma grande ilusão. Tais pessoas podem rejeitar Deus com toda sinceridade dizendo: "Segui o método que os santos nos transmitiram e não consegui encontrar Deus. Portanto, Deus não existe."

"Você não acha que estaríamos completamente equivocados", continuou o padre Maximos, "se acreditássemos em um Deus que não houvesse nenhuma evidência de sua existência? Um Deus totalmente além de nosso alcance, um Deus que permanecesse em silêncio, nunca se comunicando conosco de forma real e tangível? "

— "Mas isso significa" eu concluí, "que a maioria dos crentes são, de fato, crentes cegos, ou, como você os chamou, 'religiosos ideólogos', isto é, eles acreditam nas idéias sobre Deus que eles mesmos inventaram, que podem ter pouco a ver com Deus. Não é de admirar que existam tantos problemas com a religião, tanto fanatismo religioso ".

"Você pode imaginar o quão tolo seria", o padre Maximos continuou, "e quão tolos os eremitas e os santos seriam ao prosseguir suas lutas espirituais, simplesmente porque eles acreditam em um Deus imaginário, ou em um Deus totalmente inacessível e distante? Não seria algo sério. Na verdade, poderia-se chamar de patológico ".

— "Não tenho dúvidas de que a maioria dos psicoterapeutas e psiquiatras seculares modernos enxergariam o estilo de vida monástico e eremítico como outra forma de psicopatologia", ressaltei. Então, em um tom mais sério, perguntei: "Devemos assumir que a busca filosófica de Deus, uma das paixões centrais da mente ocidental desde Platão até Immanuel Kant e os grandes filósofos dos séculos XIX e XX, tem sido, na realidade, fora do alvo?"

"Sim. Completamente."

Ficamos calados. O padre Maximos olhou pela janela enquanto fiquei tenso ao dirigir por uma estrada de terra estreita. Mudei para a primeira marcha e, à medida que forçava o motor, lentamente começamos a subir uma curva íngreme que nos levava para outra estrada. As montanhas de Troodos são atravessadas por estradas de terra, criadas pelo serviço florestal. Uma oração de um santo homem venerado, pensei com algum nervosismo, seria o mais apropriado agora. Conduzir no escuro numa passagem estreita não pavimentada na borda de um precipício era definitivamente diferente de cruzar a Interstate 95 em Maine. Mas ter o padre Maximos sentado ao meu lado me deu um sentimento de tranquilidade. O céu estava observando.

"Então, quando durante a liturgia recitamos a oração "Eu acredito em um Deus..." Padre Maximos prosseguiu depois que eu mudei para a segunda marcha, "tentamos, na verdade, passar de uma fé intelectual em Deus para a visão real de Deus. A Fé torna-se o próprio Amor. O Credo verdadeiramente significa "Eu vivo em uma união de amor com Deus". Este é o caminho dos santos. Só então podemos dizer que somos verdadeiros cristãos. Este é o tipo de fé que os santos possuem como experiência direta. Consequentemente, eles não têm medo da morte, de guerra, de doença ou de qualquer outra coisa deste mundo. Eles estão além de toda ambição mundana, do dinheiro, da fama, de poder, segurança e outras. Tais pessoas transcendem a idéia de Deus e entram na experiência de Deus ".

— "Mas, quantas pessoas podem realmente conhecer a Deus desse jeito?" Eu perguntei.

"Bem, enquanto não conhecemos Deus experiencialmente, devemos pelo menos reconhecer que somos simples crentes ideológicos", o padre Maximos respondeu secamente. "A forma ideal e última da verdadeira fé significa ter uma experiência direta de Deus como realidade viva".

Eu mencionei que experimentar Deus pode ser tão "simples" quanto ver Deus na beleza e complexidade da natureza. O padre Maximos concordou, mas apontou, no entanto, que a experiência de Deus é algo muito mais profundo do que isso, impossível de definir com palavras ou construções poéticas.

"Se isso é verdade", pensei, "então o Credo dentro da tradição cristã não significa o que a maioria das pessoas assumem como sendo sua mensagem, isto é, uma fé cega na ideia de Deus".
"Essa é uma falácia comum com todas as suas conseqüências desastrosas. A verdadeira fé significa que eu vivo com Deus, eu sou um com Deus. Eu conheci Deus e, portanto, eu sei que Ele verdadeiramente É. Deus vive dentro de mim e é vitorioso sobre a morte e eu avanço com Deus. Toda a metodologia da autêntica tradição mística cristã, articulada pelos santos, destina-se a chegar a essa fase em que nos tornamos conscientes da realidade de Deus dentro de nós mesmos. Até chegarmos a esse ponto, simplesmente permanecemos encalhados no domínio das idéias e não na essência da espiritualidade cristã, que é a comunhão direta com Deus ".

