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5. Os vivos e os mortos

5.1 - A Mãe de Deus

Em Deus e na Igreja não há divisão entre os vivos e os que partiram, mas todos são um no amor do Pai. Estejamos vivos ou mortos, como membros da Igreja nós ainda pertencemos à mesma família, e ainda temos o dever de carregar o fardo uns dos outros. Assim como os Cristãos Ortodoxos aqui na terra oram uns pelos outros e pedem orações aos outros, eles também pedem pelos fieis que partiram e pedem aos fieis que partiram que orem por eles, A morte não consegue cortar o vínculo de amor mútuo que liga todos os membros da Igreja juntos.

Orações pelos que partiram: "Ó Cristo, dá repouso às almas de teus servos, junto com Teus Santos, lá onde não há doenças, nem tristeza, nem gemidos, mas sim vida eterna." Assim a Igreja Ortodoxa ora pelos fiéis falecidos; e de novo:

«O Deus dos espíritos e de toda a carne,
Que venceste a morte e derrotaste o Diabo,
e deste vida ao Teu mundo:
dá Tu, o mesmo Senhor,
repouso às almas de Teus servos falecidos,
no lugar de luz refrigério e repouso,
do qual toda dor, tristeza e suspiros fugiram.
Perdoa todas as transgressões que eles cometeram,
por palavras, atos ou pensamentos!»

Os Ortodoxos estão convencidos que os Cristãos aqui na terra tem obrigação de rezar pelos que partiram, e são confiantes que os mortos são ajudados por essas orações. Mas precisamente de que modo nossas orações ajudam os mortos? Qual é a condição exata das almas no período entre a morte e a ressurreição dos corpos no último dia? Aqui, o ensinamento Ortodoxo não é inteiramente claro, e tem variado alguma coisa em diferentes períodos.

No século dezessete numerosos escritores Ortodoxos, mais notoriamente, Pedro de Moghila e Dositeus em sua Confessions — sustentaram a doutrina Católico-Romana do Purgatório, ou algo muito próximo (de acordo com o ensinamento Romano normal, as almas no Purgatório passam por sofrimento expiatório, e então prestam "satisfação" ou "justificativa" dos seus pecados. Deveria ser frisado, no entanto, que mesmo no século dezessete existiram muitos ortodoxos que rejeitaram o ensinamento Romano sobre Purgatórios. As afirmações sobre os mortos na Orthodox Confession de Moghila, foram cuidadosamente mudadas por Meletius Syrigos, enquanto já no fim da vida Dositeus especificamente retratou-se em relação ao que tinha escrito sobre os mortos em sua Confessions). Hoje a maioria, senão todos os teólogos Ortodoxos rejeitam a idéia do Purgatório, de qualquer forma. A maioria estaria inclinada a dizer que os fiéis mortos não sofrem nada. Outra escola sustenta que talvez eles sofram, mas se for assim, seu sofrimento é purificador mas não expiatório, pois quando um homem morre na graça de Deus, então Deus o liberta perdoando-lhe todos os pecados e não exige penalidades expiatórias: Cristo, o Cordeiro de Deus que tira os pecados do mundo, é nossa única explicação e satisfação. Além desses, um terceiro grupo prefere deixar a questão inteiramente em aberto: evitemos formulações detalhadas acerca da vida após a morte, eles dizem, e preservemos uma reverente e agnóstica reticência. Quando Santo Antonio (Antão) do Egito estava certa vez pensando na divina providencia, uma voz veio a ele dizendo: "Antônio, pensa em ti próprio, pois isso que especulas são julgamentos de Deus, e não é para que Tu os conheça" (Apophthegmata P.g.65, Antony, 2).

Os Santos. Simeão, o novo Teólogo descreve os Santos como formando uma corrente dourada:

«A Santíssima Trindade,
penetrando todos os Homens,
do primeiro ao último,
da cabeça aos pés,
liga-os todos juntos...
Os Santos em cada geração,
juntam-se àqueles que se foram antes,
e preenchidos como aqueles com luz,
tornam-se uma corrente, dourada,
na qual cada Santo é um elo separado,
unido ao próximo pela fé, obras e amor.
Assim, no Deus Único
eles formam uma única corrente
que não pode ser quebrada rapidamente.»

(Centuries 3, 2,4).

Tal é a idéia Ortodoxa da comunhão dos Santos. Essa corrente é uma corrente de mútuo amor e oração; e nessa oração amorosa os membros da Igreja na terra, "chamados para serem santos," tem seu lugar.

