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Temos o mesmo Deus que os não-cristãos?

Padre Basile Sakkas
Trad.: Pe. Pedro Oliveira Junior

«OS POVOS HEBREU, ISLÂMICO E CRISTÃO... essas três expressões de um idêntico monoteísmo, falam com as vozes mais autênticas e antigas, e mesmo ousadas e confiantes. Porque não seria possível que o nome do mesmo Deus, ao invés de engendrar uma oposição irreconciliável, viesse, isso sim, a conduzir ao respeito mútuo, compreensão e coexistência pacífica? Não deveria a referência ao mesmo Deus, o mesmo Pai, sem prejuízo de discussões teológicas, nos conduzir a descobrir o que é tão evidente,apesar de tão difícil — que somos todos filhos do mesmo Pai, e que, portanto, somos todos irmãos?» Papa Paulo VI, La Croix, 11 Ago. 1970.

a quinta-feira, 2 de abril de 1970, uma grande manifestação religiosa teve lugar em Genebra. Dentro do quadro da Segunda Conferência da "Associação das Religiões Unidas," os representantes das religiões alvo foram convidados a se reunir na Catedral de São Pedro. Essa "oração comum" foi baseada na seguinte motivação: "Os fiéis de todas essas religiões foram convidados a coexistir no culto do mesmo Deus"! Vejamos se essa afirmação é válida à luz das Sagradas Escrituras.

Para melhor explicar o assunto, nos limitaremos às três religiões que se seguiram uma a outra nessa ordem: Judaísmo, Cristianismo, Islamismo. Essas três religiões alegam, de fato, uma origem comum: como adoradores do Deus de Abraão. Essa é uma opinião largamente espalhada já que todos reclamam ser a posteridade de Abraão (os judeus e islâmicos segundo a carne e os Cristãos espiritualmente), nós todos temos como Deus o Deus de Abraão e todos três de nós adoramos (cada um a seu modo, naturalmente) o mesmo Deus! E, esse mesmo Deus constitui de alguma forma nosso ponto de unidade e de "mútuo entendimento," e isso nos convida para uma "relação fraternal," como o grande rabino Dr. Safran enfatizou, parafraseando o Salmo: "Ó, como é bom ver os irmãos sentados juntos..."

Nessa perspectiva é evidente que Jesus Cristo, Deus e Homem, o Filho Co-eterno com o Pai sem início, Sua Encarnação, Sua Cruz, Sua gloriosa Ressurreição e Sua Segunda e Terrível Vinda — tornam-se detalhes secundários que não podem impedir que "confraternizemos" com aqueles que O consideram um "simples profeta" (de acordo com o Corão) ou "o filho de uma prostituta" (de acordo com certas tradições talmúdicas)! Assim colocaríamos Jesus de Nazaré e Maomé no mesmo nível. Eu não conheço que Cristão digno do nome poderia admitir isso em sua consciência.

Pode-se dizer que nessas três religiões, olhando sobre o passado, pode-se concordar que Jesus Cristo foi um ser extraordinário e excepcional e que Ele foi mandado por Deus. Mas para nós Cristãos, se Jesus Cristo não é Deus, nós não podemos considerá-Lo nem como um "profeta" nem como alguém mandado por Deus, "mas somente um grande impostor sem comparação, Que Se proclamou "Filho de Deus," fazendo-Se assim igual a Deus!" (Mc.14: 61-62). De acordo com essa solução ecumênica de nível supra-confessional, o Deus Trinitário dos Cristãos seria a mesma coisa que o monoteísmo do Judaísmo, do Islã, dos antigos heréticos seguidores de Sabélio, dos modernos anti-Trinitários, e de certas seitas Iluministas. Não haveria três Pessoas em uma Única Divindade, mas uma única Pessoa, imutável para alguns,ou mudando sucessivamente "máscaras" (Pai, Filho, Espírito Santo) para outros! E não obstante pretende-se que esse é o "mesmo Deus."

Nesse ponto alguém pode propor ingenuamente: "No entanto, para as três religiões há um ponto comum: todas as três confessam o Deus Pai!" Mas de acordo com a Santa Fé Ortodoxa, isso é um absurdo. Nos confessamos sempre: Gloria à Santa, Consubstancial, Vivificante e Indivisível Trindade. Como poderíamos separar o Pai do Filho quando Jesus Cristo afirma Eu e o Pai somos Um (Jo 10, 30); e São João o Apóstolo, Evangelista e Teólogo, o Apóstolo do Amor, afirma claramente: Quem não honra o Filho, não honra o Pai Que O enviou (Jo 5, 23).

Mas mesmo se nós três chamarmos Deus Pai: de quem Ele é realmente o Pai? Para os judeus e os islâmicos Ele é o Pai dos homens no plano da criação; enquanto para nós Cristãos Ele é o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo por adoção. (Ef 1, 4-5) no plano da redenção. Que semelhança há ai, então, entre a Divina Paternidade no Cristianismo e nas outras religiões?