Havia uma aura de autoridade em torno do padre Maximos enquanto falava essas palavras. Eu senti que ele falou com a suposição implícita de que ele mesmo tinha provado Deus, e que o que ele estava me dizendo não era apenas o resultado da aprendizagem de livros e da assimilação em sua mente da tradição espiritual em que se encontrava.

A luz da manhã estava começando a atravessar os pinheiros quando notei um pouco de neve no chão, uma sobra do inverno. O mosteiro de Santa Anna estava no lado ocidental das montanhas de Troodos em direção a Paphos e além da vila de Prodromos. Portanto, primeiro tivemos que subir uma elevação maior, mais perto do cume do Olimpo, onde geralmente há muita neve durante os meses de inverno que depois descem do outro lado.

— "Minha próxima pergunta pode ser ingênua, mas preciso perguntar para esclarecer", ressaltei. "Quando você diz 'podemos ver Deus', você não quer dizer, claro, que nós podemos ver Deus como uma pessoa, com características faciais, como Deus geralmente é retratado em ícones e pinturas religiosas".

"Ah, isso é evidente. É claro que, em determinadas circunstâncias, Deus pode nos parecer à imagem de um ser humano. Claro, isso aconteceu historicamente com a encarnação. Mas Deus em Sua Essência é amorfo, além de todas as imagens e caracterizações antropomórficas. Ele não tem fisionomia. No entanto, ao mesmo tempo, Deus é uma pessoa na medida em que ele possui a possibilidade e o poder de comunicar com seres humanos de forma pessoal. Afinal, é por isso que, como o Cristo Logos, Ele veio até nós em carne, plenamente Deus e plenamente humano.

“A metodologia espiritual desenvolvida pelos santos,”Padre Maximos explicou, “visa oferecer-nos a possibilidade da visão direta de Deus. Quando isso acontece, como eu disse muitas vezes, não trata-se mais de uma questão de crença na existência de Deus, mas um reconhecimento direto do relacionamento eterno e ininterrupto que existe entre Deus e a humanidade.

"E, claro, a essência desse relacionamento", acrescentou ele, "é o Amor, que emana primeiro de Deus para os humanos e depois dos humanos para Deus". Pode parecer escandaloso para algumas pessoas, mas o florescimento completo desse relacionamento é a realização de um relacionamento profundamente erótico [1] com Deus que está muito além do arrebatamento erótico mais intenso e apaixonado entre os seres humanos. Esse estado de êxtase é o que São Máximo o Confessor chamou de eros maniakos. Você sabe do que estou falando?", o padre Maximos perguntou e se virou para mim com um olhar interrogativo em seu rosto.

"Acho que não estou entendendo", eu disse francamente. Tendo sido abençoado apenas com a experiência do eros humano, não conseguia imaginar o que o eros maniakos poderia ser. Eu só podia imaginar tal estado intelectualmente. Eu podia aceitar, por exemplo, que todos os relacionamentos eróticos em todos os níveis de intensidade do mais grosseiro ao mais sublime são manifestações diferentes do amor todo-consumidor do Deus absoluto. É como o sol que emanando seus raios. O eros humano é a experiência dos raios. Eros maniakos deve ser a entrada no próprio sol.

Lembro-me de que, quando encontrei essa ideia pela primeira vez, minha reação foi de desconfiança. Como os santos cristãos que negam eros em suas vidas pessoais estabelecem um eros maniakos com Deus? A resposta do padre Maximos foi simples. É uma questão de transladar sua energia exclusivamente na direção de Deus. Então, através da contínua oração e práticas espirituais, algo começa a acontecer dentro da consciência da pessoa que ora. Um dos seus anciãos do Monte Athos descreveu tal estado em um ensaio autobiográfico da seguinte maneira:

Quando a Graça é energizada no coração daquele que ora, então o amor de Deus inunda todo o seu ser até tal ponto que talvez ele não possa mais suportar. Então, esse amor é transferido para o amor do mundo e da pessoa humana. Seu amor se torna tão poderoso que ele pede para assumir todo o sofrimento e a infelicidade dos outros para que os outros possam ser aliviados. Ele sofre com aqueles que estão sofrendo, até mesmo pelo sofrimento dos animais, de tal forma que chegam a derramar lágrimas amargas quando toma consciência da dores dos outros. Estes são atributos do amor. Mas você deve ter em mente que é uma oração que os energiza e os causa. É por isso que aqueles que avançaram na oração nunca param de orar pelo mundo.