Privadamente um Cristão Ortodoxo está livre para pedir as orações de qualquer membro da Igreja, canonizado ou não. Seria perfeitamente natural para uma criança Ortodoxa, se órfã, terminar suas orações vespertinas pedindo pela intercessão não só da Mãe de Deus e dos Santos, mas de sua própria Mãe e de seu Pai. Nas suas orações publicas, no entanto, a Igreja ora pedindo só para aqueles que ela oficialmente proclamou como Santos. Mas em circunstâncias excepcionais um culto público pode vir a ser estabelecido sem qualquer ato formal de canonização. A Igreja Grega sob o Império Otomano começou logo a comemorar os Novos Mártires em seus ofícios, mas para evitar que os turcos ficassem sabendo normalmente não havia nenhum ato de proclamação: O culto dos Novos Mártires foi em muitos casos algo que apareceu espontaneamente da iniciativa popular. O mesmo aconteceu em anos mais recentes com os Novos Mártires da Rússia: em certos locais, tanto dentro quanto fora da União Soviética, eles começaram a ser comemorados como Santos nos ofícios da Igreja, mas as condições presentes na Igreja Russas fazem com que a canonização formal seja impossível.

A reverência pelos Santos está intimamente ligada com a veneração dos ícones. Eles são colocados pelos Ortodoxos não só em suas Igrejas, mas também em cada cômodo de suas casas, e até mesmo em carros e ônibus. Esses sempre presentes ícones agem como ponto de encontro entre os membros vivos da Igreja e aqueles que se foram antes. Os ícones ajudam os Ortodoxos a olhar os Santos não como figuras remotas e legendárias do passado, mas como contemporâneos e amigos pessoais.

No Batismo, um Ortodoxo recebe o nome de um Santo, "Como um símbolo de sua entrada na unidade da Igreja, que não é só a Igreja da terra, mas também a Igreja no Céu" (P. Kovalevsky, Exposé de la Foi Catholique Orthodoxe, Paris, 1957, p. 16). Um Ortodoxo tem uma devoção especial ao Santo de quem carrega o nome; usualmente ele mantém um ícone de seu santo padroeiro em seu quarto, e ora diariamente para ele. A festa do seu Santo padroeiro ele guarda como seu dia de Nome, e para muitos Ortodoxos (como também para muitos Católicos Romanos na Europa Continental), essa é uma data muito mais importante do que seu aniversário.

Um Cristão Ortodoxo ora não só para os Santos mas também para os anjos, e em particular para seu Anjo da Guarda. Os anjos "Cercam-nos com sua intercessão e escudam-nos com suas asas protetoras de glória imaterial" (Do hino de despedida da Festa dos Arcanjos, 8 novembro).

A Mãe de Deus. Entre os Santos, uma posição especial pertence à Virgem Maria a quem os Ortodoxos reverenciam como a mais exaltada entre as criaturas de Deus, "Mais venerável que os querubins, incomparavelmente mais gloriosa que os serafins" (Do Hino à Virgem, cantado na Liturgia de São João Crisóstomo). Note-se que nos a designamos "A mais exaltada entre as criaturas de Deus": Os Ortodoxos, como os Católicos Romanos, veneram ou honram a Mãe de Deus, mas em nenhum sentido os membros de ambas as Igrejas a consideram como a quarta pessoa da Trindade, nem asseguram a ela a adoração devida somente a Deus. Na teologia Grega a distinção é claramente marcada: existe uma palavra especial, latreia, reservada para a adoração de Deus, enquanto que para a veneração da Virgem, termos inteiramente diferentes são empregados (duleia, hyperduleia, proskynesis).

Nos ofícios Ortodoxos a Virgem Maria é mencionada com freqüência e em cada ocasião lhe é dado seu título completo: "Nossa Santíssima, Imaculada, Bendita e Gloriosa Senhora, Mãe de Deus e Sempre Virgem Maria." Aqui estão os três principais epítetos aplicados para Nossa Senhora, pela Igreja Ortodoxa: Theotokos (Mãe de Deus), Aeiparthenos (Sempre Virgem) e Panagia (Toda Santa). O primeiro desses títulos foi designado a ela pelo Terceiro Concílio Ecumênico (Éfeso, 431), o segundo pelo Quinto Concílio Ecumênico (Constantinopla, 553). (A crença na Virgindade Perpetua de Maria pode parecer à primeira vista contrária às Escrituras, porque Marcos 3:31 menciona os "irmãos" de Cristo. Mas a palavra usada ali, em grego, pode significar meio-irmão, primo ou parente próximo, bem como irmão no sentido estrito). O Epíteto Panagia, apesar de nunca ter sido objeto de uma definição dogmática, é aceito e usado por todos os Ortodoxos.

