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O desespero incessante da vida sem Deus

Por Wagner Kaba

uitos ateus se comprazem em afirmar que os crentes são pessoas iludidas pela idéia da existência de Deus. Muitos discordarão desta alegação, inclusive o autor deste artigo. Mas este texto não tem como foco analisar a suposta ilusão daqueles que crêem e sim, analisar uma ilusão freqüente compartilhada por muitos daqueles que não crêem: a idéia de que Deus é irrelevante para a questão do sentido da vida. Será que se pode declarar a morte de Deus e, mesmo assim, alegremente afirmar que a vida possui sentido?

Os cientistas afirmam que o universo está fadado a morrer. Como ele está em expansão desde o Big Bang, tudo que nele existe está se tornando cada vez mais distante. Com o passar do tempo, as estrelas perderão seu calor e irão morrer. Deste modo, o universo se tornará cada vez mais frio, e sua energia irá se esgotar. O espaço ficará repleto de cadáveres estelares que serão tragados por buracos negros. E até mesmo os buracos negros serão consumidos e irão se evaporar. Assim, todas as coisas estão condenadas a desaparecer sob os escombros de um mundo agonizante. Tudo o que foi construído pelo homem desaparecerá sem deixar nenhum vestígio. Não haverá nenhum ser vivo para contar alguma história e nenhum outro para ouvi-la. “Tudo aquilo que já formou você, as montanhas, as estrelas e tudo o mais será uma coisa só: um mar escuro de energia. Um mar cada vez mais frio, inerte. Sem nada nem ninguém para acender a luz.” [1]

Neste cenário, faz alguma diferença fundamental o fato de o universo algum dia ter existido? Quer o universo tenha surgido ou não, no final das contas o resultado é o mesmo: um vazio negro, frio e inerte. Assim, como tudo acaba em nada, não faz diferença nenhuma se algo existiu ou não. Portanto, o universo não tem um sentido fundamenta [2].

Este mesmo raciocínio pode ser aplicado ao ser humano. Se Deus não existe, o homem está condenado a desaparecer como se nunca houvesse existido. Deste modo, no final das contas, não fará diferença nenhuma o fato de algum homem ter surgido sobre a face da terra. A humanidade, portanto, não tem mais importância do que um enxame de mosquitos ou uma vara de porcos, pois seu fim é o mesmo. O mesmo processo cósmico cego e mecânico que a vomitou no início um dia acabará por engoli-la [3]. No final, todos os esforços humanos terão sido em vão. A contribuição dos cientistas para o avanço da ciência, os esforços dos pacifistas para promover a paz, as pesquisas médicas para descobrir a cura de doenças, o trabalho dos humanitaristas para erradicar a pobreza – no final, tudo o que custou tanto para ser conquistado, muitas vezes à custa de inúmeras vidas, desaparecerá como se nenhum esforço houvesse sido realizado. Desta forma, tudo acaba em nada e, portanto, o homem é nada.

O filósofo William Lane Craig apresenta o quadro em que estamos inseridos:

Se cada pessoa deixa de existir quando morre, que sentido fundamental pode ser dado à sua vida? Realmente faz diferença se ela existiu? Pode ser dito que sua vida foi importante porque influenciou outros ou afetou o curso da história. Mas isso mostra apenas um significado relativo da sua vida, não um sentido fundamental. Sua vida pode ter importância relativa a certos acontecimentos, mas qual é o sentido fundamental desses acontecimentos? Se todos os acontecimentos não têm sentido, então que sentido fundamental pode haver em influenciá-los? No final das contas, não faz diferença.” [4]

Mesmo assim, muitos ateus insistem em dizer que a vida possui propósito. “A vida não vem com um manual de instruções indicando seu sentido”, dizem eles. “Somos nós que o criamos. E é isto o que faz a vida tão maravilhosa. Podemos escolher o que queremos, que sentido e que rumo queremos dar a ela.”

Inventar um sentido para a vida pode até ajudar uma pessoa a se sentir bem. Mas esta invenção não passa de um auto-engano para ajudar a suportar a dura realidade da existência, visto que a vida continua sem sentido em termos objetivos do mesmo jeito.

Se Deus não existe, o que é o homem? Ele é apenas um subproduto acidental da natureza que evoluiu recentemente em um ponto de poeira infinitesimal perdido em algum lugar de um universo hostil e sem sentido e que está condenado a perecer individualmente e coletivamente em um espaço relativamente curto de tempo[5]. Nesta ordem de idéias, homem é mero produto do acaso e não há propósito nenhum em sua existência. E nenhuma tentativa de se inventar um sentido para a existência poderá mudar estes fatos. Portanto, inventar um sentido para sua vida não passa de um exercício de auto-engano.

Além de tudo, o universo não adquire sentido apenas porque alguém lhe atribui algum. Suponha que duas pessoas dêem sentidos diferentes ao universo. Quem tem razão? A resposta, é claro, nenhuma das duas. O mundo sem Deus permanece sem sentido em termos objetivos, não importa o que as pessoas pensem. Assim, atribuir um sentido ao universo não passa de um exercício de auto-engano [6].