Outros podem dizer: "Mas é tudo o mesmo, Abraão adorava o verdadeiro Deus; e os judeus através de Isaac e os islâmicos através de Hagar são descendentes desse verdadeiro adorador de Deus." Aqui se deve deixar uma série de coisas claras: Abraão adorou Deus não na forma do monoteísmo impessoal dos outros, mas na forma da Santíssima Trindade. Nós lemos nas Santas Escrituras: Depois apareceu-lhe o Senhor nos carvalhais de Manre...e ele inclinou-se à terra.(Ge. 18:1-2). E sob que forma Abraão adorou Deus? Sob a forma impessoal, ou sob a forma da Divina Tri-Unidade? Nós Ortodoxos veneramos essa manifestação da Santíssima Trindade no Velho Testamento, no Dia de Pentecostes, quando nós adornamos nossas igrejas com galhos representando os antigos carvalhos, e quando nós veneramos no meio deles o ícone dos Três Anjos, justamente como nosso pai Abraão os venerou! Descendência carnal de Abraão pode não ter uso se nós não formos regenerados nas águas do Batismo na Fé de Abraão. E a Fé de Abraão era a Fé em Jesus Cristo, como o próprio Senhor disse: Abraão,vosso Pai, exultou por ver o meu dia, e viu-o, e alegrou-se (Jo 8, 56). Essa foi também a Fé do Profeta-Rei David, que ouviu o Pai celestial falando para Seu Filho Consubstancial: Disse o Senhor ao meu Senhor (Sl 109, 1; At 2, 34). Essa foi a Fé dos Três Jovens na fornalha quando eles foram salvos pelo Filho de Deus (Dn 3, 25); e do Santo Profeta Daniel, que teve a visão das duas naturezas de Jesus Cristo no Mistério da Encarnação quando o Filho do Homem dirigiu-se para o Ancião de Dias (Dn 7, 13). Eis ai porque o Senhor, dirigindo-se para a (biologicamente incontestável) posteridade de Abraão, disse: "Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão."(Jo 8, 39), e as "obras" de Deus são para que creiais Naquele Que Ele enviou (Jo 6, 29).

Quem são então os que constituem a posteridade de Abraão? Os filhos de Isaac segundo a carne, ou os filhos de Hagar a egípcia? É Isaac ou Ismael a posteridade de Abraão? O que as Escrituras ensinam pela boca do divino Apóstolo? Ora as promessas foram feitas a Abraão e à sua posteridade. Não diz:E às posteridades, como falando de muitas, mas como de uma só:E à tua posteridade, que é Cristo (Gl 3,16). E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa (Gl 3, 29). É então em Jesus Cristo que Abraão se tornou o pai de muitas nações (Gn 17, 5; Rm. 4, 17). Depois de tais promessas e tais certezas, que significam as descendências carnais que Abraão teve? De acordo com As Sagradas Escrituras, Isaac é considerado como a descendência ou posteridade, mas somente como a imagem de Jesus Cristo. Oposto a Ismael (o filho de Hagar; Gn 16, 1 ss.), Isaac nasceu na miraculosa "liberdade" de uma mãe estéril, que estava em idade avançada e contra as leis da natureza, similar a nosso Salvador, Que nasceu miraculosamente de uma Virgem. Ele escalou o monte de Moriá assim como Jesus escalou o Calvário, carregando em Seus ombros o madeiro do sacrifício. Um anjo liberou Isaac da morte, assim como um anjo rolou a rocha para nos mostrar que a tumba estava vazia, que o Ressuscitado não mais estava lá. Na hora da oração, Isaac encontrou Rebeca na planície e conduziu-a para a tenda de sua mãe Sara, assim como Jesus encontrará Sua Igreja nas nuvens para levá-La para as mansões celestiais, a Nova Jerusalém, a mui desejada pátria.

Não! Nós, no mínimo não temos o mesmo Deus que os não-Cristãos têm! O sine-qua-non para conhecer o Pai, é o Filho: ...quem Me vê a Mim vê o Pai; ... Ninguém vem ao Pai, senão por Mim (Jo 14, 9 e ss.). Nosso Deus é um Deus Encarnado, Que vimos com nossos olhos, e as nossas mãos tocaram (1Jo 1, 1). O imaterial tornou-se material para nossa salvação, como diz São João Damasceno, e Ele Se revelou em nós. Mas quando Ele Se revelou entre os atuais judeus e islâmicos, de modo que possamos supor que eles conhecem Deus? Se eles têm conhecimento de Deus fora de Jesus Cristo, então Cristo encarnou, morreu e ressuscitou em vão!

Não, eles não conhecem o Pai. Eles têm concepções a respeito do Pai; mas todas as concepções acerca do Pai são ídolos, porque concepção é um produto de nossa imaginação, a criação de um deus à nossa imagem e semelhança. Para nós Cristãos Deus é inconcebível, indescritível e imaterial, como diz São Basílio o Grande. Para nossa salvação Ele tornou-Se (contanto que estejamos unidos a Ele) concebido, descrito e material, por revelação no Mistério da Encarnação de Seu Filho. Para Ele glória pelos séculos dos séculos. Amém. E eis ai porque São Cipriano de Cartago afirma que quem não tem a Igreja como Mãe, não tem Deus como Pai!

Que Deus nos preserve de Apostasia e da vinda do Anti-Cristo, de quem os sinais estão se multiplicando dia a dia. Que Ele nos preserve da grande aflição que mesmo os eleitos não terão condição de suportar sem a Graça Daquele Que "abreviará" esses dias. E que Ele nos preserve no "pequeno rebanho," o "remanescente de acordo com a eleição da Graça," para que como Abraão possamos rejubilar à Luz de Sua Face, pelas orações da Santíssima Mãe de Deus e Sempre-Virgem Maria, de todas hostes celestes, a nuvem de testemunhas, profetas, mártires, hierarcas, evangelistas e confessores que foram fiéis até a morte, que derramaram seu sangue por Cristo, que nos geraram pelo Evangelho de Jesus Cristo nas águas do Batismo. Nós somos filhos deles - fracos, pecadores, e indignos, seguramente; mas não elevaremos nossas mãos para um deus estranho. Amém.


Fonte:

Extraído de: La Foi Transmise, 5 Abril, 1970

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