O termo Theotokos é de particular importância, pois dele provem a chave para o culto Ortodoxo da Virgem. Nos louvamos Maria porque ela é a Mãe do Nosso Deus. Nós não a veneramos isoladamente, mas por sua relação com Cristo. Assim a reverência mostrada a Maria, longe de eclipsar a adoração de Deus, tem exatamente o efeito contrário: quanto mais estimamos Maria, mas vívida é a nossa consciência da Majestade de seu Filho, pois é precisamente por conta do Filho que nós veneramos a Mãe.

Nós louvamos a Mãe por conta do Filho: Mariologia é uma simples extensão da Cristologia. Os Padres do Concílio de Éfeso insistiram em chamar Maria de Theotokos, não porque quisessem glorificá-la como um fim em si próprio, à parte do seu Filho, mas porque somente louvando Maria poderiam salvaguardar a doutrina correta da pessoa de Cristo. Qualquer um que pense nas implicações da grande frase: O Verbo se fez Carne, não pode deixar de sentir um respeito temeroso por aquela que foi escolhida como instrumento de tão extraordinário Mistério. Quando os homens se recusam a louvar Maria, muito freqüentemente é porque eles não acreditam realmente na Encarnação.

Mas os Ortodoxos veneram Maria, não só porque ela é a Theotokos, mas também porque ela é a Panagia, Toda-Santa. Entre todas as criaturas de Deus, ela é o exemplo supremo de sinergia ou cooperação entre o propósito da divindade e a vontade livre do ser humano. Deus, que sempre respeitou a liberdade humana, não quis tornar-se encarnado sem o livre consentimento de Sua Mãe. Ele esperou pela resposta voluntária dela: "Eis aqui a serva do Senhor; cumpra-se em mim, segundo a sua palavra" (Lc. 1:38). Maria poderia ter recusado: Ela não era meramente passiva, mas uma participante ativa no Mistério. Como Nicolau Cabasilas disse:

«A encarnação não foi trabalho só do Pai,
de Seu Poder e de Seu Espírito...
Mas foi também trabalho
da vontade e da fé da Virgem...
Assim como Deus encarnou voluntariamente,
Ele também quis que Sua Mãe O portasse livremente
e com seu consentimento completo!"
(On the Annunciation, 4-5, Patrologia Orientalis.»

vol. 19, Paris, 1926, pg. 488).

Se Cristo é o Novo Adão, Maria é a nova Eva, aquela que se submeteu à vontade de Deus contrabalançando a desobediência de Eva no Paraíso! Assim o nó de Eva foi desatado pela obediência de Maria; pois o que Eva, uma virgem, atou pela sua descrença, Maria, uma virgem, desatou pela sua fé (Irineu, Against the Heresies, 3, 22, 4). "Morte por Eva, vida por Maria" (Jerome, letter 22,21).

A Igreja Ortodoxa chama Maria de a "Toda Pura"; ela é chamada "Imaculada," ou "sem mancha" (em Grego, Achrantos); e todos os Ortodoxos concordam em acreditar que Nossa Senhora, era livre do pecado durante sua vida. Mas foi ela livre também do pecado original? Em outras palavras, a Ortodoxia concorda com a doutrina católico-romana da Imaculada Conceição, proclamada como dogma pelo Papa Pio, o Nono em 1854, de acordo com a qual Maria, desde o momento em que foi concebida por sua mãe Santa Ana, foi por decreto especial de Deus liberada de "toda mancha do pecado original?" A Igreja Ortodoxa nunca de fato fez qualquer pronunciamento formal e definitivo sobre o assunto. No passado Ortodoxos individualmente fizeram afirmações que ainda que não confirmando definitivamente a doutrina da Imaculada Conceição, de algum modo se aproximando dela; mas desde 1854 a grande maioria dos Ortodoxos rejeitaram a doutrina, por várias razões. Eles sentiam que ela era desnecessária; eles entendiam que de qualquer modo, como definida pela Igreja Católico-Romana, ela implica num falso entendimento do Pecado original; eles suspeitavam da doutrina porque ela parece separar Maria do resto dos descendentes de Adão, colocando-a numa classe completamente diferente de todos os outros homens e mulheres justos do Velho Testamento. Do ponto de vista Ortodoxo, no entanto, a questão toda pertence ao Reino das opiniões teológicas; e se um Ortodoxo individual sente-se impelido em acreditar na Imaculada Conceição, ele não poderia ser classificado de herético por isso.