Mas por que esta discussão sobre o sentido da vida é tão importante? A resposta é que, para ser feliz, o homem necessita de um sentido para sua existência. Por quê? Porque o homem se alimenta de auto-estima. Uma auto-estima baixa pode levar facilmente à depressão e ao suicídio. E dificilmente alguém pode manter elevada sua auto-estima se descobrir que sua vida não tem nenhum propósito.

Assim sendo, se Deus não existe, a vida não tem sentido. E se a vida não tem sentido, o homem que possui consciência desta verdade terá uma séria dificuldade para ser feliz. Portanto, a existência de um Deus amoroso é uma peça importante para a construção da felicidade.

A única solução que um ateu pode oferecer diante do absurdo da vida sem Deus é enfrentar este absurdo e procurar viver com coragem. O filósofo ateu Bertrand Russell, por exemplo, sugeriu que devemos construir nossas vidas “sob o firme fundamento do desespero incessante”:

Que o homem é o produto de causas que não possuíam conhecimento do fim que estavam alcançando; que sua origem, seu crescimento, suas esperanças e crenças, seus amores e temores, não passam do resultado de colisões acidentais de átomos; que nenhum fogo, nenhum heroísmo e nenhuma intensidade de pensamentos e emoções podem preservar uma vida além do túmulo; que todo labor de todas as eras, todas as devoções, toda inspiração, todo brilhantismo do gênio humano estão fadados à destruição na grande morte do sistema solar e que todo o templo das conquistas humanas deve ser inevitavelmente soterrado debaixo dos escombros de um universo em ruínas – todas estas coisas, se não estão além das controvérsias, são quase tão certas que nenhuma filosofia que as rejeite pode ter esperanças de se sustentar. Somente sobre a base destas verdades, somente sobre o firme fundamento do desespero incessante, pode-se construir seguramente, de agora em diante, a habitação da alma.” [7]

Na hipótese de que o ateísmo seja verdadeiro, estamos diante deste quadro terrível sobre a condição humana. Mas se o Cristianismo é verdadeiro, então existe um poder de amor por trás do universo. Um poder pessoal de amor tão grande que todos os homens e mulheres, velhos e crianças são especiais para ele. Ele ama tanto o ser humano que há um significado em cada vida. Ele realmente sabe sobre a queda de todos os pardais e, até mesmo, os cabelos de cada pessoa estão contados.

Por derradeiro, este texto não realizou nenhum esforço para demonstrar a existência de um Criador Divino. Também não houve nenhuma tentativa para se refutar a idéia de que a crença no sobrenatural é uma ilusão. Para se atingir estes objetivos seria necessário um espaço muito maior. Por isso, o propósito deste artigo foi simplesmente o de enunciar as alternativas de forma clara. Se Deus não existe, a vida é um absurdo e o homem deve construir sua existência sobre o “firme fundamento do desespero incessante”, conforme palavras do filósofo ateu Bertrand Russell. Se o Deus cristão existe, todas as pessoas são especiais para ele e possuem valor e significado.

É possível demonstrar racionalmente que o cristianismo é uma cosmovisão mais plausível do que o ateísmo[8]. No entanto, mesmo que as evidências para o ateísmo e para o cristianismo fossem equivalentes, uma pessoa racional deveria escolher o último. Todo ser humano deve buscar a verdade e evitar o erro. Mas, se as evidências que suportam as duas cosmovisões são ambíguas, não parece sensato preferir o desespero e a ausência de sentido do que uma vida com propósitos.


Notas

[1] NOGUEIRA, Salvador. Para onde vamos? Disponível em http://super.abril.com.br/revista/246/materia_revista_261312.shtml?pagina=1

[2] CRAIG, William Lane. A veracidade da fé cristã: uma apologética contemporânea. Tradução Hans Udo Fuchs. São Paulo: Vida Nova, 2004. P. 59.

[3] Ibidem, p. 59.

[4] Ibidem, p. 58.

[5] Idem, A imprescindibilidade de bases meta-éticas teológicas para a moralidade. Disponível em http://www.apologia.com.br/?p=9

[6] Idem, op. cit., p. 64,65.

[7] RUSSELL, Bertrand. A free man´s worship. Disponível AQUI

[8] A pessoa que desejar analisar as evidências em favor da verdade do Cristianismo pode estudar os seguintes livros: CRAIG, William Lane. A veracidade da fé cristã: uma apologética contemporânea. São Paulo: Vida Nova, 2004; GEISLER, Norman; TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu. São Paulo: Editora Vida, 2006; STROBEL, Lee. Em defesa de Cristo. São Paulo: Editora Vida, 2001; Idem, Em defesa da fé. São Paulo: Editora Vida, 2002. Pode-se estudar também os artigos disponíveis no blog Apologia http://www.apologia.com.br

 

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