Era luz do dia quando chegamos a Prodromos e começamos a descida no declive ocidental das montanhas de Troodos. O mosteiro de Santa Anna estava agora a poucos quilômetros de distância. À medida que continuamos nossa conversa sobre como conhecer Deus, Padre Maximos afirmou que qualquer que seja angústia existencial que um ser humano possa sofrer, tal sofrimento termina uma vez que Deus se manifesta em seu coração. Quaisquer dúvidas, questões, dilemas filosóficos e perplexidade sobre a existência de Deus que são "naturais no estado decaído" simplesmente evaporam com tal contato tão direto. Felizmente, ele disse, a tradição dos santos sobreviveu ao longo dos séculos, mostrando-nos o método e a maneira de conhecer Deus. Os santos nos forneceram as ferramentas para purificar o coração de suas doenças para que possa experimentar a visão de Deus e alcançar sua terapia final.

Após a separação dos humanos de Deus, o padre Maximos disse, após a queda, o coração foi invadido por doenças, o verdadeiro significado do pecado original. Nós, como seres humanos, em virtude da nossa humanidade, carregamos como nossa herança essas doenças que são parte integrante da nossa condição humana. Ele então apontou que a Igreja Cristã, a Ecclesia , deve funcionar e ser vista como um hospital espiritual para curar as doenças do coração que obstruem nossa visão de Deus. E a Ecclesia tem como prova de sua eficácia terapêutica a experiência e a vida dos santos, aqueles seres humanos que, através de esforços árduos, purificaram seus corações e, portanto, conseguiram curar a separação entre eles e Deus. A Bíblia, segundo o padre Maximos, seria inadequada por si mesma para nos levar a Deus. Sem a experiência e o testemunho dos santos sobre a realidade de Deus, a Bíblia seria uma "carta vazia".
Quando o padre Maximos fez esses comentários sobre a Bíblia, percebi o quão radicalmente diferente era sua posição tanto dos fundamentalistas religiosos como dos estudiosos seculares da Bíblia. Os primeiros confundem a carta com a verdade, enquanto os estudiosos se concentram exclusivamente na precisão histórica da Bíblia, nunca cansando de desenterrar contradição após a contradição entre os quatro evangelhos. Mas, para o padre Maximos, a Bíblia tinha que ser vista em primeiro lugar como uma ferramenta, um guia sobre como conduzir nossas vidas para que possamos ser auxiliados a restabelecer nossa conexão com Deus. Certa vez citou John Romanides, seu ex-professor na Universidade de Tessalônica, um célebre e polêmico teólogo e um sacerdote, que deu o exemplo de que se você deseja avaliar a importância de um texto médico sobre cirurgia, você não o entrega para um grupo de açougueiros. Você deve entregá-lo para cirurgiões bem treinados. Eles são aqueles qualificados para oferecer uma opinião de especialista. Da mesma forma, o papel da Bíblia deve ser visto como uma ferramenta terapêutica para curar nossa alienação existencial de Deus. E aqueles que podem oferecer a opinião de especialista sobre o seu valor como um manual para a união com Deus não são nem os fundamentalistas nem os historiadores bíblicos, mas os santos que o colocaram extensivamente em prática. Além disso, acrescentou o padre Maximos, a Bíblia por si só não é adequada como um guia para alcançar Deus. É preciso levar em consideração toda a experiência da Ecclesia, todo o corpus da tradição espiritual, tal como articulado nas vidas, aforismos, homilias, metodologias espirituais e testemunhos escritos dos santos. E esta tradição está sendo testada e retestada pelas experiências dos santos. O ancião atonita russo São Silouan, um dos heróis espirituais do padre Maximos, chegou a afirmar que, mesmo que todos os livros sagrados e registros escritos da religião cristã, incluindo a Bíblia, fossem perdidos em um grande terremoto ou fogo, eles poderiam ser reescritos porque eles estão armazenados no fundo dos corações dos santos e podem ser descobertos a qualquer momento quando as condições permitirem.

[1] Nota do Tradutor: O termo "eros", no ocidente, perdeu seu sentido antigo com o passar do tempo. Devido a tal confusão hoje é comum reduzir o eros somente aquilo que é carnal-sensual. No entanto, é necessário distinguir "eros" de "pornea" e luxúria. Por isso, mesmo para os antigos, havia distinções entre os tipos de eros. Eros tal como utilizado por São Máximo (utilizado também por outros Padres como São Dionísio Aeropagita) é diametralmente oposto ao "eros" tal como é compreendido popularmente no mundo ocidental.

 

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