Mas a Ortodoxia, enquanto em sua grande maioria nega a doutrina da Imaculada Conceição de Maria, acredita firmemente em sua Ascensão Corpórea (Imediatamente após o Papa ter proclamado a Assunção como dogma em 1950, alguns Ortodoxos (mais como reação contra a Igreja Católico-Romana) começaram a expressar dúvidas sobre a Ascensão Corpórea e mesmo a negá-la explicitamente. Mas certamente eles não são representativos da Igreja Ortodoxa como um todo). Como o resto da humanidade, Nossa Senhora passou pela morte física, mas no caso dela a Ressurreição do Corpo foi antecipada: depois da morte seu corpo foi elevado e "assumido" no céu e seu tumulo foi encontrado vazio. Ela passou além da morte e do julgamento, e já vive no Tempo que há de vir. No entanto Ela não está por isso separada da humanidade, pois essa glória corpórea da qual Maria desfruta agora, todos nos esperamos dela partilhar um dia.

A crença na Ascensão da Mãe de Deus é afirmada claramente e sem ambigüidade nos hinos cantados na Igreja em 15 de agosto, Festa da Dormição! Mas a Ortodoxia diferentemente de Roma, nunca proclamou a Assunção como dogma, nem nunca desejou fazer isso. As doutrinas da Trindade e da Encarnação foram proclamadas como dogmas, por elas pertencerem a pregação pública da Igreja; mas a glorificação de Nossa Senhora pertence a Tradição interna da Igreja:

«É difícil falar e não menos difícil pensar acerca dos mistérios que a Igreja guarda escondidos nas profundezas de sua consciência interna... A Mãe de Deus nunca foi tema da pregação pública dos Apóstolos; enquanto Cristo era pregado pelos telhados, e proclamado para todos para ser conhecido num ensinamento iniciatório dirigido ao mundo todo, o Mistério de Sua Mãe só era revelado para aqueles que estavam dentro da Igreja... Não é tanto um objeto de fé como é a fundação de nossa esperança, um fruto da Fé, amadurecido na Tradição. Mantenhamos então silêncio, e não tentemos dogmatizar acerca da suprema gloria da Mãe de Deus.» (V. Lossky, "Panagia," em The Mother of God, editado por E. L. Mascall, pg. 35).

5.2 - As últimas coisas

Para os Cristãos só existem duas alternativas definitivas, Céu e Inferno. A Igreja espera a consumação do final, que na teologia Grega é chamada de apocatastasis ou "restauração," quando Cristo retornará em grande glória para julgar tanto os vivos quanto os mortos. Essa apocatastasis final envolve, como vimos, a redenção e a glorificação da matéria: no último dia os justos levantarão dos túmulos e serão unidos novamente a um corpo — não um corpo como possuímos agora, mas um transfigurado e "espiritual" no qual a santidade interna é tornada manifesta externamente. E não só os corpos humanos mas toda a ordem material será transformada Deus criará um Novo Céu e uma Nova Terra.

Mas o Inferno existe tanto quanto o Céu. Nos anos recentes muitos Cristãos não só no ocidente, mas com o tempo também na Igreja Ortodoxa — começaram a achar a idéia de Inferno inconsistente com a crença num Deus amoroso. Mas argumentar assim é colocar uma triste e perigosa confusão no pensamento. Enquanto que é verdade que Deus nos ama com amor infinito, também é verdade que Ele nos deu livre arbítrio; e já que temos livre arbítrio, é possível para nós rejeitarmos Deus. Desde que existe livre arbítrio, o Inferno existe; pois o Inferno nada mais é que a rejeição de Deus. Se nós negamos o Inferno, nós negamos o livre arbítrio. "Ninguém é tão bom e cheio de piedade como Deus" escreveu Marcos, o Monge ou Eremita (começo do quinto século); "Mas nem Ele perdoa aqueles que não se arrependem" (On those who think to be justified from works, 71, PG. 65, 9400). Deus não nos forçará a ama-lo, pois o amor não é mais amor se não for livre; como pode então Deus reconciliar Consigo próprio àqueles que recusam qualquer reconciliação?

A atitude Ortodoxa em relação ao Juízo Final e Inferno é expressa claramente na escolha das leituras do Evangelho lidas nos três domingos sucessivos imediatamente antes da Grande Quaresma. No primeiro domingo é lida a parábola do Publicano e do Fariseu, no segundo a parábola do Filho Pródigo, histórias que ilustram o perdão imenso e misericórdia de Deus para com todos os pecadores que se arrependem. Mas no Evangelho do terceiro domingo — a parábola das ovelhas e dos bodes — nós somos lembrados de outra verdade: que é possível rejeitar Deus e virar-se d’Ele para o Inferno. "Então dirá também aos que estiverem à sua esquerda: apartai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus amigos" (Mt. 25:41)

Não existe terrorismo na doutrina Ortodoxa de Deus. Os Cristãos Ortodoxos não bajulam Deus com um medo abjeto, mas pensam Nele como philanthropos, o "Que ama o Homem." Ainda assim eles mantêm na mente que Cristo em Sua segunda vinda virá como Juiz.

O Inferno não é tanto um lugar onde Deus aprisiona o homem, como um lugar onde o homem, por mal uso do seu livre — arbítrio, escolhe ele próprio se aprisionar. E mesmo no Inferno os malditos não são privados do amor de Deus, mas por sua própria escolha eles experimentam tanto sofrimento quanto os santos experimentam júbilo." O amor de Deus será um tormento intolerável para aqueles que não o adquiriram para dentro de sí" (V. Lossky, The Mystical Theology of the Eastern Church, pg 234).

O Inferno existe como uma possibilidade final, mas vários dos Padres acreditaram não menos de que no fim tudo será reconciliado com Deus. É herético dizer que todos deverão ser salvos, pois isso é negar o livre arbítrio; mas é legitimo esperar que todos possam ser salvos. Até que o último dia venha, não devemos nos desesperançar da salvação de ninguém, mas devemos aguardar e orar pela reconciliação de todos sem exceção. Ninguém deve ser excluído de nossa intercessão amorosa. "O que é um coração misericordioso?" perguntou São Isaac, o Sírio. "É um coração que arde com amor por toda a criação, pelos homens, pelos pássaros, pelas bestas, pelos demônios, por todas as criaturas" (Mystic Treatises, editado por A J. Wensinck, Amsterdam, 1823, pg.341). Gregório de Nissa disse que os Cristãos podem legitimamente ter esperança na salvação mesmo do Diabo.

As escrituras terminam com uma nota de aguda expectativa:... "certamente cedo eu venho. Amém. Ora vem, Senhor Jesus" (Ap. 22:20). No mesmo Espírito de ansiosa esperança os Cristãos primitivos costumavam orar: "Que venha a graça e que esse mundo passe" (Didaque, 10,6). De um ponto de vista os primeiros Cristãos estavam errados: Eles imaginavam que o fim do mundo ocorreria quase imediatamente, enquanto que de fato dois milênios já se passaram e o fim do mundo ainda não veio. Não é para nós conhecermos os tempos e as estações, e talvez essa ordem presente venha a durar por muitos milênios mais. No entanto de outro ponto de vista a Igreja primitiva estava certa. Pois venha o fim mais cedo ou mais tarde, ele está sempre eminente, sempre espiritualmente perto, à mão, ainda que ele possa temporariamente não estar perto. O dia do Senhor virá "Como o ladrão de noite" (1Ts 5:2) numa hora em que os homens não o esperam. Os Cristãos, por isso, como nos tempos Apostólicos, ainda hoje devem estar sempre preparados, esperando em constante expectativa. Um dos mais encorajadores sinais de renascimento na Ortodoxia contemporânea é a renovada consciência entre muitos Ortodoxos da Segunda Vinda e sua relevância. "Quando um pastor em visita à Rússia perguntou qual era o problema mais quente da Igreja Russa, um Padre respondeu sem hesitação: a Parusia" (P. Evdokimov, L’Orthodoxe, P.g.9 (Parousia: o temo Grego para a Segunda Vinda).

No entanto a segunda vinda não é simplesmente um evento futuro, pois na vida da Igreja, o tempo a vir já começou a surgir na presente época. Para membros da Igreja de Deus, os "Últimos Tempos" já foram inaugurados, porque aqui e agora os Cristãos desfrutam os primeiros frutos do Reino de Deus. Mesmo assim, vem senhor Jesus. Ele já veio — na Sagrada Liturgia e na Louvação da Igreja.

 

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